sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Não digam ao D. Quixote que a menina mais linda é a minha menina!

E depois como é que vai ser? Sim! E depois como vai ser. Como é que depois vai ser, se agora já o é? Chego a casa e pergunto sempre se ela já está, mesmo sabendo que sim, que já está. Chego a casa e pergunto se ela já está, mesmo sabendo que ainda não está . Vou ao escritório pousar pastas e papéis, e, logo que saio, volto a perguntar se ela já está, mesmo sabendo que sim; mesmo sabendo que não. Vou ver o cão, que não se cala enquanto o não for ver, e, logo que entro de novo, pergunto se ela já está. E quantas vezes me vem uma resposta cansada de tanto perguntar por ela! Mas, dali a pouco, eu volto a perguntar por ela. E só termino quando, como que distraído, vou até ao sítio onde ela está; ou, então, só termino quando a sinto na rua a chegar e me levanto pronto para a lhe ir abrir o portão pequeno do jardim, que é por onde ela sempre entra.
E depois como vai ser? Até agora, ela estava sempre, pois quando não estava, estava para vir. Mas, a partir de agora, como é que vai ser?
Ela, a minha menina, a mais linda do mundo, vai a casar. Amanhã. Na minha aldeia, que é a aldeia mais linda. A aldeia dos seus últimos 15 avós paternos. Eu vou levá-la ao altar. Sei que vou chorar. Sei que vou estar feliz.
Mas depois como vai ser? Eu sei que vou continuar a chegar a casa, e que vou continuar a perguntar se ela já está. Ou quando é que vai chegar.
Não sei como é que vai ser. Mas sei que ela vai estar sempre lá: em todos os cantos; no meu coração; e no coração da senhora sua mãe.
Por isso, eu vou continuar a perguntar se ela já está. Ou quando vai chegar.
A minha menina vai a casar.
Não sei como vai ser, mas eu vou continuar a perguntar por ela ao chegar a casa.

Nota 1: Eu disse que a minha menina era a menina mais linda do mundo. Eu tinha que dizer a verdade, não acham? Perdoar-me-ão a sinceridade. Mas, por favor, não digam nada ao meu D. Quixote, não vá ele travar-se de razões comigo por causa daquela sua mania tola sobre a Dulcineia. Nunca fiar com o D. Quixote, não acham?

Nota 2: Este texto não tinha nada que ser escrito aqui. Mas aqui o deixo para mostrar a gratidão, o apreço e a simpatia que nutro por quem teima em visitar-me , mesmo não encontrando nada já há muito tempo. Prometo, porém, que, doravante, vão voltar a encontrar coisas, mesmo que singelas.
Um grande abraço para todos.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Estou vivo e são, a deus graças

Brevemente aqui, uma pequena mensagem. Agora só lhes digo que dei comigo a rir-me. E que não me esqueci deste canto. Por sua causa. Acredite, sim?
Um abraço.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

25 de Abril! Apesar de tudo (2)*

Aquela velha e teimosa senhora chamada utopia
(2ª. PARTE)
Mas o que é que foi ou como é que foi verdadeiramente o 25 de Abril? Que resta dele? O que é que se perdeu e o que é que se ganhou? Como recuperar o seu sentido épico?
O 25 de Abril foi um golpe de Estado, conduzido por oficiais intermédios, os capitães, seguido de uma revolução popular, que os militares não previram nem tiveram condições de conter ou de controlar. Vitoriosos no golpe, os capitães não entregaram o poder aos generais, quebrando desse modo a cadeia de comando, e enfraquecendo drasticamente o poder político-militar, que não mais conseguiu conter os ventos da liberdade, à solta pelas ruas do país.
O povo saltou para a rua, e foi na rua que explodiram todas as tensões acumuladas na sociedade portuguesa, assistindo-se a uma enorme vaga de reivindicações sociais e políticas. Esse movimento popular discutia tudo, e tudo transformava num mar de esperanças, não aceitando outro limite que não fosse o sonho da criação imediata de um céu na terra. O poder politico-militar, esse quase sempre seguia a reboque da acção empreendedora desse povo eufórico.
O povo perdeu o medo, que respeito já não tinha, ao aparelho de repressão política do regime, cercou, assaltou e destruiu a PIDE, a Legião, a Mocidade Portuguesa e a União Nacional. Não pediu licença a ninguém e conquistou, na rua, sem que ninguém lhas tivesse oferecido, as liberdades de associação e de expressão a todos os níveis. E isto é que foi a revolução. Isto é que fez tremer todas as hierarquias instituídas, e ousou mesmo alterar radicalmente a relação de forças existente no plano salarial, das condições de trabalho, da segurança social, da contratação colectiva, das férias pagas, da liberdade de organização sindical, da justiça social, e questionou até a própria apropriação privada dos meios de produção.

O que resta de tudo isto? Sabemos que muitas das conquistas de Abril foram traídas, derrotadas, subvertidas, abandonadas, principalmente com prejuízo, e isto é que dói, do mundo do trabalho, do mundo das preocupações sociais. Em alguns domínios, de recuo em recuo, foi-se perdendo tudo. E em muitos, que viveram esses acontecimentos, e neles participaram de forma activa, surgiu a tristeza, o desencanto, o abandono, a mágoa, o cinismo até. Foram-se embora, e a política ficou mais pobre sem eles. E continua cada vez mais pobre sem eles. E quase ninguém os veio substituir.
Nem tudo foi em vão, porém. Muito do essencial foi-se. Permanece, porém, ainda algo a realçar e a ter em atenção, quer no domínio das liberdades conquistadas, quer no domínio dos direitos sociais (cada vez mais ameaçados) e políticos então alcançados, quer no desenvolvimento alcançado, quer na abertura ao mundo.
Perdeu-se muito do 25 de Abril. E, nos tempos que correm, continua a perder-se muito do que se esperou, muito do que se sonhou, muito do que se conseguiu. Perdeu-se a ousadia, a coragem e a frontalidade; perdeu-se a motivação, a espontaneidade e a sinceridade; perdeu-se a vontade, os sentimentos e as ideias; perdeu-se a paixão; perdeu-se até a esperança e a utopia..
A revolução foi uma paixão, explosão de energias incontroladas e excessivas que nos encheram a alma. Mas, naturalmente, foram-se diluindo na normalização das instituições democráticas. Tudo entrou na normalidade. Tudo ficou normal. E hoje o normal tornou-se tão assepticamente normalzinho que já é incomodativo. Morreu a revolução. Morreu a paixão. Fugiu o sentido épico duma consciência de povo orgulhoso, crente e vivo.
A paixão é sempre breve e tem de morrer, pois a sua beleza excessiva absorve-nos e vira-se contra nós. Mas esse tal sentido épico não. Deveríamos recuperá-lo, por amor á liberdade, à democracia, à participação, à consciência, à responsabilidade individual e colectiva. Sem ele, aproximamo-nos a passos largos do empobrecimento catastrófico de ideias, da diluição dos valores, da política reduzida a uma coutada de profissionais, cujos lugares se pagam ao preço da obediência e do silêncio.
Precisamos de reencontrar esse sentido épico da acção como povo. A política precisa de voltar a ser vivida por todos. Se não com paixão, que não há como a primeira, pelo menos com o amor próprio que dignifica o homem no exercício das responsabilidades que lhe competem como ser. Só assim se evitará este adormecimento castrante e irresponsável e se incentivará a fecundidade e a responsabilidade do livre pensamento, do espírito crítico e da memória crítica, cada vez mais necessários.
Esta seria a melhor forma de honrar o sentido épico que nos vem da história, dos nossos melhores pensadores e do espírito de Abril.
E o que deve dar ânimo a todos os que honradamente se bateram ontem e se batem hoje pela implantação, aprofundamento e dignificação permanente da democracia continua a ser aquela velha e teimosa senhora que se chama utopia, e que dá também pelo nome de liberdade, igualdade, fraternidade, e empenho na construção de um mundo melhor para todos, e com a participação dignificante e consciente de todos.

Só essa velha e teimosa senhora, a utopia, nos pode dar o fogo do ser.
Porque a utopia é a alma de um povo. E um povo sem alma não é povo.

Porque a utopia é a alma do homem. E um homem sem alma é cadáver.


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Notas: Continuação de 25 de Abril! Apesar de tudo, no TempoBreve; ver "notas" na 1ª. parte.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Afinal, a manifestação de Lisboa "assustou" tudo e todos

Já há muito que se sabia que a ministra da Educação tinha deixado de o ser. Ela nunca foi elemento de solução da crise aguda, que teve como vítimas os professores, pois ela mesma quis e provocou acintosamente essa crise. A crise superou-a. E ela, depois de ter sido completamente desautorizada pelos professores, acabou por ser também desautorizada pelo governo, nas pessoas do Primeiro Ministro, José Sócrates, e do Ministro do Trabalho, Vieira da Silva. Com efeito, ao entrarem directamente em cena, embora de forma clandestina, no diálogo com as organizações sindicais, acabaram por reconhecer eles mesmos a incapacidade da ministra para lidar com a situação, para ela insustentável.
Com a assinatura dum documento sem nome, que incorpora o Memorando de Entendimento, e as posições, aparentemente contraditórias, do ministério e dos sindicatos, ela ganhou algum espaço de manobra. Mas, mesmo com esse espaço, e mesmo que o saiba aproveitar bem, ela nunca mais será uma ministra da Educação aceite pelos professores. E, sendo assim, o jogo está mais viciado que nunca. É que não se enterrou o morto. E os cadáveres, quando mais andarem por aí, maior pestilento será o cheiro. Ela será sempre um peso morto germinando desconfiança e turbulência.
Cada um dos sindicatos pode também ter ganho espaço de manobra. Conseguiram sentar-se à mesa com a senhora ministra, e isso parece ser a sua maior conquista. Mas, tendo ganho o lugar à mesa, pelas cedências que fizeram - e as cedências, no essencial, foram em toda a linha -, perderam muito do capital de esperança e de confiança que os professores, muitos deles desconfiados, depuseram em suas mãos. A assinatura daquele documento foi a tábua de salvação da ministra. E foi a vitória do "enquadramento" dos professores unidos por parte dos sindicatos.
Afinal, "ganharam" todos: governo, ministra, sindicatos, partidos. Não houve quem não coantasse vitória, uns de forma mais envergonhada (caso da ministra e até do douto Sócrates) e outros de forma mais "desdentada". Foi um bom negócio para todos. Um negócio e um alívio. Já viram aqules professores à solta, sem estarem devidamente enquadrados, isto é "domesticados"?
Vitória para todos? Não. Por um lado, os professores ficaram mais ou menos na mesma. É que os "ganhos" que os sindicatos avançam, não passam de pequenas migalhas que a ministra já havia concedido, num atropelante dessassossego de quem sabia que já não podia aplicar a "coisa", não na tal forma simplificada. O tempo estava contra ela. Tinha o probema de prazos. E um problema legal a resolver. Mas aí apareceram os sindicatos a dar-lhe a mão. Mas, por outro lado, os professores ganharam. E muito. Ganharam aquela dignidade imensa de concretizarem de forma eficaz o diferito à indignação, na luta pela sua dignidade ameaçada. Enquanto tiveram a luta nas suas mãos, não se deixaram abater; quando entregaram aos "generais" as negociações de paz, aí tiveram um dissabor. Mas tinha que ser assim. Tínham que entregar as negociações aos "generais" que tinham.
Mas as coisas não vão ficar assim. Nunca mais nada ficará como estava antes. Estaremos sempre muito atentos à acção próxima-futura dos sindicatos. E dar-lhes-emos a força que necessitarem, se e quando a merecerem. Mas não vamos aceitar mais as pequeninas vitorias com que eles ficam contentes.
Isto não vai acabar assim. Poderão fazer-nos tudo. Mas não poderão nunca impedir-nos de pensar. E, ao contrário do que diz o Rangel, nós não somos nem carneiros; nem somos carne para canhão.
Hoje há manifestações? Serão para "comemorar" o acordo? Ou se´~ao já parte da luta para Julho de 2009? E durante esse tempo todo?
Ah! Os professores que aguentem mazoquistas o Modelo de Avalição que a senhora ministra tanto preza.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Lembrem-se de Pirro*

