terça-feira, 8 de abril de 2008

Senhor Presidente da República, queremos ouvir-lhe a voz

1.
Por mais sondagens que apareçam e se publicitem, a verdade é que a ministra da Educação está cada vez mais isolada social e politicamente
. Muitos dos seus defensores oficiosos já zarparam para longe dos seus postos de ataque aos professores. Outros tentam encontrar alguns argumentos laterais, quase inofensivos, pois não contavam com a reacção argumentativa e informativa dos professores. Só mesmo os que estão de todo em todo fora da realidade, ou têm interesses directos na defesa deste governo é que continuam abespinhados num voluntarismo tarefeiro de mostrar serviço, para fazerem currículo, a ver se são nomeados ou promovidos.
Tão isolada está a ministra e os seus secretários, e outras entidades pardas e militantes , que nem eles próprios ensaiam já qualquer discurso que possa parecer argumento, mesmo em forma de arremedo.
2.
Ao discurso arrogante e farfalhudo de ataque aos professores, visando a sua humilhação e a sua desconsideração pública, seguiu-se um papagueio de frases sempre iguais, a ensaiar boa-fé, a ensaiar humildade, a dizer que tinha que ser, que até compreendiam os professores, que a mudança gera sempre desconforto, mas que iam explicar, sempre muito pacientes, como se os professores fossem lentos como eles.
Como estas frases, de ocas e inconsistentes, não resultaram, passaram a uma fase de quase silêncio público, e encetaram uma guerra de guerrilha, correndo devotamente o país em peregrinações, “secretas” e fundamentalistas, pressionando e ameaçando os seus interlocutores de sempre – os Conselhos Executivos, nomeadamente os seus presidentes.
Não conseguiram grande coisa, que, na sua grande maioria, os Conselhos Executivos já perceberam que foram usados, enganados e abusados. E também já perceberam, mesmo os mais obedientes, que estão isolados nas escolas, e que as escolas se transformaram num inferno que já os atinge também, mesmo quando não se ouvem chamas.
3.
Que fizeram eles então, a ministra “ajudante” e os seus “ajudantes” menores? Pararam para pensar? Não. Não o conseguem fazer. Pararam para negociar com os professores? Não. Que não o sabem fazer. Demitiram-se, como lhes mandaria a dignidade? Não. Que já a perderam toda inteira.
Que fizeram, pois, então? Abeiraram-se sem pudor dum precipício perigoso. Recorreram abertamente à ameaça. Recorreram ao terrorismo. Lançaram as suas garras ao pequeno grupo de professores que está em posição mais frágil e “apossaram-se” deles para exigirem resgate. Tomaram como reféns os professores contratados e os que têm as carreiras congeladas há dois anos. E o resgate que exigem é que os outros professores, a imensa maioria, abdique de exigir a suspensão deste modelo iníquo de avaliação a fingir, vestida duma hipocrisia imensa.
E que é que uma família faz quando um grupo “terrorista” toma de “assalto” um dos seus como refém, exactamente o mais frágil?
A sua hipocrisia terrorista e chantagista é tal que querem dar a entender que a responsabilidade política e moral pelos danos que causarem aos seus “reféns” será só nossa, se não “pagarmos” o resgate.
Isto é intolerável. Isto é jogo muito baixo. Isto é truque ilegítimo. Mas terão agências de consultoria e imagem a travestir isto de coragem. E a comunicação social irá ajudar. Como sempre.
4.
Eles estão quase a conseguir destruir a escola como um corpo funcional. Já fracturaram os professores com a aberração dos titulares; já criaram outras fracturas entre os órgãos democráticos das escolas e os outros professores; agora estão a tentar fracturar-nos em pequenos grupos, isolando-nos uns dos outros.
São assim os arrogantes sem razão; são assim os medíocres que não acreditam em si próprios; são assim os impotentes incapazes de usarem argumentos sérios; são assim os prepotentes; são assim os fundamentalistas fanáticos.
Eles atropelaram toda a ética. Eles praticaram e praticam todo o assédio moral contra os professores. Eles atropelaram a lei. Eles fizeram tábua rasa de toda a lógica legal.
Esta gente já não é má. Já não é incompetente. Esta gente precisa de um acompanhamento especial, a ver se ainda vão a tempo de virem a ser pessoas mais ou menos normais.
Pode ser que a maioria absoluta no-los imponha; mas isso não lhes dá razão. Pode ser que o sistema legal os proteja; mas isso fará com que o sistema legal não seja justo.
Esta gente tem um problema qualquer.
Os professores têm respondido. E continuarão a responder. Mas os professores, pela formação que têm, não podem responder com "terrorismo" ao "terrorismo" destes senhores.
Alguém tem que olhar com olhos de olhar para o que está a acontecer. Alguém tem que os parar.
O Senhor Presidente da República está de certeza bem informado. De certeza que não quer ir assistir ao funeral da Educação Pública.
Não pode continuar calado.
Queremos ouvir-lhe a voz.

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