quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sócrates e a Educação

No texto que hoje deixei no Tempo, Em jeito de encenação artística, referi-me à entrevista do primeiro ministro feita à Sic, na segunda-feira passada. Comentei encenações. Queria, depois, referir-me ao que ele disse acerca da Educação. Faltou-me, porém, o tempo, e prometi voltar ao tema. Ora vamos lá, pois então!
Esperava-se que o primeiro ministro, José Sócrates, enfrentasse com coragem e clareza as mudanças mais sensíveis, que estão a acontecer no sistema educativo, de forma muito casuística, de forma muito empírica, de forma desarticulada, de forma muito apressada, de forma incompreensível - uma grande trapalhada. Mas não.
Ele passou pela Educação como gato sobre brasas. Misturou os chavões já gastos, que usa nesta área sensível, em todo o lugar que fala, mas não ousou esclarecer nada, fugindo sempre às questões, para evitar a polémica. Mas, nesta parte da entrevista, o seu discurso ensaiado não saiu tão fluído, embora ele tenha enumerado algumas das suas medidas heróicas, sempre sempre acertadas, deixando nas entrelinhas que, se alguma coisa está mal, a culpa é dos professores, transformados, por ele e pela ministra dele, em bodes expiatórios.
Entre as medidas heróicas, tiradas da sua cartola, referiu, de forma apressada e vaga, as aulas de substituição, as colocações por três anos, a avaliação dos professores, a nova gestão escolar, a introdução generalizada do Inglês no primeiro ciclo, o novo e original sucesso escolar, que já está garantido. Misturou todas as coisas, não esclarecendo nada do que urgia esclarecer.
Quanto às aulas de substituição, esqueceu-se de dizer que, mais que de substituição, elas são de ocupação, e que não são aulas a sério - a não ser para quem vive fora da realidade -, e que são uma daquelas coisas para entreter os alunos, fingindo que é a sério, e para enganar os pais, pensando que seus filhos, assim, não ficam sem aula.
As colocações por três anos são uma questão de sorte ou azar, e não um bem só por si – perguntem aos professores que durante esses três anos têm de percorrer umas centenas de quilómetros, ou alugar nova casa, ou separar-se dos seus. Mas colocar-lhe estas questões seria quase ofendê-lo, que tudo o que ele faz é bem.
Quanto ao processo de avaliação dos professores, que ele teima ser já para este ano, esqueceu-se de dizer que ele é um processo caótico, sem instrumentos de registo, sem parâmetros perceptíveis, com prazos impraticáveis, sem se saber bem o que se avalia, nem quem avalia quem, nem qual é a competência que o primeiro quem tem ( ver texto Contra a prepotência).
Quanto à nova-futura gestão escolar, ela acaba de um golpe só com a gestão democrática, agora demonizada, angelizando-se à partida, e de forma muito acrítica, a que se lhe vai seguir. Mas ninguém ainda falou no modo de prevenir que essa nova gestão se venha a transformar em partidarização das escolas, com comissários políticos, por nomeação escolhidos, que serão avaliadores. Sempre serão mais uns lugarzitos, não é?
Eu sei que o Inglês é importante. Mas não tem a importância primeira. Muito mais que o Inglês é, para nós, o ensino do Português e da Literatura Portuguesa (com que já se está a acabar). Mas disseram ao primeiro ministro que o Inglês é que era, e ele - pelo fino Inglês que fala, e pela experiência que tem em exames de Inglês Técnico -, também acha que é.
Quanto ao sucesso escolar, é verdade que aumentou. Aumentou, e de que modo. E vai aumentar muito mais. E já mesmo neste ano. Isso vo-lo garanto. E com os novos critérios de avaliação de alunos e professores, isso então é que vai ser. Que se chegue ao secundário, e até à universidade, sem se saber ler ou escrever, isso é de pouca monta.
Para o primeiro ministro, que se assina José Sócrates - os seus dois primeiros nomes -, em jeito de nome artístico, o que interessa é o sucesso, o sucesso estatístico, que ele irá perseguir até chegar pelo menos aos 100%.
O que lhe interessa é o sucesso. O sucesso a qualquer preço. O sucesso estatístico. Nem que seja de mentira.
O que interessa é o diploma. Seja de que modo for.
É o que Sócrates pensa.
E ele sabe bem por quê.

38 comentários:

Elisabete disse...

Como sempre, perfeito!
Se mo permitir, vou destacar o seu blogue no meu "Luar de Janeiro", onde tenho tentado dar o meu contributo nesta "cruzada pela Educação".
Contimue, por favor!

TempoBreve disse...

Elisabete!

Desculpe por só agora. Não me elogie que eu gosto. Se destacar no seu "Luar", o meu Tempo, ou as minhas Sete, ficarei muito vaidoso. E, antecipadamente, agradeço, oferecendo-lhe a palavra "flor". Mas vai ter um problema, se tiver de escolher entre o Tempo ou as Sete, uma vez que são dois rios que se cruzam muitas vezes.
Agradeço a visita. Visitarei o "Luar". Continuarei, sim, senhora!

Anónimo disse...