Crónica de Santana Castilho, professor do ensino superior, no PÚBLICO, 16.04.2008

É verdade que os sindicatos ganharam uns trocos. Mas o lance era para devolução integral: da dignidade perdida

Comecemos por uma questão semântica: entendimento e acordo são vocábulos sem diferenças, do ponto de vista da significação, que justifiquem o esforço da Plataforma Sindical para os distinguir. Vão a um bom dicionário. No contexto que "aproximou" sindicatos e ministério, são sinónimos. Mas se essa fosse a questão, então capitular dirimia o conflito. E não estou a ser irónico. Voltem a um bom dicionário.
Posto isto, passemos ao que importa. ministério e sindicatos acertaram, concertaram sob determinadas condições. No fim, os sindicatos cantaram vitória. Permitam-me que invoque alguns argumentos para desejar que os sindicatos não voltem a ter outra vitória como esta.
A actuação política deste Governo e desta ministra produziu diplomas (estatuto de carreira, avaliação do desempenho, gestão das escolas e estatuto do aluno) que envergonham aquisições civilizacionais mínimas da nossa sociedade. A rede propagandística que montaram procurou denegrir os professores por forma antes inimaginável. Cortar, vergar, fechar foram desígnios que os obcecaram. Reduziram salários e escravizaram com trabalho inútil. Burocratizaram criminosamente. Secaram o interior, fechando escolas aos milhares. Manipularam estatísticas. Abandalharam o ensino com a ânsia de diminuir o insucesso. Chamaram profissional a uma espécie de ensino cuja missão é reter na escola, a qualquer preço, os jovens que a abandonavam precocemente. Contrataram crianças para promover produtos inúteis. Aliciaram pais com a mistificação da escola a tempo inteiro ( que sociedade é esta em que os pais não têm tempo para estar com os filhos? Em que crianças passam 39 horas por semana encerradas numa escola e se aponta como progresso reproduzir o esquema no secundário, mas elevando a fasquia para as 50 horas?). Foram desumanos com professores nas vascas da morte e usaram e deitaram fora milhares de professores doentes (depois de garantir no Parlamento que não o fariam). Promoveram a maior iniquidade de que guardo recordação com o deplorável concurso de titulares. Enganaram miseravelmente os jovens candidatos a professores e avacalharam as instituições de ensino superior com a prova de acesso à profissão. Perseguiram. Chamaram a polícia. Incitaram e premiaram a bufaria. Desrespeitaram impunemente a lei que eles próprios produziram. Driblaram as leis fundamentais do país. Com grande despudor político, passaram sem mossa por sucessivas condenações em tribunais. Fizeram da imposição norma e desrespeitaram continuadamente a negociação sindical. Reduziram a metade os gastos com a Educação, por referência ao PIB. No que era essencial, no que aumentaria a qualidade do ensino, não tocaram, a não ser, uma vez mais, para cortar e diminuir a exigência e castrar o que faz pensar e questionar.
A questão que se põe é esta: por que razão esta gente, que tanto mal tem feito ao país e à Escola, que odeia os professores, que espezinhou qualquer discussão ou concertação séria, que sempre permaneceu irredutível na sua arrogância de quero, posso e mando, de repente, decidiu "aproximar-se" dos sindicatos? A resposta é evidente: porque os 100.000 professores na rua, a 8 de Março, provocaram danos. Porque a campanha eleitoral começou a reparar os estragos para garantir mais quatro anos.
O tempo e a oportunidade política da plataforma sindical aconselhava uma firmeza que claudicou. Porque quem estava em posição de impor contemporizou. Porque de um dia para o outro se esqueceram as exigências da véspera. Porque quem demandou a lei em tribunal pactuou com uma farsa legal. Porque quem acusou de chantagem acabou a negociar com o chantagista. Porque quem teve nos braços uma unidade de professores nunca vista pensou pouco sobre os riscos de a pôr em causa.
É verdade que os sindicatos ganharam uns trocos. Mas o lance não era para trocos. Era para devolução integral: da dignidade perdida.
Aqui chegados, permitam-me a achega: pior que isto é não serem capazes de superar isto. E lembrem-se de Pirro, quando agradeceu a felicitação pela vitória: " Mais uma vitória como esta e estou perdido".
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Notas:
1 - Já devem ter lido este texto, mas, se não leram, devem lê-lo; subscrevo-o inteiramente;
2 - A verdade é dura de roer; por isso, os que estão preocupados com o Mário Nogueira, estão a atacar este artigo e o seu autor: uns com mais argúcia e com alguns argumentos, que até são de respeitar, outros com menos argúcia e com argumentos forçados; outros sem argúcia nenhuma, e com frases e nomes de propaganda antiga que atentam contra o pensamento;
3 - A verdade é que o acordo foi feito muito à pressa, para o texto sair num fim de semana, com os professores fora da escola, em cima da hora dos Plenários anunciados, e para ser logo"aprovado" às 8h30, de terça-feira passada, não dando tempo para reunir e discutir um acordo tão vazio;
4 - É que se não fosse assim, muito pouca gente, ou ninguém, ia aprovar aquela coisa; imaginem que tínhamos três ou quatro dias para pensar! Quem é que o ia aprovar? Os tais 90%? Eu não acredito nisso.
5 - O Mário Nogueira usou os mesmos truques que a ministra da Educação: textos em cima da hora, e a correr; argumentação com estatísticas, sem que se saiba o valor que têm; insultar os professores discordantes.
6 - Nós vamos continuar. Não precisamos de líderes que se embebeçam e verguem, só porque ficam muito "inchados" porque a ministra os "recebeu". Sabemos que não foi por isso; mas esse é o seu primeiro argumento.
7 - Vamos ver outros caminhos. E, apesar do Mário Nogueira, vamos manter-nos unidos.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Porque era previsível, não nos sentimos traídos

Os professores não foram vencidos. Os professores não serão vencidos. Perdemos o Mário Nogueira. Mas não virá mal ao mundo por isso. Era previsível, mas teve que deixar-se acontecer numa atitude pedagógica para todos verem.
Ele é um fraco líder fracote. E um líder fraco torna fraca a forte gente - que me perdoe o Camões por citá-lo assim de cor. Podemos bem continuar sem ele. Noutro ritmo. Noutras formas. Continuaremos a não hostilizar os sindicatos.
Eu ontem ainda escrevi que não deviam ser verdadeiras as declarações que lhe eram atribuídas. Mas foi só para esperar pela confirmação de hoje nos jornais e na conferência de imprensa. Agora está tudo claro. Temos que contar connosco.
Não foi por acaso que a Moção e o Memorando apareceram nos últimos momentos. Foi para que não houvesse tempo de os ver e analisar. As mil escolas onde ele diz que o texto foi discutido, são um número manipulado. Deve ter contado tudo. Como naquelas eleições onde até os mortos votam.
Não estou contra quem aprovou os textos. Mas cada um em cada escola é que sabe como essa aprovação foi feita. As escolas que os rejeitaram essas tiveram mesmo que discuti-los. Mas isto não interessa agora, que o contar de espingardas nunca é uma boa solução.
Os protestos que ele só agora volta a dizer que mantém, esses vão ser já outra coisa. Voltarei a este assunto, que agora vou para mais uma reunião, onde vai haver gente muito contente, que sempre esteve contra nós, mas que está contente com o "acordo", que, afinal, é "entendimento", num joguinho de palavras a pensar que somos parvos.
A ministra também pensava assim. E também fazia sair textos a correr para não termos tempo de respirar para os ler.
Desanimado?
Qual quê?
Então!
Isto era previsível.
Vamos continuar. Como? Veremos. É preciso estar atento. E não adorar "macacadas", estejam elas onde estiverem.
Não somos adoradores de monos, sejam sagrados ou não.
Parabéns à senhora ministra. Não vergou os professores, mas vergou o grande líder.
:-)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Pela unidade! Viva a democracia!

