sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Aos professores

É tradição
Os homens lutarem
É tradição
O Homem crescer
Na raiz do sangue dos homens que lutam
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

Por isso façamos
Recolhas urgentes
De vozes cansadas

E terminais
E computadores
Miríades deles
Para com eles cobrirmos a terra
Em acordes que cantam canções verticais

É tradição
Os homens lutarem
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

E renegado seja
Sete vezes seja
Quem quebrar um til
Da tradição que diz:

- O homem que sonha
Não verga a cerviz

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Já basta! Demita-se, senhora ministra, que os nossos alunos esperam por nós

INTRODUÇÃO

No programa televisivo de segunda-feira passada, "Prós e Contras", cada um safou-se como pôde e sabia. Houve momentos muito interessantes; houve-os caricatos; houve-os de manobrismo ensaiado; houve-os de mentira; houve-os de inocência; houve-os de controlo de danos.
O tempo era escasso para tanto a dizer, a denunciar, a clarificar. Não admira, pois, que a discussão se assemelhasse, por vezes, a rio de montanha de leito pedregoso e estreito aonde afluía, em catadupa apressada, a lógica argumentativa sem tempo para desenvolver-se clara, e emoção a libertar-se em catarse lá bem do alto da indignação já incontida dos professores. Não admira que tivesse sido assim. Mas, no geral, foi bom, pois a mensagem passou, quer dum lado quer doutro. Só não entendeu quem não quis.

DO LADO DOS PROFESSORES

Do lado dos professores há críticas a fazer, embora, no momento presente, sejam de pormenor.

1 - Os sindicatos finalmente apareceram. Geriram o tempo. Foram eficazes. Não tiveram tempo para mais. Temos de estar com eles. Apesar de tudo. E estamos.

2 - Os movimentos cívicos de professores foram bem aparecidos. Os dois: PROmova e o Movimento dos Professores Revoltados. Apesar do que possam pensar, eu acho que apareceram muito bem. Foram eficazes. Fizeram abanar para uma acção mais dinâmica os sindicatos, chamaram à necessidade de acção muitos professores que se sentiam sós. Fizeram passar a sua mensagem crítica. Mas acusaram a falta de traquejo, de liderança e da perspicácia necessária nestas questões. Afinal estavam a lidar com “profissionais”. Parabéns aos dois. Podem crer que, pelo menos em termos simbólicos, são dos elementos mais importantes na mobilização dos professores.

3 – Arsélio Martins, professor em Aveiro, apareceu como porta bandeira de muita esperança: ele era o “Professor do Ano”, ele era um curriculum vasto, ele era a experiência, ele era a imagem do sábio, ele era o homem de causas, ele era como que um decano prestigiado ao lado da sua classe. Prometeu muito na sua primeira intervenção. Deixou bem claro que os professores não devem ser empurrados pela porta fora, e que ninguém burocraticamente lhes pode dar ou tirar competência. E que a vida do professor vale para ser avaliado, antes e depois dos últimos sete anos.