ENSINO DO PORTUGUÊS
RESUMO DE INTERVENÇÃO NO CONGRESSO DA LUSOFONIA EM BRAGANÇA (5-Outubro-2007)

UM LUGAR ONDE A LÍNGUA PORTUGUESA (VARIEDADE ALENTEJANA...)ESTÁ EM AGONIA
SALVAR O PORTUGUÊS EM OLIVENÇA
(inclui reflexões de um jovem local de 28 anos )
Carlos Eduardo da Cruz Luna/Rua General Humberto Delgado, 22, r/c 7100-123-ESTREMOZ (PORTUGAL) carlosluna@iol.pt caedlu@gmail.com 00351-268322697 (fixo) 00351-939425126
Em 1840, trinta e nove anos após a ocupação espanhola (1801), o Português foi proibido em Olivença, inclusivamente nas Igrejas.
Todavia, ele foi sobrevivendo, numa deliciosa toada alentejana, que logo
as autoridades, vigilantes, classificaram como "chaporreo", palavra de
difícil tradução (talvez "patois"; talvez "deturpação"), que criou complexos
de inferioridade nos utilizadores, levando-os, cada vez mais, a usar a
Língua Tradicional apenas a nível caseiro, dentro do aconchego do lar.
Mesmo com esses condicionalismos, depois de duzentos anos de pressão, ela
é entendido e falado por cerca de, pelo menos 35% da população, segundo
cálculos da União Europeia (Programa Mosaic).
Como sucede, contudo, neste casos, em qualquer ponto do Globo, o
Português foi perdendo prestígio. Não sendo utilizado nunca em documentos
oficiais, na toponímia (salvo se traduzido e deturpado), ou em qualquer
outra situação que reflectisse a dignidade de um idioma, manteve-se,
discretamente, por vezes envergonhadamente.
A ditadura franquista piorou a situação. Nas décadas de 1940, 1950, e 1960, era
raríssimo, mesmo impossível em alguns casos, encontrar professores,
polícias, funcionários em geral, que fossem filhos da terra oliventina, na
própria Olivença. Colonizadores inconscientes, peões numa política geral de
destruição das diferenças por toda a Espanha.
Por ironia da História, alguns desses cidadãos "importados", com muito
menos complexos que os naturais porque não tinham, quaisquer conflitos de
identidade, ou os seus filhos, puseram-se a estudar os aspectos "curiosos",
"específicos", da cultura oliventina, acabando por produzir
trabalhos de valor sobre a cultura da sua Nova terra, que podem chamar para
sempre, e sem contestações, de Terra Mãe, por adopção, por paixão, ou já por
nascimento.
A Democracia abriu algumas novas perspectivas, mas os fantasmas não
desapareceram de todo. Alguns cursos de Português foram surgindo, com maior
ou menor sucesso. Por vezes ao sabor de questões políticas, como durante a
Década de 1990 . Em 1999/2000, continuando em 2000/2001, a Embaixada de
Portugal em Madrid, e o Instituto Camões, passam a apoiar o apoiar o ensino
do português no Ensino Primário em todas as Escolas de Olivença. Incluindo
as Aldeias. Apenas Táliga, antiga aldeia de Olivença transformada no Século
XIX em município independente, está ainda de fora deste projecto, para o
qual foram destacados, primeiro três, depois quatro professores portugueses.
É urgente acudir a Táliga, onde só 10% da população ainda tem algo a ver com
a Língua de Camões.
Foi dado um primeiro e importante passo. Mas não se tem revelado
suficiente. O Estado Português deverá tentar influenciar mais a tomada de
outras medidas, dada até a sua posição sobre o Direito de Soberania sobre
Olivença: o ensino da História (que não é feito em parte nenhuma em
Olivença), por exemplo: a utilização prática da Língua, em documentos
oficiais, toponímia, etc.; a continuação do Estudo do Português até níveis
de ensino mais avançados; e tantas coisas mais que se poderiam referir!
Acima de tudo, é preciso dar ao Português dignidade... e utilidade.
Revalorizar o Português que sobrevive, o qual, por ser uma variante da fala
lusa regional do Alentejo, é vítima de comentários pouco abonatórios.
Deve-se "fazer a ponte" entre as velhas gerações e os jovens alunos.
Ensinando-lhes, por exemplo, a partir de exemplos da velha poesia popular e
erudita oliventina, no idioma de Camões, e que é ainda, graças a recolhas
etnográficas e a alguns poetas populares vivos, suficientemente conhecida
para tal. Porque, sem perceberem que estão a dar continuidade à cultura dos
seus avós, os jovens oliventinos dificilmente compreenderão que aprender a
língua lusa é muito diferente de aprender uma língua estrangeira (Inglês,
Francês, Alemão). É preciso dizer claramente que o Português é
imprescindível para que as novas gerações compreendam o que as gerações
anteriores quiseram transmitir.
Por tudo isto, a situação actual não é famosa. Há estudos recentes que falam em
"declínio do Português em Olivença", no seu uso coloquial, como um trabalho
da Professora Maria de Fátima Resende Matias, da Universidade de Aveiro.
Como dizia um jovem oliventino (Junho de 2007), a este respeito, «isto é uma
verdadeira tragédia; depois de pouco mais de 200 anos, o português vai
desaparecer em Olivença; a alma dos povos é a lingua; a lingua é a memória,
é tudo; em Olivença vam ficar sómente as pedras, as fachadas, do que foi o
seu passado português; Nao há nada mais triste que conhecer que o fim vai
chegar e ninguém fiz[fez] nada para evitá-lo; ninguém compreende que a morte
do último luso-falante vai ser a morte da alma portuguesa, o fim de gerações
falando português nas ruas, nas moradias, no campo oliventino, ao longo de
mais de sete seculos?». E continua: «O artigo da senhora Fátima Matias
explica perfeitamente as razoes e o contexto da agonia do português em
Olivença; mas... agora já não há ditadura; Deveriamos ficar orgulhosos de ter esta riqueza linguística e procurar a defesa e o ensino do português oliventino; (...) e,
um pouco também, o Estado português é também responsavel; com independência
de questões de índole soberanista, deveria implicar-se na promoção do
português em Olivença e nao sómente não reconhecer [a soberania espanhola] e
não fazer nada.»
Pode-se aplaudir o que se faz hoje, mas é imprescindível algo mais:
faça-se um estudo do Português-Alentejano falado em Olivença, e ligue-se o
mesmo ao Português-Padrão ensinado nas Escolas, de modo a fazer a ligação
entre as gerações e produzir uma normal continuidade que deveria
naturalmente ter ocorrido. Assim se corrigirá a distorção introduzida pela
pressão do Castelhano. Este estudo pode ser feito por quem se mostre capaz
de o fazer: portugueses, mas também alguns especialistas e linguistas
extremenhos. A nenhum Estado (Portugal ou Espanha) se poderá perdoar deixar
morrer uma cultura !
O aspecto político da questão, que existe, pode ser secundarizado ao máximo.
O Primeiro passo poderão ser umas Jornadas, ou um Congresso, sobre o
tema, que reuna a participação de especialists e autoridades das mais
diferentes origens, unidos pela sua boa vontade...