A PROPÓSITO DO DEBATE NA ESCOLA SECUNDÁRIA D. MARIA II
BRAGA
1.
Escrevi esta madrugada, no texto em baixo, que hoje, no plenário da minha escola, diria não ao "acordo / entendimento" entre a Plataforma dos Sindicatos e o Ministério, por não me rever nele, por achar que não foi por causa dos seus pressupostos curtos que lutámos tanto, que discutimos tanto, que enfrentámos tantos, que incomodámos tantos.
Desejei, no fim desse texto, que ninguém concordasse comigo, que ninguém me ouvisse, para eu ficar isolado e só, e, assim, de consciência tranquila, regressar ao sossego do meu canto. Mas confesso agora que não era só desejo. Era também a quase certeza de que assim seria.
2.
Dois sindicalistas, de sindicatos diferentes, haviam-me solicitado, vários dias antes do "entendimento / acordo", que presidisse ao plenário. A solicitação ganhou o peso duma obrigação, quando colegas da escola, principalmente os sindicalizados, me abordaram com o mesmo fim. E lá teve que ser.
3.
Abri o pasta que um sindicalista me havia dado com vários papéis. Só aproveitei as folhas de presença. É que a "Moção" só me chegou ontem, e o texto do "Memorando" mandaram-mo por mail, e esses dois textos levava-os eu na mão.
Comecei por dizer do meu desconforto pelo facto de eu já ter uma posição tomada acerca da "Moção" e do "Memorando", e estar ali a presidir ao plenário. Ninguém me ligou. Ainda sugeri ler a Moção e que a votassem logo, pois estava convencido que todos a iam aprovar. Disseram que não. Que lesse o "Memorando". E eu li. Tentei ser isento, mas não sei se consegui, principalmente pelas inflexões de voz.
Acabada a leitura, começou a discussão. Falava-se nos pontos do "Memorando" mas logo se avançava para o que mais interessava. E o que mais interessava era a revisão urgente do Estatuto da Carreira Docente; o anulamento do famoso concurso injusto e ilógico para "titular"; a exigência de um modelo que Gestão Escolar que não ofenda a democracia; a rejeição do iníquo Modelo de Avaliação em vigor, e não a sua aplicação "suave" durante dois meses, "legitimando" a sua aplicação integral já no próximo ano, a ver no que dá.
Davam-se testemunhos, avançavam-se exemplos, punham-se dúvidas, pediam-se esclarecimentos. Todos queriam falar. E todos falaram. Principalmente porque uma colega teve a perspicácia de vir de mansinho para junto de mim, anotando as inscrições que eu respeitava. Eu bem me inscrevia, mas sempre que a minha vez chegava, eu passava à frente, que o que eu queria dizer estava a ser dito de forma melhorada pelos meus colegas, quer concordando, quer discordando. Para quê estragar o que estava bem?
Eu só impedia diálogos directos quando desnecessários por não acrescentarem nada. E "obrigava" a que deixassem cada colega dizer o que queria, mas interrompendo-o, perguntando-lhe se já tinha dito tudo, que era como quem diz, para não divagar, para não repetir.
Já quase no fim também falei eu. Fiz uma síntese, acrescentando qualquer coisa, mais na forma de dizer que no conteúdo, que este estava claro.
O plenário foi muito vivo. Foi muito útil. Foi bom. é tão bom exercitar a discussão democrática. Foram três horas que passaram num instante.
4.
Mas a Moção? Ah! Ah, Moção! E o "Memorando"? Ah! O Memorando. Havia-se discutido tudo o que estava nesses documentos. Naturalmente. Sem ter que se lembrar os tópicos que tinham.
Voltei a ler a Moção, e votou-se assim: 26 contra, e duas abstenções; voltei a ler o Memorando do "acordo / entendimento", e votou-se assim: 26 contra, e três a favor.
Assinaram as folhas de presença 35 professores (1/3 dos professores da escola). Mas estiveram lá bem mais que esses. Muitos não assinaram porque não tinham aulas, e não tinham que justificar faltas. Outros entravam e saiam à medida que tinham que ir para as aulas, ou que acabavam de as dar. Mas, na altura da votação, o número exacto é o número apontado. Poderá parecer pouca gente, mas não é, dadas as circunstâncias (uns professores não acreditam no acordo, mas deram-no como um facto consumado; outros professores não quiseram faltar às aulas, o que seria o meu caso, não fosse o meu dia livre - via o luxo (Ai, se a ministra sabe!).
5.
Registei com satisfação a participação de três professores contratados. E, um deles, fez uma intervenção muito sensata e útil, assumindo frontal e claramente aquilo que estava a dizer. Votaram os três contra a Moção e contra o "Acordo / entendimento". Deram-nos uma lição. O que é preciso é gente assim. E eles sabem que nós nunca os deixaremos sós.
6. Como disse no princípio eu pensava que só eu é que estava contra aquele "entendimento"; fui um parvo; a minha escola também estava. No fim do plenário pus-me a pensar que seríamos a única escola a rejeitar a Moção e também o Memorando; fui um parvo novamente - há várias dezenas de escolas que fizeram exactamente o mesmo.
Respeitamos a opinião de quem aprovou a Moção e o Memorando, mas também exigimos respeito pela posição que assumimos, depois de três horas de debate a sério. A sério e democrático.
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Nota:
Não aprovamos texto redigido para o efeito; estávamos de acordo no que tentei referir no ponto 3; e deixo este texto aqui como prova da verdade, pois sei que quem esteve no plenário vai ler; e eu tenho vergonha na cara.

O acordo / entendimento foi a tábua de salvação da ministra

Lamento imenso, mas também digo não ao acordo.Isto é, ao entendimento. Quero dizer, que a semântica é traiçoeira, "acordo / entendimento", ou "entendimento /acordo". E quero dizê-lo aqui. Aqui e agora, acabadinho de chegar da manifestação de Braga, que ajudei a mobilizar, de que gostei, e de que dei nota no TempoBreve.
Já sei que me vão perguntar: e que alternativa propões? E então perguntarei eu: por que não perguntaram isso antes desse tal entendimento?Eu escrevi sobre a chantagem que fizeram com os professores contratados. Disse até que a ministra os tinha tomado como reféns. Mas agora estou a ver que eles também servem como uma espécie de "escudo" contra quem diverge do "acordo", isto é, do "entendimento". Ele nós andamos estes anos todos a protestar e a enfrentar os "mandaretes"; ele nós passamos todos este ano desgraçado e para esquecer, para agora abanarmos o rabo de contentes com a "suspensão" por dois meses da "versão completa e integral", aceitando a "versão mais reduzida" em jeito de faz-de-conta? E logo quando a ministra estava num beco sem saída?
Outra coisa: eu não admito que me mandem actas feitas para eu assinar no fim assim sem mais esta ou aquela. Refiro-me à "Moção" da plataforma, que simpaticamente me enviaram para se "aprovar" no plenário. Podiam mandar um guião com ideias principais. Mas uma "Acta já feita?" Ele nós não sabemos o que nos fez indignar?
Ele faz algum sentido dizer cobras e lagartos - aliás, com toda a justiça - e depois aceitar pacificamente, porque os sindicatos assim acharam, que ele se aplique um ano inteiro aquele modelo de avaliação ofensivo? Não vêem que aceitar isso é perder a força negocial que os professores mobilizados lhes davam? E não vêem que aceitar isso significa "engolir" por muito tempo tudo o resto? E depois, os sindicatos, prometem ouvir os professores acerca de sugestões, e até sobre formas de luta contra esse tal modelo, depois de o consentirem, depois de o assinarem?
Aceitar este acordo / entendimento, ou seja lá o que isso é, é "confessar" que, coitados, tínhamos era mesmo medo da avaliação. E que ficamos muito contentes por não a fazermos este ano. E que ficamos muito contentes, pois os sindicatos dizem que sim, que em Julho de 2009, vão negociar outro "entendimento".
Claro que há coisas positivas nesse "acordo / entendimento". Mas será que foram essas coisas que nos causaram tanta indignação? Claro que não! São rebuçados que se dão a rato tonto para melhor o apanhar.
Lamento muito. Mas amanhã vou dizer que não me revejo neste acordo. Não era por uma coisa assim que eu ia lutar tanto, discutir tanto, enfrentar tanta gente, incomodar tanta gente.
Oxalá não concordem comigo. Oxalá ninguém me ouça. Assim ficarei de consciência tranquila e sossegado no meu canto.
É evidente que esta minha posição não implica que não reconheça sinceridade e força e coragem e admiração por muita gente que conheci neste processo, e que está de acordo com este "acordo". Continuarei a respeitá-los e a seguir aquilo que dizem. Poderei até intervir, concordando ou discordando, se vir que não incomodo.
Um abraço.
Até breve.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

É a pronúncia do Norte / Esta voz que sai mais forte!

Cabe-nos a nós, cá no norte, fazermos as primeiras concentrações. Não vai ser fácil. Mas haja esperança. Não há que hesitar; há que marcar presença. Ninguém é substituível nesta matéria.
Sendo assim, vemo-nos em:


Vila Real - Praça do Município, às19h00

Porto - Praça da Liberdade, às 19h30

Braga - Av. Central, às 21h00
Bragança - Pc Cavaleiro Ferreira, às 21h00
Viana do Castelo - Praça da República, às 21h00

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Andará a loucura à solta?*

Deixo-os aqui com O Alienista, de Machado de Assis (1839 - 1908). Tenham cuidado. A sua morte foi anunciada. Mas nunca fiar. Ele pode apenas estar a experimentar uma nova teoria sobre a loucura. Acautelem-se, pois!
Já há tempos que queria pôr este livro aqui. E até falar dele. Fui adiando. Hoje decidi-me. Ele aqui está. Mas não vou falar dele. Se o ler verá que não é necessário. Ele fala por si. E se já o leu, faça como eu: leia-o outra vez, e outra, e outra.
Como é por de mais sabido, o Machado de Assis é brasileiro, de pai português e de mãe mulata. Sobejamente sabido é também o facto de ele ser um dos primeiríssimos entre os primeiríssimos autores da Literatura de Língua Portuguesa. Disse bem: Literatura de Língua Portuguesa. Não me enganei.
Sei que há quem sustente aquela ideia peregrina de que o falar português à moda do Brasil é já outra língua. Ou, se não é, que virá a ser. Há quem sustente o mesmo com o falar inglês à moda dos Estados Unidos da América do Norte. Os argumentos também são os mesmos. Mas não têm razão.
Os peregrinos dessa tal ideia dão-nos argumentos empolados de grandes roupagens. Mas, quando despidos, não têm peso bastante. Eu compreendo-os. Baseiam-se muito em estatísticas de espaço e de gente; baseiam-se também muito na sua própria vontade, cuja grandeza é inversamente proporcional ao peso dos argumentos que apontam. Mas as estatísticas voluntariosas, regra geral, são enganosas; dão-nos aquilo que já sabemos e queremos provar; ou o seu contrário, caso mudemos de ideias. São muitas vezes um verdadeiro absurdo, uma arbitrariedade, uma caricatura. São como aqueles referendos, cujo resultado não está tanto no voto, mas está muito mais no modo de perguntar.
E onde é que entra aqui O Alienista? Não entra. Mas eu faço-o entrar. Porquê? Porque quero, e porque a sua actualidade mo permite; mas, da actualidade poder-se-á falar depois. Então, não foram forçadas as considerações acerca daquela coisa das "línguas" e dos "argumentos"? Claro que foram. Mas eu avisei, lá em cima, no segundo parágrafo que não ia falar do livro. A culpa foi sua, que não acreditou. Você não tem vergonha? Não pode ao menos apontar duas razões para a sua demagogia? Ora aqui vão elas: primeiro, o Machado de Assis é brasileiro, mas escreveu o livro em português; segundo, o protagonista d' O Alienista é um homem de ciência, e também usa a estatística.
Para terminar, que isto vai longo, volto ao princípio, que é o essencial: acautele-se, que anda a loucura à solta; e leia O Alienista, que isso é que importa.
..........
*Notas:
1 - Este texto foi deixado aqui nas Peles a 7 de Novembro de 2007; volto a deixá-lo aqui, pois, agora, juntam-se duas razões próximas à sua permanente actualidade: a loucura anda decididamente à solta no meu país; e o Acordo Ortográfico;
2 - Lembrei-me de fazer pequenas alterações para melhorar o texto, adequando-o mais a estas razões últimas; mas não as fiz: assim nasceu, assim ficará;
3 - Se tiver curiosidade, e relacionados com este, pode ler os textos Amazona e Guerreira ( publicado nas Peles a 9 de Novembro de 2007 ), e O Alienista - enredo (publicado no TempoBreve, também a 9 de Novembro de 2007).