DO LADO DO GOVERNO

1 – A ministra da Educação começou a falar de equívocos. Mas enredou-se nos seus próprios equívocos. E digo equívocos para ser simpático, porque eu acho que, no que a ela diz respeito, não se trata de equívocos, mas sim de má fé, ou de ingenuidade saloia travestida de activismo frenético, ou de incompetência, ou de tudo isso junto.
A verdade é que a grande maioria de todas as medidas que tomou foram cirurgicamente saindo e propagandeadas de modo a denegrir os professores, fazendo passar para a opinião pública a ideia generalizada e injusta de que os professores só querem regalias, não querem trabalhar, têm férias a mais, não querem ser avaliados. Tudo isso é mentira. Tudo isso é demagógico. Mas cai bem. E a comunicação social, de forma maioritária, e em todos os formatos, tem-na ajudado.
Os professores têm os seus problemas. Têm os seus defeitos. Há-os que não honram a nobreza das suas funções tanto como deviam. Mas isso é uma coisa. Outra coisa é diabolizar irresponsavelmente a classe docente no seu conjunto.
A ministra da Educação avança sempre com as mesmas coisas: as aulas de substituição, a avaliação dos professores.
Das aulas de substituição diz que está tudo bem, que já ninguém fala nelas, o que é mentira. Elas, essas ditas aulas, são estatisticamente cumpridas. Mas não são aulas. E a caricatura, de que ela tanto se queixa, é uma realidade. Qual é o professor digno do nome que pode chamar aulas a essa coisa a que ela chama aulas? Mas ela insiste. Porquê? Porque pensa que os pais são parvos ou desinformados e que ficam contentes, e do lado dela, só porque pensam que os seus filhos, mesmo que um professor falte, continuam a ter aulas. Estão ali presos, com um professor, ali preso também, a fazer de “guarda”. O professor até pode desempenhar esse papel presencial, e até com dignidade. Mas que não lhe chamem aulas, porque aulas não são.
Quanto à avaliação, os professores sempre a tiveram. Que não estava bem? Verdade. Mas lá que a tinham, tinham. Tanto a tinham, que essa mesma avaliação contou para efeitos do famigerado e obtuso concurso para professores titulares, concurso esse que é um monumento à prepotência, à injustiça, à arbitrariedade, e que tem que ser revisto, sob pena de dificilmente mais alguém se entender nas escolas durante muito tempo.
E insiste ela - coadjuvada pela propaganda, pela comunicação sincopada, pelos comentadores que não sabem do que estão a falar -, que os professores protestam porque não querem ser avaliados. É mentira. Não querem é este modelo de avaliação, sem clareza, sem coerência, sem consistência. Mas, claro, ela e os dela, insistem que em todas as empresas e em todas as profissões há avaliações, insinuando que os professores as recusam. Sempre a insinuar para dizer que os professores também têm que o ser. Como se os professores alguma vez se tivessem insurgido contra tal coisa. Não querem é ser avaliados à toa, através dum maquiavélico processo de avaliação burocrática, sem critérios fiáveis.
Quanto ao já referido concurso para titulares, um concurso que figuraria bem num no Guiness do disparate, não conseguiu explicar critério algum. Nem podia. Por que bico de obra é que só contaram os últimos sete anos? Por que não cinco, ou dez? Qualquer coisa servia para esta senhora, que até chegou a ministra. Há quem tenha exercido, e repetidamente, todos os cargos ao longo da carreira, e tenha ficado de fora. Eu conheço muitos casos concretos. Os professores sabem-no. Mas o público em geral, não. E quando se lhes explica, a maior parte não acredita, tal o contra-senso. E depois disto tudo, essa senhora ainda tem a ousadia de afrontar os professores dizendo que os titulares é que são os competentes, e que os outros não?
A senhora ministra queixou-se tanto das caricaturas. Ai se ela pudesse! Ai dos que criticam ou fazem caricatura! Ela faria pior que os outros a propósito das caricaturas de Maomé. Coitada. Não se reconhece quando se vê ao espelho.
A sua participação no debate foi bem esclarecedora. Refugia-se na demagogia das aulas de substituição, na insinuação maldosa de que os professores não querem ser avaliados, na arte da fuga relativamente à fundamentação do concurso para professores titulares. Não conseguiu justificar nada. Missão impossível, de resto. Em tudo ela falhou.

2 – João Formosinho. O especialista. Um espectáculo de vacuidade naquela situação específica. Que estava ele ali a fazer? Por que é que o levaram ali? Seria a ministra? Certamente não. Ou, se foi, isso seria mais uma prova provada da sua falta de conhecimento. Será que ela não sabe o que anda a fazer? Ela acreditou que o Doutor Formosinho lhe poderia valer? Este veio lá do IEC – UM (Instituto de Estudos da Criança – Universidade do Minho) -, mas é como se não tivesse vindo. Abandonou ministra à sua solidão. Deixou-a sozinha. Nem cavalheiro foi. Quando não conseguiu evitar que lhe passassem a bola, assobiou para o ar.
Estou a ser injusto. Afinal de contas, João Formosinho disse grandes e inovadoras coisas: que todas as profissões eram avaliadas; que já há muito tempo dizia o que dizia – pois dizia e diz, sempre as mesmas coisas; que os pobrezinhos, caritativamente, deviam ter sucesso. Acabou por debitar uma pérola preciosa: que nem todos os professores contestavam, dando como exemplo os Conselhos Executivos das escolas. Mas, quanto a isto, os Conselhos Executivos é que sabem o que andaram a fazer. Pelo menos até agora.