Estremoz, texto actualizado em Agosto de 2007
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Carlos Eduardo da Cruz Luna
carlosluna@iol.pt 22-07-2007 SALVAR O PORTUGUÊS DE OLIVENÇA


INTERVENÇÃO, JÁ APROVADA, PARA O CONGRESSO DA LUSOFONIA
INTERVENÇÃO, JÁ APROVADA, PARA O CONGRESSO DA LUSOFONIA
Carlos Luna/carlosluna@iol.pt


INTERVENÇÃO/TEXTO PARA O COLÓQUIO DA LUSOFONIA
BRAGANÇA, OUTUBRO DE 2007
APELO A ESPANHÓIS E PORTUGUESES PARA SALVAÇÃO DE UMA LÍNGUA
A SITUAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM OLIVENÇA

1)CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS/SITUAÇÃO DO ALENTEJANO

Já não se considera, hoje em dia, que seja "natural" a desaparição de uma língua. Muito menos se aceita que haja línguas "superiores" e "inferiores".
Sabemos que uma língua viva sofre evolução. Isso é diferente de defender que uma linguagem deva desaparecer, ainda que tal possa ocorrer.
Uma língua não é só um conjunto de sons, articulados de forma convencional, de modo a designar algumas necessidades básicas de comunicação. Uma língua, sabemo-lo hoje, é um Universo Cultural no qual, entre outras coisas, se encerram os pensamentos, as emoções, as percepções do Mundo. A língua reflecte a História, e influencia-a por sua vez.
Línguas houve que não sobreviveram. Outras que foram salvas à beira da extinção. Lembramo-nos todos do caso do Mirandês.
Mesmo as línguas menos utilizadas mostram muito do Universo em que evoluíram. Refletem a História de um grupo humano.
O Português, porque é uma língua viva, não parece ter os problemas de sobrevivência de uma língua minoritária. Afinal, não tardará muito que tenha trezentos milhões e utilizadores. A sua divresidade enriquece-a permanentemente.
Mas... porque não é uniforme, nem está parada no tempo, a Língua Portuguesa sofre agressões. E algumas das suas, digamos, formas, podem estar ameaçadas. Ninguém duvida, por exemplo, que a "forma" alentejana de falar o Português esteja em relativo declínio. Mesmo porque ( e aqui entram aspectos políticos ), ao privilegiarem-se unitarismos linguísticos ditos "cultos" e centralismos castradores e preconceituosos, não houve grandes cuidados em preservar esse património cultural que era ( e ainda é ) o "alentejano".
Apesar de tudo, o "alentejano" é um dialecto, ou subdialecto, do Português. Os falantes do Português Padrão, os falantes actuais da língua lusa no Alentejo, se verdadeiramente cultos, procurarão preservá-lo, registá-lo por escrito, explicá-lo. E, porque o "alentejano" tem raízes conhecidas, ele será, pelo menos, compreendido... embora corra o risco de ser pouco "sentido".
Àqueles que consideram o "alentejano" uma forma inferior, por só verem o prestígio social numa forma de se expressar e não a sua lógica interna, a sua riqueza cultural, ou o seu valor histórico, nada há a dizer, pois essas pessoas não poderão ser consideradas como verdadeiramente cultas.
Para quem a língua é mais do que isso, para aqueles que têm do fenómeno linguístico uma visão mais humanista, muito há a dizer.
O "alentejano" tem séculos de existência". Numa época em que se procura tornar impensadamente igual tudo o que rodeia o Homem, esquecendo-se que uma das coisas que mais o satisfaz é a diversidade, há que lutar para que não morra. Essa é uma tarefa de todos os alentejanos, e de todos os amigos da cultura, portugueses ou não.
A luta é difícil, mas há meios, é possível aceder a informação, e nada, senão muitas vezes os preconceitos dos próprios alentejanos, impede que se faça um esforço nesse sentido.