quarta-feira, 9 de abril de 2008

terça-feira, 8 de abril de 2008

Senhor Presidente da República, queremos ouvir-lhe a voz

1.
Por mais sondagens que apareçam e se publicitem, a verdade é que a ministra da Educação está cada vez mais isolada social e politicamente
. Muitos dos seus defensores oficiosos já zarparam para longe dos seus postos de ataque aos professores. Outros tentam encontrar alguns argumentos laterais, quase inofensivos, pois não contavam com a reacção argumentativa e informativa dos professores. Só mesmo os que estão de todo em todo fora da realidade, ou têm interesses directos na defesa deste governo é que continuam abespinhados num voluntarismo tarefeiro de mostrar serviço, para fazerem currículo, a ver se são nomeados ou promovidos.
Tão isolada está a ministra e os seus secretários, e outras entidades pardas e militantes , que nem eles próprios ensaiam já qualquer discurso que possa parecer argumento, mesmo em forma de arremedo.
2.
Ao discurso arrogante e farfalhudo de ataque aos professores, visando a sua humilhação e a sua desconsideração pública, seguiu-se um papagueio de frases sempre iguais, a ensaiar boa-fé, a ensaiar humildade, a dizer que tinha que ser, que até compreendiam os professores, que a mudança gera sempre desconforto, mas que iam explicar, sempre muito pacientes, como se os professores fossem lentos como eles.
Como estas frases, de ocas e inconsistentes, não resultaram, passaram a uma fase de quase silêncio público, e encetaram uma guerra de guerrilha, correndo devotamente o país em peregrinações, “secretas” e fundamentalistas, pressionando e ameaçando os seus interlocutores de sempre – os Conselhos Executivos, nomeadamente os seus presidentes.
Não conseguiram grande coisa, que, na sua grande maioria, os Conselhos Executivos já perceberam que foram usados, enganados e abusados. E também já perceberam, mesmo os mais obedientes, que estão isolados nas escolas, e que as escolas se transformaram num inferno que já os atinge também, mesmo quando não se ouvem chamas.
3.
Que fizeram eles então, a ministra “ajudante” e os seus “ajudantes” menores? Pararam para pensar? Não. Não o conseguem fazer. Pararam para negociar com os professores? Não. Que não o sabem fazer. Demitiram-se, como lhes mandaria a dignidade? Não. Que já a perderam toda inteira.
Que fizeram, pois, então? Abeiraram-se sem pudor dum precipício perigoso. Recorreram abertamente à ameaça. Recorreram ao terrorismo. Lançaram as suas garras ao pequeno grupo de professores que está em posição mais frágil e “apossaram-se” deles para exigirem resgate. Tomaram como reféns os professores contratados e os que têm as carreiras congeladas há dois anos. E o resgate que exigem é que os outros professores, a imensa maioria, abdique de exigir a suspensão deste modelo iníquo de avaliação a fingir, vestida duma hipocrisia imensa.
E que é que uma família faz quando um grupo “terrorista” toma de “assalto” um dos seus como refém, exactamente o mais frágil?
A sua hipocrisia terrorista e chantagista é tal que querem dar a entender que a responsabilidade política e moral pelos danos que causarem aos seus “reféns” será só nossa, se não “pagarmos” o resgate.
Isto é intolerável. Isto é jogo muito baixo. Isto é truque ilegítimo. Mas terão agências de consultoria e imagem a travestir isto de coragem. E a comunicação social irá ajudar. Como sempre.
4.
Eles estão quase a conseguir destruir a escola como um corpo funcional. Já fracturaram os professores com a aberração dos titulares; já criaram outras fracturas entre os órgãos democráticos das escolas e os outros professores; agora estão a tentar fracturar-nos em pequenos grupos, isolando-nos uns dos outros.
São assim os arrogantes sem razão; são assim os medíocres que não acreditam em si próprios; são assim os impotentes incapazes de usarem argumentos sérios; são assim os prepotentes; são assim os fundamentalistas fanáticos.
Eles atropelaram toda a ética. Eles praticaram e praticam todo o assédio moral contra os professores. Eles atropelaram a lei. Eles fizeram tábua rasa de toda a lógica legal.
Esta gente já não é má. Já não é incompetente. Esta gente precisa de um acompanhamento especial, a ver se ainda vão a tempo de virem a ser pessoas mais ou menos normais.
Pode ser que a maioria absoluta no-los imponha; mas isso não lhes dá razão. Pode ser que o sistema legal os proteja; mas isso fará com que o sistema legal não seja justo.
Esta gente tem um problema qualquer.
Os professores têm respondido. E continuarão a responder. Mas os professores, pela formação que têm, não podem responder com "terrorismo" ao "terrorismo" destes senhores.
Alguém tem que olhar com olhos de olhar para o que está a acontecer. Alguém tem que os parar.
O Senhor Presidente da República está de certeza bem informado. De certeza que não quer ir assistir ao funeral da Educação Pública.
Não pode continuar calado.
Queremos ouvir-lhe a voz.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O professor e o pai

Fui tentado muitas vezes a referir-me às origens e à infância de Maria de Lurdes Rodrigues. Tenho informações seguras sobre isso desde que ela “chegou” a Ministra. Nunca o fiz. E acho que nunca o faria.
Há muita gente que passou por situações semelhantes e não silencia essa situação.Mas agora está “tudo” na revista “Sábado”, de hoje. Quem quiser que tire as suas conclusões.
Eu só quero acrescentar que dei aulas durante três anos a licenciados chineses. Acho que eles gostaram de mim e fizeram questão de me dizer e repetir que, na China, um professor era tido como um pai. Às vezes um pai mais importante que o seu verdadeiro pai.Claro que isso era na China. Eu também digo isso aos meus alunos, mas é a brincar.
É claro que essa referência paternal que o professor pode ser, também aqui em Portugal, pode sê-lo para o bem ou para o mal.Não estou a referir-me especificamente aos professores que a ministra teve. Estou a referir-me mais concretamente à maneira como ela trata os professores do meu país.
Será a figura do pai que ela vê nos professores que maltrata, figura que quer castigar?Há outras considerações acerca de quem começa pelo Curso Comercial ( ou algo parecido). Também há quem se honre disso, e com razão, avançando mais na sua formação. Mas também há aqueles que avançam com “muito esforço e vontade” e fiquem eternamente ressentidos e se sintam injustiçados por terem sido sujeitos a situações que outros não foram. E, depois, quando lhes dão oportunidade, não conseguem esquecer isso, e toca de se afirmarem, seja de que maneira for, vingando-se, duma forma justiceira e cega , mostrando bem que a sua formação é muito, muito lacunar.
Leiam o artigo e meditem. Não sejam maus na leitura. Mas leiam que vale a pena.
E não deixa de ser interessante que a senhora ministra não tenha querido dar nenhuma informação para esta reportagem.
Há coisas que marcam a vida. Para o bem. E para o mal.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Comentários imerecidos, mas que me dão força e envaidecem, e que atiro com desprezo à cara da mediocridade

1.
Adriana Carneiro disse...

Hoje recebi um email de um amigo e antigo colega de liceu intitulado “Eis o grande Mota na manif”. Acho que só no momento em que vi aquela imagem é que me dei conta que toda esta polémica que envove os professores e o ministério da educação atingia também o meu Professor de Português. Senti-me envergonhada por não me ter apercebido do óbvio, mas aos poucos fui entendendo porquê. Existem pessoas que surgem na nossa vida e que a marcam de tal forma que para nós se tornam sempre mais, como o meu Professor nos dizia em tom de chacota “mais que vosso Professor sou vosso Pai espiritual”, e não é que à distancia de mais de uma década posso dizer que é mesmo! Deixo-lhe um abraço e a lembrança: Quem faz um filho fá-lo por gosto!!
Adriana Carneiro (1994-1997)

2.
TempoBreve disse...

Caríssima Adriana!
Isto não se faz. Eu sei que sou um pouco aquilo que dizes que sou, e que o teu colega te disse que eu sou. Mas não o posso dizer. E ter consciência disso, é trágico. Mas eu tenho orgulho. Estou de lágrimas correndo, molhando-me as barbas. Quem será o teu colega? Onde é que ele viu a fotografia?
Não estou a ver a tua cara. Só o nome. Tu deves saber que eu só vos conhecia pelo primeiro nome. Até vos mandava sublinhar o nome por que queríeis que vos tratasse. Não consegues imaginar a alegria que me deste. Eu não sou de desistir. Eu adoro os meus alunos. Sem excepção. Mesmo os que me deram mais trabalho. Sou assim. Hei-de morrer assim. E não há nenhum "filho da puta" que me faça desistir de ser o professor que sempre fui, e de gostar dos meus alunos como sempre eu gostei, mas sem que isso signifique que não deixe de resmungar, que não deixe de fazer um carinho, que nunca deixe de os incentivar, ora a bem, ora a mal, para que se tornem gente , e aprendam a pensar.E o melhor é parar aqui.
Se eu, como professor, deixei em ti marca positiva, isso é o que mais me interessa. Não há dinheiro que pague o favor que me fizeste. Até sempre. Eu sou, e serei sempre o professor que em mim viste, mesmo que eu não mereça uma tal distinção.
Vai um abraço?

3.
Adriana Carneiro disse...

Boa Noite, Professor:)
É natural que não se lembre de mim pelo nome: tantas caras, tantos nomes. Vou tentar ajudar. Quem viu a fotografia foi o Sérgio (tinha uma letra péssima que se mantém até hoje apesar das mais que muitas investidas do professor:)).
Não foi só em mim que o professor deixou marcas, mas também no Rui Moreira, no Sérgio, na Gabriela, no Hugo...
O Professor ajudou-me a criar a minha caligrafia, dizendo sempre que ela representava uma parte daquilo que eu era e que certamente eu não queria ser "aquilo".
Força do acaso conheci há tempos o seu filho, com quem partilhei algumas lembranças muito especiais dos momentos passados nas aulas do Professor. Julgo que também ele tentou descrever me, infelizmente sem resultado.
Quando terminei o liceu fui estudar para o Algarve e depois para Coimbra. Formei-me em Turismo.
Bem espero ter agora não só um nome, mas também um rosto. Se assim não for, também não importa, porque mesmo não sabendo quem sou, saberei sempre quem você é.