3 – Arsélio Martins. Sim. O mesmo que pus do lado dos professores. Eu sei que se vão virar contra mim. Mas é mesmo verdade. Eu acho que ele esteve sem querer do lado do governo. O seu discurso perdeu todo o norte. Completamente. Tornou-se muleta da apresentadora e da ministra. As luzes da ribalta tiveram nele o efeito do canto da sereia. E sempre que era preciso tirar a ministra duma aflição, a apresentadora chamava-o, e ele ali estava pronto a divagar sobre as suas viagens, sobre as suas actividades em comissões disto e daquilo, sobre as suas candidaturas. Eu acho que ele já se apercebeu. Espero bem que sim. Prefiro pensar que ele foi usado, e que não se prestou a.

4 - Fátima Campos Ferreira, a apresentadora, parecia a assessora da ministra. Ou seria antes o seu anjo da guarda postiço, já que os anjos a sério da nossa fantasia são mais escrupulosos? Ele eram elogios a sua excelência, ele eram o dar-lhe a palavra sempre que lhe era propício, ele era não deixar defender-se quem era atacado pela ministra, ele era cortar a palavra sempre que via que a ministra não tinha argumentos, ele era dar a palavra a torto e a direito ao Arsélio Martins, só para interromper e dar descanso à ministra, e ocupar o tempo para que os outros não tivessem tempo. Lembrou-me muito a preocupação dos jornalistas quando a semana passado entrevistaram o Sócrates.

DO LADO DE TODA A MINHA SIMPATIA

1 – Fernanda Velez. Professora. Desfez logo no início a mistificação que a ministra tentou. Preto no branco, com uma firmeza clara, afirmou o método persistente da ministra dividir para reinar, denegrindo a imagem dos professores. Frontal. Segura. Sem medo. Fez bem em indicar logo no início a sua filiação partidária. E conseguiu, com a qualidade da sua intervenção, fazer-nos esquecer que ela tinha um partido. Percebe-se que sabia bem ao que ia. E que sabia organizar o tempo. Escasso. Há muitos professores assim. Por isso é que os burocratas detestam falar com eles. Ficam reduzidos à fraqueza dos seus argumentos baratos. E isso descontrola-os. Como se viu. Obrigou a ministra a ser malcriada e a fazer o papel de regateira de feira, ensaiando ironias impossíveis.Não conheço esta colega. Mas representou-nos muito bem. E isso, nos tempos que correm, não é muito fácil. Por isso lhe agradeço.

2 – O Movimento dos Professores Revoltados. Via-se-lhes no semblante o cansaço. Da viagem. Da luta. Do peso da responsabilidade que sentiram por terem de falar e expor a força da sua revolta. Não tinham organização. Um pecado que se paga caro. Deu a impressão que o porta-voz foi atirado para arena assim de repente, sem que contasse. O jovem professor revoltado não se saiu mal, dadas as circunstâncias. Deu um trunfo à ministra, que ela tentou usar. O jovem professor quase ia sendo abatido pela sua sinceridade emotiva. Salvou-o Fernanda Velez, que não hesitou em dar-lhe a mão. É assim que um professor mais experiente faz.
Mas por que saliento este jovem professor revoltado? Porque vi nele aquele sangue novo que tanta falta nos faz. Porque ele tinha toda a razão naquilo que disse. Porque ele não teve a manha para amaciar as palavras. Porque vi o seu desalento por não lhe darem mais a palavra para se defender. Porque, a não ser a professora Fernanda Valdez, ninguém o apoiou. Porque Arsélio Martins falou tanto de dar esperança aos jovens professores, mas esqueceu-se do primeiro que lhe apareceu ao lado. Porque o achei sincero. Porque correu riscos. Porque falou com o coração a gritar de esperança. Porque a esperança está do lado da vida e do sonho.
Força, meu caro colega. Fizeste tudo muito bem. Muitos dos mais velhos que lá estavam é que não perceberam. Ou não quiseram. Às vezes acontece.
Vá. Venha daí um abraço.