2) UMA REGIÃO ONDE O "ALENTEJANO" ESTÁ EM RISCO

Mas... a Língua Portuguesa, e, neste caso concreto, a sua forma alentejana, corre riscos, e sérios, de extinção, num espaço geográfico onde era "rei e senhor". Numa região que fica junto da sua matriz natural. As opiniões políticas não são consensuais sobre ela, mas procuremos evitar essa polémica, embora não o possamos desdenhar completamente, com o risco de elaborarmos um diagnóstico incorrecto e de prováveis soluções "curativas" não poderem, por isso, ser eficazes.
Refiro-me à Região de Olivença, hoje constituída por dois Concelhos: Olivença e Táliga. No total, pouco mais de 12 000 habitantes em 463 Km.2. Aqui, infelizmente, conforme foi denunciado por dois estudos linguísticos bem significativos (Maria de Fátima Resende Matias, "A AGONIA DO PORTUGUÊS EM OLIVENÇA", 2001 ,Revista de Filologia Românica, vol. 18, 201, e Manuel Jesus Sánchez Fernàndez, "PORTUGUÊS DE ESPANHA. EXEMPLO: O DE OLIVENÇA", 2004 ), o Português está em risco. Está "em agonia", diz um dos estudos.
Não é uma história bonita, esta. E está incompleta. Todavia, a História da sobrevivência da Língua Portuguesa em Olivença terá que ser feita um dia. Mais do que sobrevivência, é uma História de Resistência, dados a pressão e os condicionalismos vários, ainda muito mal estudados.
Mas tem que ser contada, uma e outra vez, enquanto é tempo. O drama começou em 1801...
Tem-se aqui de se referir toda uma política. Não se pretende levantar uma polémica, mas não é possível compreender o que se passou, e a situação actual, ocultando-se factos decisivos.
Assim, já em 26 de Janeiro de 1805, suspendeu-se, naturalmente, o uso da moeda portuguesa em Olivença. As autoridades espanholas comunicaram então a vários ofícios, nomeadamente aos aguadeiros, que era obrigatório usar medidas espanholas (referiam-se a comprimento, peso, volume, etc.).
Claro que a Língua não tardaria a sofrer as consequências. A 20 de Fevereiro de 1805, foi decidido suprimir toda e qualquer escola portuguesa, bem como o ensino do Português. A 14 de Agosto de 1805, as actas da Câmara Municipal passaram a ser escritas obrigatoriamente em Castelhano, o que fez uma vítima: Vicente Vieira Valério. Este, negando-se a escrever na Língua de Cervantes, teve de ceder o lugar a outro. E acabou por morrer à mingua de recursos, personificando um drama cujo desenvolvimento se processaria, geração após geração.
Há notícias de oposição dos oliventinos a estas medidas. As Escolas privadas continuaram a ministrar ensino em Português, até que são fechadas a 19 de Maio de 1813, com o propósito (oficial) "de evitar qualquer sentimento patriótico lusitano" ( A.M.O. leg/Carp 7/2-18, 19-05-1813, n.º 1324; revelado por Miguel Ángel Vallecillo Teodoro, "Olivenza en su História", Olivença, 1999 ).
Mas, porque eram muitos os oliventinos que queriam que os seus filhos fossem educados na língua materna, continuaram a existir professores particulares para o fazer. O "Ayuntamiento" não hesitou, e proibiram-se "as aulas particulares, sob pena de multa de 20 Ducados", em 1820 ( A.M.O. leg/Carp 8/1-171, 7-10-1820, n.º 1704; revelado, também, por Miguel Ángel Vallecillo Teodoro, "Olivenza en su História", Olivença, 1999 ).
A população oliventina mantinha as velhas tradições, a vários níveis, procurando agir como se nada tivesse mudado. Mas tal foi sendo cada vez mais difícil, e muita gente foi emigrando, principalmente para as povoações portuguesas mais próximas.
Em 1840, trinta e nove anos após a ocupação espanhola ( recorde-se: efectuada em 1801 ), o Português foi proibido em Olivença, inclusivamente nas Igrejas. O combate contra a Língua de Camões já vinha de trás, todavia.
Algumas elites forma aceitando o castelhano. O Português foi-se mantendo, teimosamente, principalmente a nível popular. Numa deliciosa toada alentejana, que logo as autoridades, vigilantes, classificaram como "chaporreo", palavra de difícil tradução (talvez "patois"; talvez "deturpação"), que criou complexos de inferioridade nos utilizadores, levando-os, cada vez mais, a usar a Língua Tradicional apenas a nível caseiro, dentro do aconchego do lar, em público, quase só por distracção, ou com amigos próximos.