4.
Isabel Fidalgo disse...

António Mota,

Tu é que devias ter ido aos "Prós e Contras", amigo.Não houve gente à altura, à excepção da professora Isabel que representou muito bem a classe sem papas na língua, e com uma forma de estar e de dizer bem engraçada.
Precisa-se de gente culta e gente que saiba falar, duas qualidades que tu conjugas admiravelmente.Tu és grande, caramba, na altura, na convicção, na determinação.
Fico orgulhosa por ver testemunhos de alunos teus aqui no blogue. Outro dia uma mãe também me disse-O meu filho adora o Mota, o Mota enche-lhe as medidas.
Aqui vai um abraço com muita admiração.

5.
José Coimbra disse...

Caríssimo António,

Ser professor é mesmo isso. E mais não digo.

...............
Nota: Os elogios não são merecidos. São exagerados. Mas fazem bem. Por vaidade os ponho aqui. Por vaidade que assumo, e que de vez em quando mereço. E digo isto por não temer confrontar o meu "currículo", os meus conhecimentos científicos, a minha prática pedagógica, a minha capacidade de intervenção cívica e social com "pseudo projectos de candidatozinhos a avaliadorzinhos acríticos e seguidistas, à espera de nomeaçõezinhas", que doutro modo não chegam lá. Mas mesmo que cheguem, serão sempre "cães de fila" e nunca pensadores autónomos em busca de soluções eficazes para problemas que são difíceis.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Prós e Contras. Hoje. Não perca

Hoje, o Paulo Guinote, d' A Educação do meu Umbigo" vai estar no "Prós e Contras".
A não perder.
Pode assistir ao programa na televisão, ao mesmo tempo que pode sequir os comentários em directo em "A Educação do meu Umbigo" - "educar.worpress.com"
Força, Paulo.
Há um exército de esperança atrás de ti.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Não esquecer o essencial: a violência do governo tem sido a violência maior

1. Comunicação social volátil à procura de audiência

E, de repente, as questões mais visíveis do conflito que opõe professores e Ministério da Educação existente professores foram postas de lado pela comunicação social: ou não falam já nesses assuntos (a aberrante e arbitrária invenção dos “titulares”, o irracional modelo de avaliação, o tal novo projecto de gestão escolar para “gerar lideranças fortes”), ou dão-lhe um relevo diminuto. Agora, os principais órgãos de comunicação social assestaram todas as suas baterias no tema da “violência” nas escolas. Aquele vídeo da Carolina Michaelis, de tão chocante que é, foi uma bênção para eles, pelas horas e horas a fio de comentários e de repetição das mesmas imagens. Toda a gente tem opinião. Mas nem toda a opinião é inocente. E esta derivação pode ser boa também para a ministra, se não estivermos atentos, pois desvia a atenção do essencial.

2. A "Quadratura do Círculo"

Ontem, na "Quadratura do Círculo", falou-se inevitavelmente do vídeo e da violência. Mas falou-se de uma forma muito genérica. Tão genérica que até pareceu banal. Teve o mérito ao menos de aflorar algumas ideias em que em que o Jorge Coelho e o Pacheco Pereira estão ambos de acordo:

- Os professores não participam casos de violência porque não acreditam no sistema, acreditando, isso sim, que isto, na situação actual, lhes poderia ainda acrescer os problemas;
- Há uma tendência para silenciar os factos, um silêncio cúmplice, também para não criar problemas à escola, à própria polícia, à progressão na carreira;
- A participação dos pais nas escolas é muito reduzida e duvida-se do grau da sua representatividade;
- É necessário mudar o sistema de gestão democrático das escolas, mas não se referiram ao novo sistema que a ministra propõe. Será que concordam com ele?

O Jorge Coelho atirou, como costuma, com os casos da sua vida. Evocou, como sempre faz, os muitos amigos que tem. Esforçou-se por vincar a ideia de que a culpa não deveria ser assacada a este ou àquele, fazendo uma afirmação “inovadora” que a culpa era de todos: pais, professores, polícia, escola, autarquia. Generalizou de tal maneira, que a culpa é de todos, e, sendo de todos, acaba por não ser de ninguém. Só se esqueceu de referir o “incentivo” importante que a “política educativa” da sua ministra tem dado à desautorização dos professores e da escola, potenciando estes casos de desrespeito e violência. Mas não se esqueceu de louvar a actuação “não demagógica” do governo nesta matéria. Certamente não ouviu aquele “diálogo” surreal entre jornalista e ministra, em que a senhora sociólogo comparava o Estatuto do Aluno ao Código da Estrada.

O Pacheco Pereira acusou a comunicação social de banalizar a situação de tanto repetir as imagens do vídeo. É uma questão em que bate sempre, umas vezes com razão, mas outras vezes sem ela. Isto quanto ao que eu penso. E eu penso que estas imagens, mesmo muito repetidas, têm sido muito úteis, não estão banalizadas, e, diluído o choque emocional das primeiras vezes que se vêem, ajudam a racionalizar mais o problema que traduzem. Eu acho que têm sido muito úteis. Pelo menos até agora.
Ao contrário do Jorge Coelho, disse que a ministra lidou mal com as imagens e o problema da violência, mas limitou-se apenas a dizer que a sua reacção "foi frouxa". Criticou o “psicologismo” como norma universal reinante mo Ministério da educação, que leva o professor a ter que cativar os alunos, ater que motivar os alunos, a seduzir os alunos, partindo sempre da máxima do aluno como “bom selvagem” que tem levado aos resultados que se vêem. E nesta questão do “eduquês”, culpou também os sindicatos.
Terminou por afirmar que “reconhecer o problema” da violência deveria ser o primeiro passo que o ME devia dar. E que devia também passar a ideia de que não se devem “punir” os professores por participarem factos de indisciplina e desrespeito. Não sei se ele sabia que ao dizer estas coisas estava a criticar o Estatudo do Aluno ( um monstro, como diz Daniel Sampaio, finalmente “convertido”), e que estava também a criticar o modelo de avaliação dos professores, nos moldes em que ele está feito. E foi bom ele dizer isto. Mas disse-o de forma tão genérica, e quase displicente, que até parecia que estava a fazer um favor.

3 - Conclusão

A “Quadratura” foi frouxa. Não aprofundaram nada. O Jorge Coelho fez o que sempre faz, e como o sabe fazer. Mas até que lá foi concordando com o Pacheco Pereira. Ao Pacheco Pereira exigia-se mais. Ele não pode ficar por afirmações tão genéricas, mesmo que sejam de respeitar, e até de concordar. Ele, principalmente ele, não pode ir para ali dizer "umas coisas" sobre a Educação, assim a modos de "despachar" o assunto.
Hoje tem sido um desfilar de debates, de entrevistas e de registos de opiniões várias. E novamente se nota a ausência dos professores, a falarem com a voz de professores. Alguns comentadores são sinceros. Outros, não. Mas os professores deveriam estar lá, através das estruturas que os representam, ou individualmente.
Na maior parte dos casos, os intervenientes falam de forma muito genérica; falam como podem, mas nota-se que não estão bem conscientes da realidade que se vive nas escolas, e esquecem sistematicamente o conflito que existe entre ministra e professores. Não referem a paralização que está a invadir as escolas, com coordenadores a pedirem demissão, com Conselhos Pedagógicos a pedirem demissão, com Conselhos Executivos a pedirem demissão.
Não podemos consentir que a discussão agora se limite à violência em geral, e daquele vídeo em particular.
Não podemos esquecer o essencial: o modelo de avaliação, o concurso para titulares, o novo projecto da gestão escolar.

O esquecimento, ou o “arrefecimento” poderia ser fatal. E não esquecer também o desrespeito e a violência que este governo tem sistemáticamente atirado sobre nós. O resto são pormenores dessa violência maior, que tem sido a do governo.
……….
Nota: Posso deixar-lhes um abraço?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Testemunho*

Colegas!

Emídio Rangel foi dos mais insurrectos e malcriados alunos que passaram pelo liceu Diogo Cão onde estudei, em Sá da Bandeira.
É pena não ser possível (será que é?!...) divulgar a ficha escolar desse traste, pois lá deverão constar as faltas disciplinares e até suspensões devidas a graves actos de indisciplina e falta de educação. Desde arrancar fios eléctricos, rasgar o livro de ponto e até partir o quadro da aula, esse energúmeno fez de tudo!
Não deixa de ser irónico que um tipo com este curriculum tenha a ousadia de opinar sobre educação e docência.

Maria Leonor Gundersen
_______
*Enviado por mail.

terça-feira, 25 de março de 2008

Assumir responsabilidades (II); as demissões sucedem-se

Sernancelhe: Professores demitiram-se de Assembleia do agrupamento de escolas
19 de Março de 2008, 17:59

Viseu, 19 Mar (Lusa) - Os seis professores que integravam a Assembleia do Agrupamento de Escolas de Sernancelhe demitiram-se por considerarem que o seu projecto tinha "uma morte mais ou menos anunciada" com o novo diploma sobre gestão escolar.
José Amaral, professor que ocupava o cargo de primeiro secretário da Assembleia, disse hoje à Agência Lusa que as demissões foram apresentadas numa reunião terça-feira à noite.
"Foi uma decisão pensada, tomada e a Assembleia deixou de ter quorum suficiente para funcionar", explicou, acrescentando que três dos seis professores ocupavam os cargos de presidente, primeiro e segundo secretários da Assembleia.
O projecto de decreto de lei sobre autonomia, gestão e administração escolar prevê a criação de um Conselho Geral que, na opinião dos professores, porá em causa o projecto que iniciaram.
"O projecto em que nos revíamos tem uma morte mais ou menos anunciada, uma vez que vai ser constituído um novo órgão que é o Conselho Geral", lamentou.
Segundo José Amaral, além das competências habituais das Assembleias, a de Sernancelhe pretendia dar "uma maior visibilidade ao agrupamento, fomentando novas actividades".
"Neste momento, sabemos que não temos condições para fazer isso, porque, por mais projectos que façamos, logo que o Presidente da República promulgue o decreto de lei seremos destituídos", justificou.
O professor sublinhou que, assim sendo, "o projecto neste momento não tinha razão de ser", sendo a demissão "uma forma despegada de mostrar que os professores gostariam de lhe dar continuidade, mas colocam o lugar à disposição".
Contactada pela Lusa, a presidente do agrupamento remeteu esclarecimentos para os membros da Assembleia.
AMF.
Lusa/fim
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Nota: sublinhado da minha responsabilidade.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Bons conselhos duma mãe agradecida*

