terça-feira, 15 de abril de 2008

Pela unidade! Viva a democracia!

A PROPÓSITO DO DEBATE NA ESCOLA SECUNDÁRIA D. MARIA II
BRAGA
1.
Escrevi esta madrugada, no texto em baixo, que hoje, no plenário da minha escola, diria não ao "acordo / entendimento" entre a Plataforma dos Sindicatos e o Ministério, por não me rever nele, por achar que não foi por causa dos seus pressupostos curtos que lutámos tanto, que discutimos tanto, que enfrentámos tantos, que incomodámos tantos.
Desejei, no fim desse texto, que ninguém concordasse comigo, que ninguém me ouvisse, para eu ficar isolado e só, e, assim, de consciência tranquila, regressar ao sossego do meu canto. Mas confesso agora que não era só desejo. Era também a quase certeza de que assim seria.
2.
Dois sindicalistas, de sindicatos diferentes, haviam-me solicitado, vários dias antes do "entendimento / acordo", que presidisse ao plenário. A solicitação ganhou o peso duma obrigação, quando colegas da escola, principalmente os sindicalizados, me abordaram com o mesmo fim. E lá teve que ser.
3.
Abri o pasta que um sindicalista me havia dado com vários papéis. Só aproveitei as folhas de presença. É que a "Moção" só me chegou ontem, e o texto do "Memorando" mandaram-mo por mail, e esses dois textos levava-os eu na mão.
Comecei por dizer do meu desconforto pelo facto de eu já ter uma posição tomada acerca da "Moção" e do "Memorando", e estar ali a presidir ao plenário. Ninguém me ligou. Ainda sugeri ler a Moção e que a votassem logo, pois estava convencido que todos a iam aprovar. Disseram que não. Que lesse o "Memorando". E eu li. Tentei ser isento, mas não sei se consegui, principalmente pelas inflexões de voz.
Acabada a leitura, começou a discussão. Falava-se nos pontos do "Memorando" mas logo se avançava para o que mais interessava. E o que mais interessava era a revisão urgente do Estatuto da Carreira Docente; o anulamento do famoso concurso injusto e ilógico para "titular"; a exigência de um modelo que Gestão Escolar que não ofenda a democracia; a rejeição do iníquo Modelo de Avaliação em vigor, e não a sua aplicação "suave" durante dois meses, "legitimando" a sua aplicação integral já no próximo ano, a ver no que dá.
Davam-se testemunhos, avançavam-se exemplos, punham-se dúvidas, pediam-se esclarecimentos. Todos queriam falar. E todos falaram. Principalmente porque uma colega teve a perspicácia de vir de mansinho para junto de mim, anotando as inscrições que eu respeitava. Eu bem me inscrevia, mas sempre que a minha vez chegava, eu passava à frente, que o que eu queria dizer estava a ser dito de forma melhorada pelos meus colegas, quer concordando, quer discordando. Para quê estragar o que estava bem?
Eu só impedia diálogos directos quando desnecessários por não acrescentarem nada. E "obrigava" a que deixassem cada colega dizer o que queria, mas interrompendo-o, perguntando-lhe se já tinha dito tudo, que era como quem diz, para não divagar, para não repetir.
Já quase no fim também falei eu. Fiz uma síntese, acrescentando qualquer coisa, mais na forma de dizer que no conteúdo, que este estava claro.
O plenário foi muito vivo. Foi muito útil. Foi bom. é tão bom exercitar a discussão democrática. Foram três horas que passaram num instante.
4.
Mas a Moção? Ah! Ah, Moção! E o "Memorando"? Ah! O Memorando. Havia-se discutido tudo o que estava nesses documentos. Naturalmente. Sem ter que se lembrar os tópicos que tinham.
Voltei a ler a Moção, e votou-se assim: 26 contra, e duas abstenções; voltei a ler o Memorando do "acordo / entendimento", e votou-se assim: 26 contra, e três a favor.
Assinaram as folhas de presença 35 professores (1/3 dos professores da escola). Mas estiveram lá bem mais que esses. Muitos não assinaram porque não tinham aulas, e não tinham que justificar faltas. Outros entravam e saiam à medida que tinham que ir para as aulas, ou que acabavam de as dar. Mas, na altura da votação, o número exacto é o número apontado. Poderá parecer pouca gente, mas não é, dadas as circunstâncias (uns professores não acreditam no acordo, mas deram-no como um facto consumado; outros professores não quiseram faltar às aulas, o que seria o meu caso, não fosse o meu dia livre - via o luxo (Ai, se a ministra sabe!).
5.
Registei com satisfação a participação de três professores contratados. E, um deles, fez uma intervenção muito sensata e útil, assumindo frontal e claramente aquilo que estava a dizer. Votaram os três contra a Moção e contra o "Acordo / entendimento". Deram-nos uma lição. O que é preciso é gente assim. E eles sabem que nós nunca os deixaremos sós.
6. Como disse no princípio eu pensava que só eu é que estava contra aquele "entendimento"; fui um parvo; a minha escola também estava. No fim do plenário pus-me a pensar que seríamos a única escola a rejeitar a Moção e também o Memorando; fui um parvo novamente - há várias dezenas de escolas que fizeram exactamente o mesmo.
Respeitamos a opinião de quem aprovou a Moção e o Memorando, mas também exigimos respeito pela posição que assumimos, depois de três horas de debate a sério. A sério e democrático.
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Nota:
Não aprovamos texto redigido para o efeito; estávamos de acordo no que tentei referir no ponto 3; e deixo este texto aqui como prova da verdade, pois sei que quem esteve no plenário vai ler; e eu tenho vergonha na cara.

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