3) ÂNGELO BREA HERNANDEZ E AS SUAS CONCLUSÕES

Cabe aqui citar algumas considerações do autor contemporâneo Ângelo José Brea Hernandez, o que já fiz, sem hesitar, noutros trabalhos. A maneira como ele descreve o fenómeno de destruição de uma língua, tornada minoritária ,são de extrema actualidade.
Segundo o citado, é costume, no colonialismo "tradicional", considerar a Cultura Dominante como muito superior às culturas dominadas. Tal situação verifica-se sempre em qualquer situação colonial, já que uma cultura tenta destruir a outra. Sem nos limitarmos apenas ao exemplo do Colonialismo Clássico, podemos analisar este aspecto através de outras situações. Assim, é sabido que a Cultura Urbana tenta dominar a Cultura Rural; que a cultura da Grande Cidade procura dominar a das pequenas cidades; que a Cultura das Regiões Centrais tente dominar as Culturas das Regiões Periféricas. Todavia, nestes casos quase não existe um conflito num sentido clássico ou violento do termo. Já, por exemplo, no colonialismo europeu em África, as diferenças são significativas, e o conflito assume formas bem violentas...
Todavia, entre culturas próximas, a cultura dominante tem evidente facilidade em assimilar a da sua região dominada. À partida, já muita coisa é igual!
Não obstante, e por estranho que pareça, isso nunca é completamente possível. Isto porque se de facto a região, mesmo pequena, tem uma cultura própria ainda que parecida, há muitos factores que o impossibilitam ou dificultam em externo, como a própria dinâmica interna da língua, a psicologia, o carácter, os nomes e apelidos, a arquitectura, e muitas outras coisas, de maior ou menor revelância. Por isso, por toda a Europa, por exemplo, em muitos Países, algumas culturas locais conseguiram resistir e conquistar o direito à diferença. Nacionalidades/Culturas que se julgam mortas renasceram. Desde talvez os Séculos XVI e XVII, o colonialismo, ou colonização, e a aculturação forçada, perderam quase toda a sua eficácia na maior parte da Europa. As pequenas regiões, mesmo falando línguas dos seus dominadores, não aceitam a sua destruição.
Também não há razões fundamentais, hoje em dia, para se considerar que as culturas maiores em área ou população têm mais direitos do que as menores. E parte-se do princípio que, entre povos e estados modernos, Estados de Direito, os problemas culturais, ou fronteiras, ou outros, já não são tão dramaticamente conflitivos como noutros tempos. Por outro lado, deixar problemas por resolver, ignorando-os, provou não ter sido uma atitude correcta, como o provaram os conflitos aparentemente ilógicos e cruéis na antiga Jugoslávia...
Também muitos argumentos de carácter económico mostraram não ser definitivos... porque nada é definitivo! Hoje, uma economia está mais forte... mas, no passado, não era isso que se verificava! E... quem pode dizer como vai ser o futuro?
Afinal, NÃO HÁ CULTURAS SUPERIORES OU INFERIORES. HÁ CULTURAS DIFERENTES, TODAS RESPEITÁVEIS. NÃO HÁ OUTRO CAMINHO VISIVEL PARA O FUTURO QUE NÃO SE BASEIE NESTE PRINCIPIO. Na verdade, a causa de muitos conflitos actuais está no NÃO CUMPRIMENTO OU ACEITAÇÃO deste princípio, quer no passado, quer no presente. Desta forma, alguns dos argumentos tradicionais para justificar algumas aculturações estão sujeitos a uma curiosa evolução, perdendo valor, enquanto outro tipo de argumentos ganham peso.

4) VOLTANDO A OLIVENÇA

O hábito e o amor-próprio levavam o oliventino a, quase constantemente, "saltar" do castelhano para o português. De tal forma que, depois de duzentos anos de pressão, ele é entendido e falado por cerca de, pelo menos 35% da população, segundo cálculos da União Europeia (Programa Mosaïc).
Como sucede, contudo, neste casos, em qualquer ponto do Globo, o Português foi perdendo prestígio. Não sendo utilizado nunca em documentos oficiais, na toponímia (salvo se traduzido e deturpado), ou em qualquer outra situação que reflectisse a dignidade de um idioma, manteve-se, discretamente, por vezes envergonhadamente. A Televisão e a Rádio vieram aumentar a pressão sobre o seu uso e compreensão.
A Ditadura Franquista acentuou a castelhanização. Agora oficialmente, o Português era uma Língua de quem não tinha... educação! Uma Língua de Brutos, ou, como também se dizia, uma Língua Bárbara!
Não obstante, ela sobreviveu. Mesmo nas ruas, surgia e ressurgia, a cada passo... raramente na presença da autoridades. Mesmo algumas elites continuavam a conhecê-la, embora numa fracção minoritária.
Nas décadas de 1940, 1950, e 1960, era raríssimo, mesmo impossível em alguns casos, encontrar professores, polícias, funcionários em geral, que fossem filhos da terra oliventina, na própria Olivença. Colonizadores inconscientes, peões numa política geral de destruição das diferenças por toda a Espanha.
Se há ironias na História, esta pode ser uma delas. Alguns desses cidadãos "importados", com muito menos complexos que os naturais porque não tinham, quaisquer conflitos de identidade, ou os seus filhos, puseram-se a estudar os aspectos "curiosos", "específicos", da cultura oliventina! "Oliventinizados", por vezes até, ainda que ligeiramente, em termos linguísticos, acabaram por produzir trabalhos de valor sobre a cultura da sua Nova terra, que podem chamar para sempre, e sem contestações, de Terra Mãe, por adopção, por paixão, ou já por nascimento.