Logo depois de ter lido aqueles documentos sobre a avaliação dos professores, pensei como lhe deveria agradecer, Srª Ministra.
Afinal, aquelas horas passadas diariamente junto do meu filho a verificar se os cadernos e as fichas estavam bem organizados, a preparar a mochila e as matérias a estudar para o dia seguinte, a folhear a caderneta escolar, a analisar e a assinar os trabalhos e os testes realizados nas muitas disciplinas, a curar a inflamação de uma garganta dorida pela voz de comando "Vai estudar!" ou pela frase insistentemente repetida, de 2ª a 6ª feira:"DESPACHA-TE! AINDA CHEGAS ATRASADO!" ou o incómodo e o tempo perdido para o levar diariamente à Escola, percorrendo, mais cedo do que seria necessário, um caminho contrário àquele que me conduziria ao meu emprego, tinham finalmente, os seus dias contados. Doravante, essa responsabilidade passaria para a Escola e, individualmente, para cada um dos seus professores.
Finalmente, poderei ir ao cinema, dar dois dedos de conversa no Café do Sr. Artur, trocar umas receitinhas com a minha vizinha (está entrevadinha, coitadinha!) ou acomodar-me deliciosamente no sofá da sala a ver a minha telenovela brasileira preferida. O rapaz ainda me alertou para os efeitos das faltas o conduzirem à realização de uma prova de recuperação. Fiz contas e encolhi os ombros - poupo gasóleo e muitos minutos de caminho, de tráfego e de ajuntamentos. Afinal, ele até é esperto e, se calhar, na internet, encontra alguns trabalhos ou testes já feitos… Sempre pode fazer "copy – paste"… Efectivamente, as provas de recuperação parecem-me a melhor solução para acabar com a minha asfixia matinal e vespertina.
Ontem, a minha vizinha da frente, que tem dois ganapos na escola do meu, disse-me que, se ele continuar a faltar, o vêm buscar a casa, e que, no próximo ano lectivo, os professores vão tomar conta deles depois das aulas. Oiro sobre azul.
Obrigada, Srª Ministra. A Senhora é que percebe desta coisa de ser mãe! A Senhora desculpe a minha ousadia, mas será que também não seria possível fazer uma lei para os miúdos poderem ficar a dormir na escola? Bastava mandar retirar as mesas e cadeiras das salas de aula e substituí-las por beliches, à noite. De manhã, era só desmontar e voltar a arrumar. Têm bar, cantina e até duche. Com jeito, eles ainda aprendiam alguma coisinha sobre tarefas domésticas, porque, em casa, não os podemos obrigar a fazer nada ou somos acusados de exploradores do trabalho infantil com a ameaça dos putos ainda poderem apresentar queixa junto das autoridades policiais.
Ao Sábado, Srª Ministra, podiam ocupá-los com actividades desportivas ou de grupo, teatro, catequese, escuteiros, defesa pessoal…O ideal mesmo era que os pudéssemos ir buscar ao Domingo, só para não se esquecerem dos rostos familiares.
O meu medo, Srª Ministra, é aquela ideia que a minha vizinha Sandrinha, aquela dos três ganapos, comentava hoje comigo. Dizia-me que a Senhora Ministra quer criar o ensino doméstico. Eu acho que ela deve ter ouvido mal ou então confundiu o jornal da SIC com aquele programa da troca de casais do canal 24. Eu acho que isso não vinga em Portugal, porque não temos a extensão de uma América do Norte ou de uma Austrália e, por outro lado, tinha que comprar e equipar os VEI (veículos de educação itinerante), o que iria agravar mais o deficit das contas públicas e o insucesso dos nossos miúdos. Foi isso eu disse à Sandrinha. Acho que ela deve estar enganada. Logo agora, que podemos respirar de alívio porque não temos que nos preocupar com a escola dos garotos, essa ideia vinha destruir tudo, porque os obrigava a ficar em casa para receberem os VEI e aos pais ainda iria ser exigido algum acompanhamento.
A Senhora faça é aquilo que decidiu e não oiça o que os inimigos dos pais e das mães lhe tentam dizer (já agora, lembre-se da minha sugestãozita!). Assim, os professores, com medo da sua própria avaliação, passam a dar boas notas e a passar todos os miúdos e, desta forma, o nosso país varre o lixo para debaixo do tapete, porque é muito feio e incomodativo mostrarmos, lá fora, que somos menos capacitados que os nossos "hermanos" europeus.
Uma mãe e encarregada de educação agradecida,

*Teresa Pimenta
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Notas: 1 - Avisa-se a senhora socióloga que esta carta está cheia de ironia; o aviso serve também para os seus "cães de fila", obedientes e acríticos, à espera do "osso"; ela e eles podem perguntar a qualquer professor o que significa ironia; 2 - Já há tempos que este texto circula entre blogues; foi-me enviada por mão amiga, pedindo a sua publicação; aqui a deixo, principalmente para quem ainda a não leu; e também não faz mal relê-la, já que o seu conteúdo permanece actual.

domingo, 23 de março de 2008

"Vicente", um corvo que canta ousadia e liberdade*

Torga escreveu:

"Mesmo desprovido de acção imediata,um protesto é sempre um protesto. Uma vez feito, desliga espiritualmente o seu autor da canga rotineira a que vai jungido, compromete-o publicamente com a subversão, solidariza-o com os demais revoltados, e movimenta a passividade, irmã gémea da conivência. Repõe o indivíduo marginal no clima do seu tempo histórico, e dá-lhe a possibilidade de semear ao menos o penisco da esperança no chão actual.Os filhos ou os netos que usufruam depois as vantagens do pinhal crescido".

Como são proféticas e actuais estas palavras escritas há exactamente 50 anos. Temos de ser como o Vicente, o corvo de Os Bichos, e preferirmos enfrentar o dilúvio a entrarmos à força na arca que estes Noés de meia tigela nos querem impingir.

José Coimbra
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*Nota: Texto enviado por José Coimbra, a quem agradeço. E, já agora, leiam e releiam Os Bichos, do Torga. Eu faço-o muitas vezes. Tão humanos, aqueles bichos.

ALELUÍA!

Não tenho aqui nenhum boneco à mão, para lhes desejar BOA PÁSCOA. Tenho um galo e uma coelha, mas desses já se falou bastante, e não os quero misturar com os bichos verdadeiros, que esses têm dignidade.
Boas Festas para todos. Eu passarei o dia em Vila Real. Talvez vá de novo a Galafura, por causa dumas fotografias, e para respirar silêncio puro.
A verdadeira Páscoa, para mim, é só na segunda-feira. Aposto que irei de casa em casa, pelas casas lá da aldeia, a cantar ALELUÍA. Assim mesmo. Que na minha terra a palavra tem mesmo as quatro sílabas. Não ficasse ela no Minho.
Até breve.
Um abraço.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Já se ouvem os sinos tocando a rebate

1.
Quando o sino tocava a rebate, a aldeia levantava-se em peso e corria. Acorria. Todos. A maior parte nem sabia a quê. Mas acorria correndo. Homens, mulheres, jovens, crianças. Era uma solidariedade tão intensa e tão humana que apagava diferenças, que apagava inimizades.
Normalmente era um fogo. Agora chamam-lhe mais um incêndio. Entre “fogo” e “incêndio” ia e vai um abismo de distância semântica. O “fogo” continha mais a inocência trágica do fortuito ou do louco; o “incêndio” continha mais a culpabilidade dramática do ódio ou do dinheiro.
Eram raros, um e outro. Agora são mais frequentes, principalmente o “incêndio”. Tornou-se praga nacional, com direito a época própria. E a ele se associa, sempre e cada vez mais, a culpabilidade dramática, não do ódio, mas do cinismo que tenta justificar a incúria irresponsável e o jogo de interesses, de que muitos se aproveitam. Justificam-se com a “seca”. O que tem alguma verdade. Como convém. Para desviar a atenção da incúria irresponsável e do jogo de interesses, os verdadeiros incendiáros.
2.
Se o cinismo oportunista - tentando ocultar a incúria irresponsável, o jogo de interesses e o seu “aproveitamento”, oportunista ou ladrão -, se cingisse só aos incêndios - que cobrem tudo dum negro que se nos espeta na vista, descendo ao coração chorando -, isso seria um mal menor ainda, de solução bem possível, assim houvesse vontade.
Mas o pior de tudo, e esse é o mal maior, é que esse cinismo oportunista se tornou táctica política, contaminando largos sectores sociais, principalmente aqueles que mais resistem à desumanização tecnocrática crescente, ou que estão mais fragilizados. E essa táctica política tornou-se agora incendiária, perseguindo uma política estúpida de terra queimada e anárquica.
Há exemplos concretos disso na área da Justiça, na área da Saúde e, muito principalmente, na área da Educação.
3.
O Primeiro-Ministro quis sempre dar de si uma imagem de determinação. Construíram-lhe essa imagem com recursos que nós pagamos. Disseram-lhe que decidir era importante – como, porquê, para quê e com que consequências, isso pouco importava, pelo que ele não tinha que justificar nada. Enredou-se em decisões sem fundamentos sinceros, que tivessem validade, num voluntarismo tonto de mostrar que decidia contra tudo e contra todos, que isso é que era ser
determinado, decidido, corajoso. Que isso é que dava a entender que ele sabia o que queria, que ele sabia para onde ia.
Foi obrigado a recuar. Foi obrigado a dar o dito por não dito. Não de uma forma digna e justificável, mas de uma forma arrogante e autoritária, demonstrando insegurança, desnorte, casuismo e oportunismo. E logo as suas luminárias patetóides, acharam que isso não podia ser. E deram-lhe o sábio conselho de reforçar, de forma irracional, a trincheira do ataque descabelado ao sector da Educação, só para salvaguardar a imagem de barro do homem decidido, que não é, e que sabe para onde vai, embora quanto mais avança, mais se veja que não sabe.
E foi assim que ele ensaiou frases e meias frases para dizer na televisão, mas tão desastradas foram que logo todo o mundo viu que ele não sabia daquilo que debitava numa repetição confrangedora: aulas de substituição, Inglês, mais tempo nas escolas, mais tempo nas escolas, Inglês, aulas de substituição, aulas de substituição, aulas de substituição, avaliação, avaliação, avaliação. E mais nunca disse.
Foi então que recebeu pronto o apoio descarado e poderoso das agências mediáticas que controla, ou por cujos interesses vela, e que lhe fizeram o favor, não só para o defender, mas também para intoxicar a opinião pública contra os docentes.
Foi programa atrás de programa, entrevista atrás de entrevista, comentador interesseiro, oficial ou oficioso, atrás de comentador. Uns distorceram as causas da indignação dos professores; outros, insidiosos, lá iam deixando escapar frases subliminares, dando sempre a entender que os professores eram preguiçosos, que o insucesso era só culpa deles, que estavam mal preparados, que temiam a avaliação.
Todos eles, em uníssono, tentavam desmobilizar a manifestação de 8 de Março. Saiu-lhes pela culatra o tiro. A sua desfaçatez mercenária incendiou ainda mais os ânimos dos professores indignados. E estiveram em Lisboa 100 mil.
4.
Havia que fazer esquecer as imagens dessa imponente manifestação que irá fazer história. E então lá vem o comício nacional do PS. Poderia até já estar programado. Mas, objectivamente, e como foi reconhecido, esse comício foi feito, para se conseguirem umas imagens apertadinhas, num espaço pequenino, que ocupassem o espaço mediático, tentando “tapar” as imagens da manifestação dos professores.
Não faltou nesse comício aquela senhora, em forma de múmia, que foi ministra da Educação, que recebeu umas palminhas de desagravo, mas não abriu a boquinha, pequenina, coitadinha, como diria o Garrett.
E na encenação daquele ajuntamento socialista não faltou aquele truque, tão velho que já tem barbas, de escolher sala pequena para que as pessoas não coubessem, ficando algumas na rua, para a comunicação social amiga dizer que eram tantas, tantas, tantas que nem cabiam no lugar tão vasto.
Mas o melhor de tudo, foi, terminada a “missa”, ver o Sócrates sair para a rua, de peito feito e destemido, descendo a rua em direcção ao local onde tinham estado de luto alguns professores muito dignos, a ver se recebia a esmola de receber um insulto. Um estalo na cara, então, é que vinha mesmo a calhar, para se fazer de vítima. Ele pensa que os professores são como ele. Não teve a sorte que queria.
5.
Depois daquela manifestação, que foi todo país em Lisboa, e Lisboa em todo o país, começaram a falar mais alto os comentários politicamente correctos dizendo que agora o Sócrates é que não podia recuar, e tinha que manter a ministra. É um critério tido por sério. Mas que no meu entender é mesquinho.
Para manter a ministra, embora ela seja um peso morto, continua a valer tudo. Até mesmo a mentira. Mesmo as provocações. Rápidos, fizeram cedências para enganar o país. Chamaram-lhe “flexibilidade”, chamaram-lhe “simplificação”. Eles até cediam a tudo, desde que os professores se calassem e deixassem que eles dissessem que não tinha havido recuo. Mas os professores não são hipócritas. E, ao contrário deles, levam a educação a sério. Não caíram nem vão cair numa armadilha tão sonsa.
Eles dizem que vão continuar com esta pseudo-reforma. Na verdade não é reforma: é um ataque cerrado a dignidade dos professores, é uma tentativa de continuar a humilhá-los. Na sua teimosia egoísta e estúpida, querem destruir a Educação, incendiando tudo à passagem, num atentado à democracia, num atentado à inteligência.
E o que eles querem também é usar os professores como carne para canhão, pensando que isso lhes dará votos numas próximas eleições.
Por isso, em vez de paz, eles querem guerra. É isso que os leva a diabolizar os professores, denegrindo-os o mais possível.
Mas nós não vamos desistir. Ninguém abdica da sua dignidade. Muito menos os professores. É que, se o fizessem, estavam a abdicar também da dignidade e da qualidade do Ensino Público, da dignidade do país.
E isso, os professores não vão deixar.
Já se ouvem os sinos tocando a rebate. O povo acorrerá para apagar o incêndio, ateado pela irresponsabilidade, pela irracionalidade, pela incúria, pelo jogo de interesses, pelo jogo eleitoral, para queimar a educação.
E mesmo que o povo não acorra, os professores vão acorrer sempre.
Eles já andam de luto.
Mas esse luto encerra em si a esperança da ressurreição.