CONCLUSÃO

Os professores, pela dignidade que devem a si mesmos, não podem aceitar a política dos factos apressadamente consumados que lhes querem impor; os professores, pela responsabilidade social das suas funções, não podem aceitar a degradação completa e absoluta da qualidade do ensino público; os professores não podem aceitar o desrespeito, o descrédito e a humilhação a que burocratas fúteis os querem sujeitar, em nome de um pragmatismo acéfalo, bastardo e irresponsável.
Nenhum professor, digno do nome, pode ficar pacato à espero do acontecer para ver no que dá. Dará em catástrofe. Pela sua própria dignidade, pela responsabilidade social das funções que exercem, os professores devem resistir, devem lutar, devem argumentar, devem ir para a rua.
Chegou a hora de se escolher de que lado se está. Quem ficar no meio, ficará do lado de lá. E o lado de lá é o lado da senhora ministra. Neste momento já não há mas, nem meio mas: ou se é professor e se sabe que o que está em causa e se vai à luta para vencer ou cair de pé, ou fica-se em casa com as pantufas do comodismo nos pés, fazendo vénias reverentes à mediocridade burocrática e ignóbil.
Há que insistir. Afinal, nós, professores, é que somos verdadeiramente construtores do futuro. E temo-lo já nas nossas mãos: os nossos alunos.
Já não temos ministra. Agora é só uma questão de ver durante quanto tempo mais é que vão guardar a múmia.
Os nossos alunos e os nossos ex-alunos merecem saber que nós estivemos na luta contra este desastre que se abate sobre o Ensino Público. Eu cá por mim, quando me perguntarem, vou dizer que sim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Mentiroso, demagogo, ou não sabia?

Voltando à entrevista, José Sócrates afirmou, num tom de quem sabe tudo, que havia já 30 anos em que os professores não eram avaliados. Então, que parâmetro era aquele, no arbitrário concurso para professores titulares, em que eram atribuídos pontos à avaliação anual que lhes era atribuída?
Afinal, em que ficamos? Havia ou não havia? Se havia, ele estava mal informado, ou estava a ser demagogo, ou estava mesmo a mentir, para atacar os professores, fazendo deles diabos, culpados de todos os males? Mas, se não havia, então terá que anular esse concurso injusto, brincadeira de mau gosto, sem qualquer critério a sério.
E não é só esta a razão pela qual esse concurso devia ser imediatamente anulado, ou corrigidas as injustiças. Refiro-me principalmente àquela coisa das datas: o que antes de 1999 não valia, depois dessa data valia. Um critério fabuloso. Só faltou mesmo dizerem que quem se licenciou antes de 1999, não tinha licenciatura. Mas, se fosse necessário, não sei mesmo se o fariam.
E fariam muito bem: assim poderiam retroactivamente acusar milhares de professores de exercício ilegal de profissão; poderiam despedi-los; exigir devoluções de pagamentos "indevidos"; mostrar melhor à sociedade os tratantes que os professores são; e arranjariam de imediato muitos postos de trabalho, podendo, assim, dizer, em campanha eleitoral, que estavam a cumprir a promessa dos 150 mil postos de trabalho.
Mas o melhor é calar-me, que posso estar a dar-lhes ideias, pensando eles que o que digo é a sério. Vou, então, calar-me agora; não vá o diabo tecê-las.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sócrates e a Educação