5) NOVOS TEMPOS/ALGUMAS PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

A Democracia deveria ter aberto novas perspectivas, mas os fantasmas não desapareceram de todo. Alguns cursos de Português foram surgindo, com maior ou menor sucesso. Por vezes ao sabor de questões políticas, como durante a Década de 1990 por causa dos avanços e recuos no atribulado processo que levou à construção de uma nova Ponte da Ajuda o Guadiana, entre Elvas e Olivença (inaugurada em 11 de Novembro de 2000).
Em 1999/2000, continuando em 2000/2001, a Embaixada de Portugal em Madrid, e o Instituto Camões, passam a apoiar o apoiar o ensino do português no Ensino Primário em todas as Escolas de Olivença. Incluindo as Aldeias. Apenas Táliga, antiga aldeia de Olivença transformada no Século XIX em município independente, está ainda de fora deste projecto, para o qual foram destacados, primeiro três, depois quatro professores portugueses. Aproveite-se para dizer ser urgente acudir a Táliga, onde só 10% da população ainda tem algo a ver com a Língua de Camões. Urgentíssimo!
Tinha sido dado um primeiro e importante passo. Mas não se tem revelado suficiente. O Estado Português deverá tentar influenciar a tomada de outras medidas, dada até a sua posição sobre o Direito de Soberania sobre Olivença: o ensino da História (que não é feito em parte nenhuma em Olivença), por exemplo: a utilização prática da Língua, em documentos oficiais, toponímia, etc.; a continuação do Estudo do Português até níveis de ensino mais avançados; e tantas coisas mais que se poderiam referir!
Não resisto a citar um caso em que a omissão de dados históricos é particularmente significativa: muitos oliventinos pensam que há "Olivenças" na América Latina, mas pensam ser no México ou na Argentina, o que é falso. Ignoram,quase todos, que há três Olivenças no Brasil (uma no interior de Alagoas; outra na costa baiana, junto a São Jorge de Ilhéus; uma terceira no Amazonas, denominada São Paulo de Olivença), e que houve uma em Angola (hoje Capunda-Cavilongo) e outra em Moçambique (hoje Lupulichi). Que idéia tem o oliventino do seu papel no Mundo?
Pouco interessa aqui dar demasiada relevância ao problema que subsiste entre os dois maiores Estados Ibéricos. O que não se pode negar é e ele existe e influencia esta problemática, ainda que pouco importe aprofundar aqui quem tem razão. Não se pode, também, é "fingir" que está tudo perfeitamente definido ! muito menos em nome do politicamente correcto....
Para já, e acima de tudo, é preciso dar à Língua Portuguesa dignidade... e utilidade. Descolonizar/Recuperar Cultural e Linguisticamente, pelo menos em termos psicológicos. Revalorizar o Português que sobrevive, o qual, por ser uma variante da fala lusa regional do Alentejo, é vítima de comentários pouco abonatórios. Deve-se "fazer a ponte" entre as velhas gerações e os jovens alunos. Ensinando-lhes, por exemplo, a partir de exemplos da velha poesia popular e erudita oliventina, no idioma de Camões, e que é ainda, graças a recolhas etnográficas e a alguns poetas populares vivos, suficientemente conhecida para tal. Porque, sem perceberem que estão a dar continuidade à cultura dos seus avós, os jovens oliventinos dificilmente compreenderão que aprender a língua lusa é muito diferente de aprender uma língua estrangeira (Inglês, Francês, Alemão). É preciso dizer claramente que o Português é imprescindível para que as novas gerações compreendam o que as gerações anteriores qui




seram transmitir.

6) EXEMPLOS DE FALA OLIVENTINA/UMA VOZ CONSCIENTE

Não resisto a dar aqui alguns exemplos da tradição popular oliventina, dominada pela terminologia alentejana:

Na Vila de Olivença Ó minha mãe, minha mãe,
não se pode namorar! "companhêra" de "mê" pai,
As velhas saem ao Sol eu "tamêm" sou "companhêra"
e põem-se a criticar! daquele cravo que ali vai!

Eu tenho uma silva em casa Olha bem para o "mê" "pêto"
que me chega à "cantarêra" onde está o coração
busque "mê" pai quem o sirva vê lá se disto há "dirêto"
que eu "nã" tenho quem me "quêra"! diz-me agora: sim ou não !

"Azêtona" pequenina Saudades, tenho saudades,
também vai ao lagar; saudade das "fêticêras".
eu também sou pequenina Lembrança das amizades
mas sou firme no amar. da terra das "olivêras".

Se eu tivesse não pedia Adeus, Largo do Calvário
coisa nenhuma a "nênguém" por cima, por baixo não.
mas, como "nã" tenho, peço Por cima vão os meus olhos
uma filha a quem a tem por baixo, meu coração.

Textos destes poderiam multiplicar-se. Ainda, entre os idosos, há quem conheça estas quadras. Mas entre os jovens, poucos as conhecem. Como é possível que não se ensine Português aos oliventinos... começando por quadras como estas ? Começando por ouvir idosos declamarem-nas ?
Exemplos de que não tem sido essa a perspectiva do Ensino do Português ora leccionado encontram-se, por exemplo, no facto de, durante algum tempo, ter-se considerado que continuar o Ensino do Português no Secundário, como sucede em Badajoz e noutros locais, poderia ser perigoso em Olivença. Ridículo! Depois, tal foi levado a cabo, dizem que quase mais por insistência do Professor João Robles Ramalho, que de outra coisa. E, como o dito professor morreu, de repente, há uns meses... espera-se que tal não seja usado como desculpa para não se voltar a ensinar a língua a nível mais avançado. Haja esperança....
Mas a situação actual não é famosa. Há estudos que falam em "declínio do Português em Olivença", no seu uso coloquial. Como dizia um jovem oliventino (Junho de 2007), a este respeito, «isto é uma verdadeira tragédia; depois de pouco mais de 200 anos, o português vai desaparecer em Olivença; a alma dos povos é a lingua; a lingua é a memória, é tudo; em Olivença vam ficar sómente as pedras, as fachadas, do que foi o seu passado português; Nao há nada mais triste que conhecer que o fim vai chegar e ninguém fiz[fez] nada para evitá-lo; ninguém compreende que a morte do último luso-falante vai ser a morte da alma portuguesa, o fim de gerações falando português nas ruas, nas moradias, no campo oliventino, ao longo de mais de sete seculos?». E continua: «O artigo da senhora Fátima Matias explica perfeitamente as razoes e o contexto da agonia do português em Olivença; mas... agora ja nao há ditadura; Deveriamos ficar orgulhosos de ter esta riqueza linguística e procurar a defesa
e o ensino do português oliventino; (...) e, um pouco também, o Estado português é também responsavel; com independência de questões de índole soberanista, deveria implicar-se na promoção do português em Olivença e nao sómente não reconhecer [a soberania espanhola] e não fazer nada.»
Pode-se aplaudir o que se faz hoje, mas é imprescindível algo mais: faça-se um estudo do Português-Alentejano falado em Olivença, e ligue-se o mesmo ao Português-Padrão ensinado nas Escolas, de modo a fazer a ligação entre as gerações e produzir uma normal continuidade que deveria naturalmente ter ocorrido. Assim se corrigirá a distorção introduzida pela pressão do Castelhano. Este estudo pode ser feito por quem se mostre capaz de o fazer: portugueses, mas também alguns especialistas e linguistas extremenhos. A nenhum Estado (Portugal ou Espanha) se poderá perdoar deixar morrer uma cultura !

