sexta-feira, 7 de março de 2008

De pé e em frente, que o homem que sonha, não verga a cerviz

Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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“Há homens que obrigam todos os outros a reverem-se por dentro”
“Todos somos chamados na vida a desempenhar um grande papel”.

Luís de Sttau Monteiro

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É tradição
Os homens lutarem
É tradição
O Homem crescer
Na raiz do sangue dos homens que lutam
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

Por isso façamos
Recolhas urgentes
De vozes cansadas

E terminais
E computadores
Miríades deles
Para com eles cobrirmos a terra
Em acordes que cantam canções verticais

É tradição
Os homens lutarem
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

E renegado seja
Sete vezes seja
Quem quebrar um til
Da tradição que diz:

- O homem que sonha
Não verga a cerviz

1 comentário:

Anónimo disse...

O poema de Sophia de Mello Breyner é um dos meus preferidos. Li-o pela primeira vez no livro de português adoptado pela nossa escola, escola secundária D. Maria II, onde o professor dá aulas (e por acaso é meu professor). E, o professor sabe que não é por 'graxa' eu dizer isto, mas o professor é um bom professor.
É um professor que ensina os alunos, não deixa que eles fiquem no "nível básico", é um professor que gosta daquilo que faz. E isso vê-se. As pessoas percebem. É de professores como você que este país precisa. E eles existem, felizmente. E eu tenho a sorte de os ter.
E se a "senhora ministra" quer um país de pessoas com imcapacitadas intelectualmente, nós não queremos. Queremos ser bons, queremos ser sempre melhores. Pelo menos é o que eu penso.

(Eu ía comentar só o poema, mas lendos os outros textos, não pude deixar de dar a minha opinião sobre a nossa educação.)

Continue com os textos, porque são de boa qualidade.
Inês