No texto que hoje deixei no Tempo, Em jeito de encenação artística, referi-me à entrevista do primeiro ministro feita à Sic, na segunda-feira passada. Comentei encenações. Queria, depois, referir-me ao que ele disse acerca da Educação. Faltou-me, porém, o tempo, e prometi voltar ao tema. Ora vamos lá, pois então!
Esperava-se que o primeiro ministro, José Sócrates, enfrentasse com coragem e clareza as mudanças mais sensíveis, que estão a acontecer no sistema educativo, de forma muito casuística, de forma muito empírica, de forma desarticulada, de forma muito apressada, de forma incompreensível - uma grande trapalhada. Mas não.
Ele passou pela Educação como gato sobre brasas. Misturou os chavões já gastos, que usa nesta área sensível, em todo o lugar que fala, mas não ousou esclarecer nada, fugindo sempre às questões, para evitar a polémica. Mas, nesta parte da entrevista, o seu discurso ensaiado não saiu tão fluído, embora ele tenha enumerado algumas das suas medidas heróicas, sempre sempre acertadas, deixando nas entrelinhas que, se alguma coisa está mal, a culpa é dos professores, transformados, por ele e pela ministra dele, em bodes expiatórios.
Entre as medidas heróicas, tiradas da sua cartola, referiu, de forma apressada e vaga, as aulas de substituição, as colocações por três anos, a avaliação dos professores, a nova gestão escolar, a introdução generalizada do Inglês no primeiro ciclo, o novo e original sucesso escolar, que já está garantido. Misturou todas as coisas, não esclarecendo nada do que urgia esclarecer.
Quanto às aulas de substituição, esqueceu-se de dizer que, mais que de substituição, elas são de ocupação, e que não são aulas a sério - a não ser para quem vive fora da realidade -, e que são uma daquelas coisas para entreter os alunos, fingindo que é a sério, e para enganar os pais, pensando que seus filhos, assim, não ficam sem aula.
As colocações por três anos são uma questão de sorte ou azar, e não um bem só por si – perguntem aos professores que durante esses três anos têm de percorrer umas centenas de quilómetros, ou alugar nova casa, ou separar-se dos seus. Mas colocar-lhe estas questões seria quase ofendê-lo, que tudo o que ele faz é bem.
Quanto ao processo de avaliação dos professores, que ele teima ser já para este ano, esqueceu-se de dizer que ele é um processo caótico, sem instrumentos de registo, sem parâmetros perceptíveis, com prazos impraticáveis, sem se saber bem o que se avalia, nem quem avalia quem, nem qual é a competência que o primeiro quem tem ( ver texto Contra a prepotência).
Quanto à nova-futura gestão escolar, ela acaba de um golpe só com a gestão democrática, agora demonizada, angelizando-se à partida, e de forma muito acrítica, a que se lhe vai seguir. Mas ninguém ainda falou no modo de prevenir que essa nova gestão se venha a transformar em partidarização das escolas, com comissários políticos, por nomeação escolhidos, que serão avaliadores. Sempre serão mais uns lugarzitos, não é?
Eu sei que o Inglês é importante. Mas não tem a importância primeira. Muito mais que o Inglês é, para nós, o ensino do Português e da Literatura Portuguesa (com que já se está a acabar). Mas disseram ao primeiro ministro que o Inglês é que era, e ele - pelo fino Inglês que fala, e pela experiência que tem em exames de Inglês Técnico -, também acha que é.
Quanto ao sucesso escolar, é verdade que aumentou. Aumentou, e de que modo. E vai aumentar muito mais. E já mesmo neste ano. Isso vo-lo garanto. E com os novos critérios de avaliação de alunos e professores, isso então é que vai ser. Que se chegue ao secundário, e até à universidade, sem se saber ler ou escrever, isso é de pouca monta.
Para o primeiro ministro, que se assina José Sócrates - os seus dois primeiros nomes -, em jeito de nome artístico, o que interessa é o sucesso, o sucesso estatístico, que ele irá perseguir até chegar pelo menos aos 100%.
O que lhe interessa é o sucesso. O sucesso a qualquer preço. O sucesso estatístico. Nem que seja de mentira.
O que interessa é o diploma. Seja de que modo for.
É o que Sócrates pensa.
E ele sabe bem por quê.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Contra a prepotência