7) UMA LUTADORA EM NOME DA CULTURA E DA TRADIÇÃO

Há alguém, em Olivença, que é um exemplo. Trata-se de uma Senhora, que não admite que ponham em causa o seu amor a uma Olivença espanhola. Todavia, e para honra e Espanha, esta incansável senhora, Rita Asensio Rodríguez, tem dedicado a sua vida a escrever livros e mais livros, onde descreve os velhos costumes oliventinos, e, o que mais nos interessa aqui, a sua maneira de falar. Muitas vezes ela opina que se trata de formas únicas no mundo, pois desconhece o "alentejano". Todavia, ela faz recolha após recolha, e é ela que mais sabe, hoje em dia, sobre a fala popular oliventina. O seu último trabalho ("Apuntes para una História Popular de Olivenza", 2007), para além de descrever inúmeras tradições populares, algumas já desaparecidas, tem no fim uma espécie de "pequeno dicionário" de oliventino-espanhol.
Citar alguns exemplos é a melhor forma de justificar o tema da minha comunicação.
Começo por termos que não foram alterados, e que são comuns ao Português -Padrão:
Alcofa; Atrapalhado; Abóbora; Agriões; Alfazema; Bacorinho; Brincos; Bicas; Bazófia; Costas; Carocha; Chapéu; Coentro; Calças; Coelho; Courela; Espalhafato; Escaravelho; Esquecer; Ferro (de engomar); Fornalha; Grãos; Gargalo; Garfo; Ervilhas; Lenço; Maluco; Melão; Minhocas; Osga; Pousio; Picha; Pintassilgo; Peúgas; Poleiro; Panela; Rola; Roseira; Ranho; Saudade; Salsa; Turra; Tacões; Ventas (nariz); Vespa.
Sigo com termos alentejanos,ou que considerei como tais para melhor explicar,na sua forma original, na sua forma actual usada em Olivença, e traduzidos, se necessário:
Azevia/Açubia(-); Alguidári; Alface/Alfaça; Azêtona; Arrecadas/Arcadas (grandes brincos); Andorinha/Andrurinha; Alarvices; Paleio/Apaleo; Asnêras; Amanhado (arranjado, preparado); Alicati; Alentar/Alantar (crescer); Aventar (deitar fora, derrubar); Vasculho/Basculho (vassoura); Melancia/B´lancia; Barbulha (borbulha); Brócolos/Broquis; Bebedêra/Bebedela; Biquêra; Badana (mulher velha); Baldi; Bandalho (mal vestido); Barranhola/Barranhali (Banheira); Púcaro/Búcaro; Boleta (Bolota); Caliche (Caliça); Cuitadinho; Descarada/Cascarada (!); Corremaça (correria); Cueiros/Culêros; Chico (Francisco); Descasqueado (Limpo); Dôtorice (jactância); Embatucado (sem palavras); Escandalêra; Engadanhado (impedido de usar os dedos por causa do frio); Empolêrar-se; Esturricar; Escancarar(abrir totalmente); Ajoelhar-se/Esvoelhar-se; Escavacada/Escavada (!); Entrudo; Enciêradas (gretadas de frio); Janela/Esnela; Centopeia/Entopeia; Falhupas (chiapas de lume); Esfregão/Fregón; Fartadela; Feij
ão-frade/Fradinho; Fanhoso; Fedorento/Fudurento; Fêtecêra; Farinhêra mole; Ferrugento/Furrugento; Fatêxa; Garganêro (açambarcador, egoísta); Galiquêra ou Caliquêra (doença venérea); Libória (tonta); Lençoli/Lançoli; Leque/Lecre; Mangação/Mangaçón (troça); Melhoras (Boas melhoras); Monte/Monti (Herdade); Mexeriquêra/Mixiriquêra; Mascarra (Sujidade, Amorenado); Mondar (actividade agrícola); Nódoas/Nodas; Pantanêro/Patamêro (lama); Cair de Pantanas (cair de costas); Pelintra/Pilintra; Passarola/Passarinha/Passarilha (Púbis e vulva); Piali (Poial); Reboliço/Raboliço; Remela/Ramela; Repesa (arrependida); Ralhar/Rayari; Rabujento/Rabulhento; Ceroulas/Cirôlas; Chocalhos/Sacayos; Surrelfa; Saboria (Sensaboria); Cenoura/Cinôra; Sabola (Cebola); Tanjarina; Devagarinho/Vagarito; Velhici; Varais dos òculos/Varales dos ócalus; Sarrabulho (confusão, desorganização)
Lamento ter-me alongado, mas talvez assim tenha transmitido algo de concreto que de outra forma não seria possível. Ouviram falar "alentejano", ou oliventino... como queiram; e esta senhora, Rita Asencio Rodríguez, tem mais três ou quatro livros mais antigos publicados dede há trinta anos.
Como se pode deixar perder tudo isto? A História não nos perdoaria.

