quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Andará a loucura à solta?

Deixo-os aqui com O Alienista, de Machado de Assis (1839 - 1908). Tenham cuidado. A sua morte foi anunciada. Mas nunca fiar. Ele pode apenas estar a experimentar uma nova teoria sobre a loucura. Acautelem-se, pois!
Já há tempos que queria pôr este livro aqui. E até falar dele. Fui adiando. Hoje decidi-me. Ele aqui está. Mas não vou falar dele. Se o ler verá que não é necessário. Ele fala por si. E se já o leu, faça como eu: leia-o outra vez, e outra, e outra.
Como é por de mais sabido, o Machado de Assis é brasileiro, de pai português e de mãe mulata. Sobejamente sabido é também o facto de ele ser um dos primeiríssimos entre os primeiríssimos autores da Literatura de Língua Portuguesa. Disse bem: Literatura de Língua Portuguesa. Não me enganei.
Sei que há quem sustente aquela ideia peregrina de que o falar português à moda do Brasil é já outra língua. Ou, se não é, que virá a ser. Há quem sustente o mesmo com o falar inglês à moda dos Estados Unidos da América do Norte. Os argumentos também são os mesmos. Mas não têm razão.
Os peregrinos dessa tal ideia dão-nos argumentos empolados de grandes roupagens. Mas, quando despidos, não têm peso bastante. Eu compreendo-os. Baseiam-se muito em estatísticas de espaço e de gente; baseiam-se também muito na sua própria vontade, cuja grandeza é inversamente proporcional ao peso dos argumentos que apontam. Mas as estatísticas voluntariosas, regra geral, são enganosas; dão-nos aquilo que já sabemos e queremos provar; ou o seu contrário, caso mudemos de ideias. São muitas vezes um verdadeiro absurdo, uma arbitrariedade, uma caricatura. São como aqueles referendos, cujo resultado não está tanto no voto, mas está muito mais no modo de perguntar.
E onde é que entra aqui O Alienista? Não entra. Mas eu faço-o entrar. Porquê? Porque quero, e porque a sua actualidade mo permite; mas, da actualidade poder-se-á falar depois. Então, não foram forçadas as considerações acerca daquela coisa das "línguas" e dos "argumentos"? Claro que foram. Mas eu avisei, lá em cima, no segundo parágrafo que não ia falar do livro. A culpa foi sua, que não acreditou. Você não tem vergonha? Não pode ao menos apontar duas razões para a sua demagogia? Ora aqui vão elas: primeiro, o Machado de Assis é brasileiro, mas escreveu o livro em português; segundo, o protagonista d' O Alienista é um homem de ciência, e também usa a estatística.
Para terminar, que isto vai longo, volto ao princípio, que é o essencial: acautele-se, que anda a loucura à solta; e leia O Alienista, que isso é que importa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não conheço O Alienista, mas conheço-o a si e ao Machado de Assis, motivos de peso para ficar com a curiosidade aguçada.`
Que a loucura anda à solta´é tão evidente que os doidos iludem-se com enganosas promessas de cura.
É por isso que as palavras " são".
Elas servem para a nossa libertação,mesmo se em silêncio pronunciadas. Mas eu sou das que a liberto e sem medos. Por elas também valeu "cá" vir.
Maria Isabel Fidalgo

TempoBreve disse...

Isabel:

Vai gostar de ler "O Alienista". Eu já o li várias vezes. É fácil. E rápido.
Parece que anda mesmo à solta, a loucura. Não com aquela face que tem faúlhas de genialidade; antes com a outra face, a da arbitrariedade medíocre e cega.
Sim. Ainda nos restam, e restarão sempre, as palavras. Mesmo que só ditas para dentro de nós.
Venha sempre. Eu estou sempre aqui. Nas minhas palavras.
:-)

Anónimo disse...

E quando sai delas,para onde vai?

TempoBreve disse...

Quando saio delas, vou para outro lado à procura de mais.
:-)