O processo de avaliação dos professores tem sido um processo muito conturbado e de contornos indefinidos e atabalhoadamente obscuros. Neste exacto momento, esse processo está num caos, sem previsões de uma articulação lógica à vista, e em tempo devido. A sua concepção e gestão têm sido feitas, em matérias relevantes, de uma forma precipitada, casuística e desarticulada, com avanços e recuos, com marcação e adiamento sucessivo de prazos por parte do Ministério.
O próprio Ministério tem desrespeitado as regras que tem aprovado, queimando etapas e compromissos, numa pressa própria do facto consumado, indiferente às consequências nefastas e ao descrédito que tal atitude acarreta. Os instrumentos de registo dessa avaliação ainda não estão cabalmente definidos para posterior aprovação. Além disso, nesse processo existem parâmetros imperceptíveis ou, no mínimo, de interpretação muito duvidosa – o que faz com que o próprio legislador, ele próprio, ande sempre a acrescentar recomendações interpretativas;
Sabe-se que os prazos agora previstos, a meio do ano, são parcialmente impraticáveis, a não ser numa espécie de caricatura de avaliação referente ao presente ano lectivo, mas que a todo o custo querem fazer, só para dizer que sim.
Acresce a isto o facto de os próprios órgãos, ainda democráticos das escolas - os Conselhos Pedagógicos e os Conselhos Executivos -, a quem cabe a tarefa ingrata de avançarem com este obscuro processo, são, eles próprio, órgãos a prazo e com morte anunciada.
Os professores querem ser avaliados. A sério. Com garantias de competência e de isenção. E também querem uma reforma. Do ensino. A sério. Não para inglês ver. E querem ser tratados como merece a dignidade da sua função.
Este processo de avaliação dos professores está desacreditado. Que os professores não se deixem desacreditar com ele, consentindo-o calados. Por isso, os professores e os órgãos democráticos das escolas tudo devem fazer para obrigar estes senhores a pensar melhor, a estudar melhor. Mais vale parar um pouco e ouvir que fazer asneiras de auto-satisfação.
Esta avaliação, como está a ser desenhada, não vai avaliar tanto a competência dos professores, mas vai avaliar mais a sua capacidade para agradar aos senhores que aí vêm. Por nomeação, pois claro.
E esta ministra, pela incompetência que tem demonstrado na condução deste processo, pela sua insensibilidade arrogante face à desqualificação do ensino público, pela sua incapacidade em entender a função docente, pela prepotência que foi aquele concurso para professores titulares, deve demitir-se. Em defesa de um ensino público de qualidade e de uma avaliação fiável dos professores, esta ministra deve demitir-se.
Para bem do país, para bem do ensino, para bem dos alunos, demita-se.
E venha depois uma reforma a sério. E uma avaliação a sério.
...
Nota: As minhas condolências aos amigos que tive e tenho no Partido Socialista, e que, apesar de tudo, ainda não venderam a alma ao diabo; principalmente aos que são professores, e que vivem, mais ou menos calados, esta tristeza.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Demita-se, senhora ministra