domingo, 16 de março de 2008

A justiça também causa dor*

Ora viva, Senhor Tempo!
Confesso que já tinha alguma saudade de textos como O pisco e o cuco. (No TempoBreve)
É que só a palavra "luta" já me assusta. Não que a vossa não seja justa, mas a justiça, às vezes, também causa dor. E é precisamente isso que me atormenta.
Bem sei que agora dor só tem quem quer, porque há remédios para isso. Mas também há "maleitas" que nenhuma droga cura. Bem, não quero divagar - por isso é que ainda não sou mãe - mas cá da minha cova vou observando o que se passa.
Sabe uma coisa? Como tenho muito tempo para pensar e o silêncio a isso me ajuda, receio estar a ver-vos, daqui a algum tempo, com uma frustração enorme, do tamanho da vossa esperança. É que há muitos que agora estão convosco, mas não tarda nada vão mudar de barricada: basta que lhes mostrem uma cenoura! E há tantos "artistas" já a mostrar "cenouras". Não viu o que se passou no Porto? O que hoje é verdade incontornável, amanhã vai parecer apenas uma metáfora, e, depois.
Bem, pareço quase uma velha, o que não é metáfora, felizmente. Mas cá da minha cova tenho visto já tanta coisa... Por isso lhes desejo muita sorte, mas tenham cuidado com os que andam por aí disfarçados de cordeiros. Como estamos no período pascal (...),aproveitem-nos para o sacrifício...
Tenha um MUITO BOM DIA.

Cova da Moura
16 de Março de 2008
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Nota: Comentário enviado pela Cova da Moura, a quem quero agradecer aqui. Deixei-lhe um comentário meu no TempoBreve, pois foi lá que ela deixou este texto simpático.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Os alunos já perceberam

Continuaremos a lutar mesmo que muitas vezes as desilusões se abatam sobre nós. Esta batalha não está perdida, mas, mesmo que eles ganhem a luta, nós ganharemos a guerra. Mas eles não nos conseguirão vencer, nunca em tempo algum, porque o coração dos que estão a lutar por um sistema Educativo decente bate em uníssono. Nunca professores e alunos estiveram tão unidos numa luta ( pelo menos eu sinto isso ), e assim continuaremos.
Se possível, quando estiver a ser organizada alguma espécie de reivindicação, informe-me. Terei muito gosto em participar.
Um abraço.

Carpe Diem
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Nota: Mais um apoio. Quase de certeza de um aluno. Temos de cuidar deles. Temos que os resguardar. Não nos podemos "aproveitar" deles. Nem queremos. Mas sente-se nas escolas que eles começam a informar-se e a interrogar-se acerca da nossa luta. E já a apreciam. E gostam de saber que o "seu" professor se interessa, se importa, dá a cara e luta, e que essa luta é também por eles. Eles já perceberam, porque andam na escola. Perceberam primeiro que os pais deles, porque conhecem os professores. E temos que cuidar deles, neste ano conturbado. Temos que lhes dar confiança. Esperança. Segurança. A nossa luta é por nós. Mas é por nós porque é por eles.

Professores: estamos convosco!

Viva, Sr. Tempo!

Finalmente veio até nós! Já estávamos a roer-lhe na(s) pele(s) por estar a lutar, a lutar pela dignidade (que vo-la querem tirar a vós, professores, e pessoas que são), o que nos fez reunir extraordinariamente nas suas vinhas nestes dias que esperam Primavera, sem demora.
Estamos atentos e também queremos ajudar. Vamos cantar e oferecer perfume(s) a todos os que se mostrarem cansados pelo caminho: caminho que se faz também com (o) sonho e a fantasia.
E esses não morrem. Esses é que nos fazem mover.Esses é que nos fazem lutar.
Força, amigo(s)!
Olhem que estamos convosco!


Violeta*
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*Este texto foi-me enviado pela Violeta, na forma de um comentário; não conheço a Violeta, e esse nome deve ser pseudónimo, o que, no caso, não tira nem põe; compreende-se o primeiro parágrafo se lhes disser que a Violeta e muitas outras pessoas estavam habituadas a encontrar aqui outro tipo de textos; não as abandonei; mas tive que me dedicar a outros combates; e continuo; os apoios vindos de quem não é professor são muito importantes; obrigado, Violeta.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Eu vou estar ao vosso lado

Fizeram-me chegar o testemunho que uma jovem escreveu no seu blogue. Chama-se Marta Castanheira, mas não me mandaram o nome do seu blogue. Sei que é de Braga, filha de colegas meus. E desde já lhe agradeço o texto que escreveu. Ei-lo!

"Sou filha de professores, afilhada de professores, amiga de professores, aluna de professores. Professores BONS!
Como a minha, muitas vozes ficam por ouvir. Não tenho qualquer base científica para me pôr para aqui a falar de “as avaliações isto”, “as avaliações aquilo". Mas, não tendo base científica, tenho o testemunho de uma vida!
Não vou tentar remar contra aqueles que desconhecem a realidade da vida de um professor. Eu conheço-a e bem. E cheia de bons exemplos. Deixo apenas a minha indignação.
E aos MEUS professores quero dizer que parem um segundo. Olhem à vossa volta!Para além do mundo escola, há muito mais: há filhos crescidos, com um futuro promissor; há netinhos que vos enchem o coração; há viagens e almoços de Domingo; há música. E, acima de tudo, há um sem número de alunos que com a maturidade certa vos reconhecem. E lembrem-se disto sempre na luta que travam. Lembrem-se disto, que isto ajuda.
Nós ajudamos, como podemos. Ajudamos a defender-vos porque sabemos o que vocês valem. E vocês devem ter sempre presente o valor que sabem que têm. E devem orgulhar-se dos vossos anos de carreira, de que nós, filhos, muito nos orgulhamos também.
Sei que é difícil, com tantas convicções abaladas. Mas tentem. Tentem por vocês. Tentem por nós. Embora mesmo crescidos, vamos precisar SEMPRE do vosso exemplo. É o que estais a fazer agora. Vamos precisar sempre de vós.
Mamã, Papá, Madrinha, Padrinho, Ana “da Martinha” e minha também, meus professores: não duvidem. Lutem. Como sempre lutaram pelo que é justo. E é JUSTO que sintam o que sentem. Mas sei que mesmo abalados, vocês não se vão deixar abater. E eu vou estar ao vosso lado."

Publicada no blogue de origem na Sexta-feira, Março 07, 2008

CONCENTRAÇÃO NO PORTO, DIA 15 (?)

Recebi o mail, que abaixo se transcreve - convocando uma concentração de professores - e que me foi enviado enviado por diversas pessoas. Recebi outros de teor idêntico, embora com outros articulados. Recebi ainda outros, simplesmente a dizerem que era preciso e urgente fazer qualquer coisa, para que não se alimentem sentimentos de desesperança e de isolamento. Recebi telefonemas e fui abordado directamente por colegas no mesmo sentido. Ontem, uma colega entregou-me, revoltada e a chorar uma fotocópia toda amarrotada com aquele escrito do Emídio Rangel.
O meu blogue é muito humilde e pequenino. A proposta que o mail contém tem tanto de óptima como de riscos. Por isso, eu não quis avançar com ela sem ter a certeza que a notícia estava ter ampla divulgação. Consultei várias pessoas. Consultei vários blogues. Agora vejo que essa proposta foi publicada por Paulo Guinote, no seu "A Educação do Meu Umbigo" - "educar.worpress.com", e a quem manifesto o meu reconhecimento.
Agora, esta proposta ganhou definitivamente uma outra dimensão. Não é fácil de concretizar, e exige muito cuidado da nossa parte. Mas quem é que disse que foi fácil fazer as manifestações que fizemos, cidade a cidade, e depois aquela manifestação majestosa em Lisboa? Quem é que acreditava naquela capacidade de luta e de unidade aqui há um mês atrás?
Cá para mim, esta proposta deve ser tomada muito a sério. E deve ser divulgada por tudo quanto é mail, por tudo quanto é blogue, boca a boca, telefone e SMS. É preciso estar a postos para, se ela avançar, estarmos todos preparados. O tempo de decisão não é muito. Cá por mim, deveríamos avançar. Com TODA a dignidade.
Aqui fica a tal proposta, que transcrevo, com a devida vénia de "A Educação do Meu Umbigo". Também transcrevo, logo a seguir, as observações que o Paulo Guinote faz, e que também devem ser lidas com muita calma e muito a sério. Dêem as vossas opiniões. Mas, caso concordem, o mais importante é cuidar da sua divulgação. Aqui vai, pois.


