terça-feira, 15 de abril de 2008

O acordo / entendimento foi a tábua de salvação da ministra

Lamento imenso, mas também digo não ao acordo.Isto é, ao entendimento. Quero dizer, que a semântica é traiçoeira, "acordo / entendimento", ou "entendimento /acordo". E quero dizê-lo aqui. Aqui e agora, acabadinho de chegar da manifestação de Braga, que ajudei a mobilizar, de que gostei, e de que dei nota no TempoBreve.
Já sei que me vão perguntar: e que alternativa propões? E então perguntarei eu: por que não perguntaram isso antes desse tal entendimento?Eu escrevi sobre a chantagem que fizeram com os professores contratados. Disse até que a ministra os tinha tomado como reféns. Mas agora estou a ver que eles também servem como uma espécie de "escudo" contra quem diverge do "acordo", isto é, do "entendimento". Ele nós andamos estes anos todos a protestar e a enfrentar os "mandaretes"; ele nós passamos todos este ano desgraçado e para esquecer, para agora abanarmos o rabo de contentes com a "suspensão" por dois meses da "versão completa e integral", aceitando a "versão mais reduzida" em jeito de faz-de-conta? E logo quando a ministra estava num beco sem saída?
Outra coisa: eu não admito que me mandem actas feitas para eu assinar no fim assim sem mais esta ou aquela. Refiro-me à "Moção" da plataforma, que simpaticamente me enviaram para se "aprovar" no plenário. Podiam mandar um guião com ideias principais. Mas uma "Acta já feita?" Ele nós não sabemos o que nos fez indignar?
Ele faz algum sentido dizer cobras e lagartos - aliás, com toda a justiça - e depois aceitar pacificamente, porque os sindicatos assim acharam, que ele se aplique um ano inteiro aquele modelo de avaliação ofensivo? Não vêem que aceitar isso é perder a força negocial que os professores mobilizados lhes davam? E não vêem que aceitar isso significa "engolir" por muito tempo tudo o resto? E depois, os sindicatos, prometem ouvir os professores acerca de sugestões, e até sobre formas de luta contra esse tal modelo, depois de o consentirem, depois de o assinarem?
Aceitar este acordo / entendimento, ou seja lá o que isso é, é "confessar" que, coitados, tínhamos era mesmo medo da avaliação. E que ficamos muito contentes por não a fazermos este ano. E que ficamos muito contentes, pois os sindicatos dizem que sim, que em Julho de 2009, vão negociar outro "entendimento".
Claro que há coisas positivas nesse "acordo / entendimento". Mas será que foram essas coisas que nos causaram tanta indignação? Claro que não! São rebuçados que se dão a rato tonto para melhor o apanhar.
Lamento muito. Mas amanhã vou dizer que não me revejo neste acordo. Não era por uma coisa assim que eu ia lutar tanto, discutir tanto, enfrentar tanta gente, incomodar tanta gente.
Oxalá não concordem comigo. Oxalá ninguém me ouça. Assim ficarei de consciência tranquila e sossegado no meu canto.
É evidente que esta minha posição não implica que não reconheça sinceridade e força e coragem e admiração por muita gente que conheci neste processo, e que está de acordo com este "acordo". Continuarei a respeitá-los e a seguir aquilo que dizem. Poderei até intervir, concordando ou discordando, se vir que não incomodo.
Um abraço.
Até breve.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não poderia deixar de intervir neste blogue e em relação a uma pessoa absolutamente querida e marcante. Não sei se tem essa noção, mas a verdade é que marcou cada um dos seus alunos de formas muito diferentes, ora incentivando o espirito critico para que não aceitassemos as coisas tal e qual elas se apresentam, mas refutar, perguntar, ora encorajando as nossas capacidade para que fossemos mais além, para que nunca deixassemos de descobrir mais e mais... "Tirar as saias;)"...
Pois bem...é triste e vergonhoso ver um educador como o Mota a ser "avaliado por pressupostos ridiculos", mas é com o maior orgulho que o vejo a encabeçar uma luta...porque sei que não desiste, esta mensagem também foi passada ao longo dos anos e também fez parte da aprendizagem...
Neste país todos encabeçamos lutas...a minha geração está descontente, temos licenciaturas, falamos várias linguas, estudamos e fomos para o estrangeiro e o nosso país não reconhece qualquer esforço ou mérito...
E porque nesta altura do campeonato considero importante deixar-lhe um obrigada e um abraço pela educação que me ofereceu e porque me tornou uma melhor pessoa...
E assim como eu deixo aqui o meu testemunho, muitos dos meus colegas de anos anteriores e posteriores fariam o mesmo!
Não desista porque...precisamos de educadores e de pessoas que nos tornem pessoas.
Obrigada...lembro-me muito de tudo o que aprendi..e já lá vão quase 10 anos:)!

Elisabete disse...

Grande elogio do seu antigo aluno!
Por isso, não me surpreende que "não vá em cantigas". Querem fazer dos Professores tontos? É preciso demonstrar-lhes que ainda temos cabeça para pensar.
Continue e conte com o meu apoio e admiração.