Parece impertinência, mas não é. O Crates tem que ser posto na rua. Não por aquilo que ele é. Que ele é como outros que antes dele foram. E é, certamente, como algum outro que se lhe possa seguir. Mas temos que o pôr na rua. Por quê, se não se vê uma perspectiva de mudança séria? Simplesmente para que ele perceba que ainda há gente neste país. E, havendo gente, há que correr o risco de aguentar uns tempos outro que pouco difira dele.
Que ganharemos com isso? Pouco. Mas será um pouco que é muito. Se o fizermos, os Crates, tenham eles o nome que tiverem, sentir-se-ão mais terra a terra. Sentir-se-ão mais aquilo que são. Isto é, sentir-se-ão insignificantes. E terão mais cuidado. Perderão aquela arrogância de quem acha que basta ser teimoso para ser considerada pessoa com personalidade que sabe o que quer. Ficarão mais mansos.
Mas antes do Crates, devemos começar pela Ministra da Educação. Não vou sequer dizer o nome dela, que aquilo é espectro sem nome. Aquela senhora até mete pena. Vejam-lhe aquela cara tensa, aquele olhar vazio. Não de frio. Mas de quem não é sequer capaz de ver o mal que está a fazer ao país. Aquela senhora tem que ser posta na rua. Por uma questão de estética. Por uma questão de incompetência.
Aquela senhora leu umas teorias à pressa. Fizeram-lhe um rascunho à toa. E ela, como todas aquelas pessoaas que não têm competência para pensar, segue o rascunho à risca. Faz-me lembrar aquela teoria peregrina sobre o direito ao sexo que os deficientes deveriam ter. Houve quem defendesse tal. E muito bem. Mas com quem com iam eles exercer esse direito? Com os teóricos que defendem caritativamente uma tal coisa? Não seria mal pensado. Não seria não senhor.
Aquela senhora odeia os professores. Para ela, os professores são, em termos simbólicos, um pai que ela quer castigar. Vá lá saber-se por quê. Fez e faz tudo para os amesquinhar. Mas essa atitude dela seria irrelevante, não fossem as consequências gravíssimas e duradouras que as suas medidas acarretarão durante muito tempo.
Temos que a pôr na rua. Não por uma questão de defender direitos corporativos. Não por uma questão de repor as graves injustiças e ultrajes que ela já fez aos professores. Não. Isso ainda é o menos. E é facilmente remediável. Nós temos que a pôr na rua por causa dos males que ela está a fazer aos nossos filhos, aos nossos netos, aos nossos jovens. Nós temos que a pôr na rua para defender a honra deste país. Este país não pode suportar um ensino medíocre e para medíocres. Temos que a pôr na rua.
Ela, e o Crates, querem acabar com o ensino público. Querem que o ensino público passe a ser um ensino marginal, irresponsável e inócuo, onde se vão entretendo os filhos dos pobres e dos tolos. Temos que a pôr na rua.
E sim. Não tememos a avaliação. Mas uma avaliação séria. Feita por gente competente e séria. Não por um electricista que vai avaliar um professor de Literatura; não uma avaliação baseada nas notas que o professor será forçado a dar, só para fazer boa figura nas estatísticas; não uma avaliação em que contam as "brincadeirinhas" para enganar, devidamente expostas, no átrio das escolas, e, se possível, até nos jornais locais, para o senhor avaliador ver; não uma avaliação em que interferem, sem consistência, pais e alunos, apenas porque sim.
Esta ministra quer que os professores mais sinceros e honestos desesperem e fujam das escolas. Mas esses não devem fazer-lhe a vontade. Até por amor à profissão que têm e aos alunos de que gostam; até por solidadriedade para com os professores mais novos, postos à mercê de ditadores democráticos que podem muito bem prejudicar-lhes a carreira consoantes os apetites e os humores que têm.
A ministra tem que ir para o olho da rua. Ela nem imagina o mal que está a fazer. Os professores têm que resistir. Pela sua honra. Pelo bem dos jovens com quem lidam. Pelo bem do país.
Que me importa que essa senhora tenha aquele olhar tenso de vítima encurralada que odeia o mundo? Que me importam males mal resolvidos por essa senhora? Que me importa que ela nos faça a vida negra? O que me importa é lutar contra ela. Lutar e vencer. Porque ela não sabe o que é um professor. Porque ela não concebe que um professor não vai permitir que uma figura menor o possa ultrajar.
Piores que esta ministra, só os seus lacaios que na escola engolem todos os seus escarros. Porque são medíocres. Ou porque esperam recompensas e cargos.
A ministra tem que ser posta no olho da rua. É um imperativo de dignidade. É um imperativo de quem é professor e gosta de o ser. É um imperativo de quem defende os jovens.
Senhora ministra, se lhe resta um pingo de vergonha, demita-se já.
Os professores não vão desistir.
E, se morrerem, morrrerão de pé.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Crates - atleta e projectista