8) ALGUNS EXEMPLOS COLHIDOS AQUI E ALI

Não resisto a lembrar algumas reacções com que me deparei em Olivença.
Por exemplo, numa aldeia, falando em Português com os donos de um "estanco" de Tabacos, insisti no conhecimento histórico e na preservação da língua. Os interlocutores, falando em Português, contestavam essas opiniões. Dei o exemplo deles próprios, a falar a língua lusa. A reacção foi devastadora: "Malditos dos nossos pais, que nos deixaram esta língua!"
Outro exemplo: num Monte (herdade) oliventino, falando com uma senhora de, talvez, trinta anos, fui correspondido em português/alentejano. Recordo uma frase dela, ao dirigir-se ao marido: "Segura aqui no "minino", para eu temperar a "selada".
Mas, cerca de cinco minutos depois de conversação, a mesma senhora, sem que nada o fizesse prever, interrompia o seu discurso na língua de Camões, e declarou, aterrada: "Desculpe! Estou a falar em Português! É falta de Educação!"
Começou a falar em castelhano. Claro, contestei a decisão... ouvindo aquilo que talvez mais irrita um alentejano em Olivença (e se ouve continuamente...) como justificação: "Isto que a gente fala já não é Português, é um "chaporreo".
Um outro exemplo pretende mostrar como o Português que se ensina actualmente em Olivença provoca choques geracionais. Um idoso de um Monte (herdade), quando foi por mim elogiado por falar idioma luso, ripostou-me: "isto já não é Português, nem é nada. A minha sobrinha, que aprende na Vila (Olivença), é que fala um Português verdadeiro. Ela até me critica!"
Para acabar, um exemplo mais pitoresco. Encontrei em Olivença um homem de cerca de cinquenta anos, que, ironizando, me disse que falava Português porque nessa língua "não há confusões entre Padre (sacerdote) e Pai." Aqui, uma posição crítica em relação ao cristianismo ajudava a preservar a língua.

9) JÁ OS ANTIGOS SABIAM...

A atitude de muitos oliventinos, que se orgulham de já falarem espanhol "sem acento", e de já não se distinguirem dos "espanhóis verdadeiros", o que, já por si, é uma afirmação curiosa, faz-me lembrar uma "análise" de Tácito, sobre o modo como os conquistados pelo Império Romano iam aceitando a Cultura do Conquistador.
Dizia ele: "(...) os mais propensos há pouco a rejeitar a língua de Roma ardiam agora em zelo para a falar eloquentemente. Depois isto foi até ao vestuário que nós temos a honra de trajar, e a toga multiplicou-se, progressivamente. Chegaram a gostar dos nossos próprios vícios, do prazer dos pórticos, doa banhos e do requinte dos banquetes, e estes iniciados LEVAVAM A SUA INEXPERIÊNCIA A CHAMAR CIVILIZAÇÃO AO QUE NÃO ERA SENÃO UM ASPECTO DA SUA SUJEIÇÃO."
Podemos transpor esta reflexão para o campo linguístico em Olivença. E só nos podemos espantar com "a sabedoria dos antigos", como se costuma dizer.

10) CONCLUSÕES

Contrariar a situação de agonia do Português Popular de Olivença é uma tarefa que não se limita aos defensores da lusofonia. Para já, alguns possíveis "remédios" foram propostos ao longo deste trabalho.
Mas a questão NÃO É SÓ lusófona.
Quero deixar aqui um apelo a Espanha, e muito particularmente às autoridades da Extremadura Espanhola, e ainda mais particularmente às autoridades municipais da Região Histórica de Olivença.
Não importa que se defenda que Olivença deve ser espanhola, portuguesa, ou até mesmo francesa ou coreana. O que não é digno é que, em pleno Século XXI, numa Europa que se diz herdeira e praticante de valores humanistas e democráticos, nada se faça para combater o risco de desaparição de uma língua, que é o reflexo de toda uma cultura.
Não é aceitável que não se procure restituir a dignidade a uma cultura tradicional. Também não é muito digno que não se informe toda uma população das suas raízes e da sua História. Se se quiser, recorrendo a uma frase feita, "não é europeu", e nem sequer politicamente correcto.
Também o Estado Português não está isento de culpas. Independentemente de aspectos políticos e de contestação de traçado de fronteiras, aspectos que não importa desenvolver aqui, Lisboa tem a obrigação de agir. Ao abrigo das suas competências, pode, deve, transmitir muito claramente o seu descontentamento e a sua apreensão. Propor soluções. Editar brochuras. Protestar contra a ocultação da História. Como faz noutros pontos do mundo em que há presença portuguesa.
"A minha Pátria é a Língua Portuguesa", disse Fernando Pessoa, tão citado por elites variadas. Passe-se à prática este princípio !
Pela minha parte, pela nossa parte, não nos calaremos, e desde já nos propomos a ajudar pessoas ou instituições, independentemente da sua orientação política ou da sua nacionalidade, para combater a agonia do Português em Olivença.
O Primeiro passo poderá ser um Congresso, ou umas Jornadas, ou uns Encontros, sobre o tema, que reúna a participação de especialistas e autoridades das mais diferentes origens, unidos pela sua boa vontade...

Estremoz, 11 de Julho de 2007
Carlos Eduardo da Cruz Luna

Carlos Luna
carlosluna@iol.pt 29-06-2007

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