CONCENTRAÇÃO NO PORTO, SÁBADO, DIA 15


“O comício nacional do PS marcado para o dia 15 de Março no Porto, que levará José Sócrates ao reencontro com as bases, foi transferido da Praça de D. João I para o Pavilhão do Académico, uma mudança que “protegerá” o líder socialista de qualquer imprevisto vindo da rua.” (Público, 06.03.08)

Convocam-se todos os professores para estarem presentes à porta do Pavilhão, não para “atacar” sua excelência, que os professores não são arruaceiros!

Vamos dar-lhes mostras da nossa DIGNIDADE mas IRREDUTIBILIDADE… todos de NEGRO e em SILÊNCIO!!!!.. os cartazes dirão o que se tiver a dizer!…. e os meios de comunicação serão a nossa voz!!!!

Acima de tudo, tem de se mostrar que os vilões são eles!!!!!!!!!!!!
REENVIA PARA TODOS OS TEUS CONTACTOS!!!!!

OS PAIS E ALUNOS TAMBÉM SÃO BEM-VINDOS!!!!!!!!!

Observações de Paulo Guinote:

Em off, este mail tem sido objecto de discussão entre vários colegas, assim como a iniciativa proposta, que os proponentes pedem para divulgar.

Confesso que a coisa me provoca sentimentos mistos.

. Por um lado, seria uma forma de manter a manifestação do desagrado bem presente, em especial para a opinião pública, pois Sócrates, o PS e o ME sabem bem que foram da manifestação de sábado ficaram muitos outros professores que não puderam ou não quiseram ir, embora estivessem solidários com os presentes.

. Por outro, acho que se for mal conduzida, esta forma de manifestação do desagrado, pode dar a Sócrates uma hipótese para se vitimizar e apontar a outrém perturbações que só ele causou. Além disso, a manifestação de dia 8 correu com toda a normalidade e civismo, sem contra-manifestações de qualquer tipo.

Por isso mesmo, e caso a iniciativa avance, que seja estritamente nos moldes apresentados, sem arruaça, sem palavras de ordem, sem ruído que justifique qualquer tipo e sem declarações à comunicação social que fujam ao tom certo. E que não justifiquem que o PM apresente aquele cenho franzido e encrespado que ele toma por manifestação de «determinação reformista» e «coragem política».

De qualquer modo, a verdade é que a iniciativa do PS no Porto já caiu no anedotário político e quem a concebeu deveria ser sumariamente despedido do cargo por manifesta inépcia política.

Por isso, também não seria de desprezar a hipótese de mostrar até que ponto Sócrates está reduzido a comícios de desagravo em pavilhão com capacidade bem limitada.

terça-feira, 11 de março de 2008

Os sindicatos não podem vergar

Quando o Norte entrou na praça, rouco de tanto cantar e gritar, o Mário Nogueira estava a acabar seu discurso. Pelos vistos era já o segundo. Ouvi-o ainda a afirmar que com esta equipa ministerial já não era possível negociar. Que as negociações teriam de ser já com outros.
Hoje já reuniu com o recém “flexível” secretário de Estado, Jorge Pedreira. Pelos vistos ficou contente. Ficaram ambos contentes.
Não quero dizer mais nada. Espero que Mário Nogueira nos dê as boas notícias do seu contentamente. Só que já vi muitas coisas. Por isso, o meu esperar será um esperar ansioso. Um esperar preocupado.
Precisamos dos sindicatos. Mas os sindicatos devem saber por que é que fomos todos com eles.Não vou aceitar uns “troquinhos” ridículos a fingir democracia, a fingir flexibilidade, a fingir “vitoriazinhas”, ora dum lado ora doutro.
Um outro modelo de avaliação poderá ser testado. Este, não. A não ser que o mudem tanto, que ele não pareça ele.E também estou preocupado porque não ouço ninguém a falar do concurso para titulares. E não haverá reforma que possa cavalgar por cima de tal monstruosidade.
Isto não são divergências na luta. Isto são preocupações.
Há que manter a pressão sobre o governo. Há que estar atento a tudo o que se passar.
Os sindicatos não podem aceitar um qualquer experimentalismo com este modelo. Isso seria consumar o facto. E nós não vamos aceitar isso. Os sindicatos não podem vergar. Os sindicatos não se podem abaixar, e vocês sabem bem por quê.
Nós estamos todos com eles, em estando eles connosco. Em estando eles connosco. Em estando eles connosco.
Lembram-se das palavras de ordem? Eu lembro.
Está nas nossas mãos.
Está nas vossas mãos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Notícia da Agência Lusa: a luta continua.

NOTA INTRODUTÓRIA:

Hoje, ao longo do dia, fui contactado por vários colegas de várias escolas de todas as zonas do país. Como não me conhecem, telefonavam para a minha escola - D. Maria II -, perguntando por mim. No essencial, todos queriam congratular a minha escola e, nomeadamente, o Departamento de Línguas e Literaturas, pela posição assumida em reunião recente, posição essa que, para meu espanto, tem sido sistematicamente distribuída por todo o país, via e-mail, e por reprodução nos mais variados blogues sobre Educação. Um professor duma escola de Viseu fez questão de me informar que na sua escola o documento foi fotocopiado e distribuído a todos os docentes.
Fui também contactado por uma jornalista da Agência Lusa para recolher mais informações sobre o documento. O texto que se segue foi-me enviado pela Regina. Não sei se a Regina é a própria jornalista que me contactou via telefone, ou se é alguma colega que teve acesso a esta notícia e teve a amabilidade de ma enviar.
É uma notícia deveras interessante. Reproduzo-a, na íntegra. Leiam-na e divulguem-na.
Não podemos parar. A luta continua.
Não se enervem com os Tavares nem com outros avatares rangedores. Não nos metem medo. Falam do que não sabem. Mas nós sabemos. Não lhes temos medo.

regina disse...

Notícia interessante

Lisboa, 10 Mar (Lusa) - A maioria dos estabelecimentos de ensino pediu o adiamento do processo de avaliação dos professores, alegando "grandes dificuldades" na sua aplicação este ano lectivo, revelou à Lusa o presidente do Conselho das Escolas (CE)."
A maior parte das escolas afirma não estar em condições de avançar e, por isso, solicita que a aplicação do processo arranque apenas em 2008/09", afirmou Álvaro Almeida dos Santos. Segundo o responsável deste órgão consultivo do Ministério da Educação (ME), as "grandes dificuldades" sentidas pelas escolas e invocadas para justificar o pedido de adiamento prendem-se com "a falta de maturação dos instrumentos, a ausência de recomendações específicas do
Conselho Científico [para a Avaliação de Professores] e a complexidade de todo o processo". Os problemas reportados levaram o CE a requerer à tutela uma reunião extraordinária, a realizar quarta-feira, na qual vai salientar "a necessidade de serem dadas condições para o desenvolvimento mais eficaz da avaliação".

Em declarações à Lusa, também Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), garantiu que "a grande maioria das escolas não está a avançar com o processo". "Umas nunca chegaram a iniciá-lo, outras decidiram suspendê-lo. É totalmente residual o número de escolas que aprovou os procedimentos de avaliação e que está a avançar. Se forem 20 a nível nacional, já será um número por cima", assegurou.

Num documento aprovado por unanimidade na semana passada e dirigido à ministra da Educação, o agrupamento de escolas da Pontinha, por exemplo, manifesta "a sua apreensão relativamente ao cumprimento dos procedimentos estabelecidos no decreto" que regulamenta a avaliação de desempenho, considerando que este processo "não é compatível com tempos escassos e orientações genéricas"."Concentrando-se todo o processo de avaliação no 3º período, ele gerará uma turbulência e desorientação na vida das escolas que em nada beneficiará a melhoria dos resultados escolares e a qualidade das aprendizagens dos alunos", refere o documento, assinado pelos conselhos executivo e pedagógico deste estabelecimento e já enviado ao ME.Neste sentido, o agrupamento de escolas da Pontinha propõe "que seja adiado o processo de avaliação de desempenho do pessoal docente, entretanto iniciado, para momento posterior ao da publicação de todos os documentos, regras e normas legais", pedindo ainda que seja concedido um "período de tempo mínimo" para a adequação e actualização dos instrumentos de regulação internos.

Idêntico pedido deverá ser aprovado esta semana pela escola secundária da Gafanha da Nazaré, depois de o conselho executivo ter admitido "muitas dificuldades" em implementar o processo."Hoje de manhã, numa reunião informal, houve uma manifestação pública por parte dos docentes relativamente à necessidade de suspender a avaliação este ano lectivo, já que neste momento é totalmente inviável prosseguir o processo. Deverá ser aprovada uma deliberação nesse sentido, na próxima reunião do conselho pedagógico", disse à Lusa Vítor Januário, professor de Português naquela escola.

Já na básica do 2º e 3º ciclos da mesma cidade, a presidente do conselho executivo admite que tudo está a andar "muito devagar", não tendo sido ainda aprovados os instrumentos de registo e indicadores de medida."Não estamos a fazer muito para que o processo avance. Tenho esperança que venham outras directrizes ou uma tomada de posição do primeiro-ministro. Alguma coisa deve estar para mudar depois da manifestação", afirmou Ana Seabra.

Os problemas relacionados com esta matéria estão igualmente a ser sentidos na secundária D. Maria II, em Braga. Numa reunião realizada na passada quarta-feira, os professores do departamento de Línguas pedem a suspensão "imediata de toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação". No documento, já subscrito por 55 docentes da escola, cerca de 60 por cento do total, os professores alegam, nomeadamente, que o modelo de avaliação é "tecnicamente medíocre", contém "critérios subjectivos" e permite que os avaliadores sejam menos qualificados do que os avaliados, na sequência das "injustiças" verificadas no concurso para titular.

A Lusa tentou contactar o ME, o que não foi possível até ao momento.

JPB/MLS.Lusa/Fim
10 de Março de 2008 19:51