O senhor Crates é uma verdadeira evolução na continuidade. Isto é, quanto mais sabemos das suas capacidades malabaristas, mais confirmamos aquilo que já sabemos que ele é. É um bota de elástico, que se extende e encolhe até ao exacto ponto das suas convieniências. É um videirinho. Mas os factos traem-no. E não há acessor de comunicação ou maquilhagem que consiga ocultar mais aquilo que ele é : uma vacuidade inconsistente e incompetente.
Subiu a pulso na vida, não com a força digna do pulso, mas com a força mesquinha do chico esperto que fura fura, arranja arranja, esconde esconde, omite omite, engana engana.
As habilitações do Crates são exemplo disso. Podem ser muito legais. Mas foram arranjadas, as tais de licenciado, a toda a pressa, nos sítios certos, nos momentos certos, nas instituiçoes certas.
Analisada a história, até parece que o que lhe interessava era só o título, para dar cá um certo verniz às funções que a política e o partido lhe iam oferecendo. Não foi bom exemplo de honestidade intelectual ou de consideração pela educação. Antes pelo contrário. Talvez seja por isso que o seu governo queira destruir, passo a passo, a seriedade do ensino público, desqualificando-o, e tentando espezinhar e humilhar os professores que ainda o são, para que desesperem, para que enlouqueçam, para que fujam. Mas não vão fugir.
Ficou-se agora a saber também uma outra habilidadezinha que o senhor Crates tem. Pelos vistos, ele até gostava de ter tentado a sua profissão técnica. Dedicou-se mesmo à actividade frenética de assinar em série projectos inestéticos - que não eram seus -, sem qualquer critério que não fosse o do "favor a amigo", numa promiscuidade que facilmente leva ao favor e à corrupção. Pode também ser tudo muito legal. Mas nem tudo o que é legal é digno, honrado e justo.
Depois, tal como nas habilitações, mete os pés pelas mãos ao (não) dar explicações claras, e tenta, em vão, mostrar que as suas artimanhas manhosas são coisa inocente, são coisa comum, são coisa normal, são coisa legal. E até podem ser. Mas mostram, mais uma vez, este seu carácter de chico esperto, fura fura, omite omite, esconde esconde, que subiu na vida, não tanto pela força digna do pulso, mas mais pelo aproveitamento oportunista da força das funções que foi tendo e que o partido lhe foi arranjando.
Dizem que isto é passado, que não tem importância, e que o que importa é o que ele faz agora. E seria verdade, se ele, agora, não revelasse os mesmos tiques de mediocridade teimosa e autoritária, sem olhar a meios para tingir os fins. Ele continua a ser o mesmo. E os seus escrúpulos também. Por isso o país cada vez mais se afunda. E nós não podemos ficar passivos a olhar.
Cada vez mais os seus comensais vão ter mais dificuldade em proteger-lhe a imagem. Ele é de plástico e, quando a temperatura aquece, o plástico revela-se, perdendo a forma de aparência consistente e séria. Claro que os seus comentadores, jornalistas e analistas amigos, de todos os sectores, por entre juras solenes de imparcialidade e de objectividade, o vão defender. E vão atacar todos os que não estão com ele, por todos os meios, chamamdo-lhes de tudo, a ver se metem medo.
Já estão a aparecer por aí alguns pesos pesados desses comensais. E o mais engraçado é que, perante a impossibilidade de negar o óbvio da crítica, eles refugiam-se na forma. Dizem que sim. que há ali algo que não está certo. No conteúdo. Só que passam como gato sobre brasas por cima do conteúdo, e atacam a forma e o tom como a crítica é feita.
Ele há formas melhores e até mais eficazes, mas, quanto a mim, o principal continua a ser o conteúdo que se critica, e não tanto a forma como ela é feita. Por mais destemperada que a forma tenha, o conteúdo é que deve merecer mais a nossa a tenção. Mas os homens da imagem do Crates, esses acham que não. E fazem muito bem, que há que defender o amigo, que lhes agradece bem.
Ah! Os seus amiguinhos já vão espalhando aquela coisa angélica de que o Crates agora já tem voz mais suave. Que são as eleições. E ele, o Crates, lá veste outra pele. Mas por debaixo dessa outra pele que veste, está a pele dele, que não é de fiar.
E nem todos são crentes. E nem todos são parvos.
....
Nota: Desculpem-me a ausência nesta última semana.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Curiosidades

1.
Hoje é começo de mês, sexta-feira, dia 1 de Fevereiro. O nome do mês deriva das festas a que os romanos chamavam Februais, e que se celebravam no dia 15 deste mês. Eram festas expiação ou de purificação em honra das almas dos mortos. Uns expiadores santos, e purificadores devotos, estes romanos que por cá passaram.
Deixaram-nos muito de tudo. Principalmente a alma, na forma de cultura e língua. E, como eles, temos também dia marcado em honra das almas dos nossos. Só que não são Februais, mas o nome pouco interessa. O que interessa é que os honramos.
2.
É dia de Santa Brígida da Irlanda, ou, simplesmente de Santa Brígida, a mística. Como vêem, todos os povos têm os seus santos. Não os têm muitas vezes apenas por serem santos, mas por serem santos seus. Pelo menos assim o dizem. Os irlandeses, esses então não desaproveitam nenhum que digam poder ser seu.

Nota:E fico-me por aqui, já que tenho que sair. Mas volto, que estas são notas de se ir escrevendo aos poucos.
Até já.