quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Vou armar-lhe uma cilada

Peço imensa desculpa pelo acontecido no Vou ter que lhe dar uma coça, ontem publicado no Tempo. Já o alterei várias vezes, a ver se amenizava a rudeza do macaco, mas quanto mais o altero, mais rude ele fica . Já viram como me enganou? Já viram como me trata? E os nomes que me chama? Eu nem quero acreditar. E dizer-se que o criei!
Eu sei que a culpa não é bem dele. É mais de quem o inventou. E não se ponham com esse olhar silencioso e crítico viradinho para mim, ouviram? Eu sei que lhe dei o ser e o criei, mas não o criei assim. Quem o criou assim foram vocês, com as manias que lhe ensinaram, com os truques que lhe mostraram, com as simpatias que lhe deram, com as promessas que lhe fizeram. E principalmente daquelas que, sem escrúpulos e manhosas, o embeiçaram, tornando-o quase imbecil.
Eu já tinha dito aqui, que ele andava apaixonado. Logo, que andava doente. E até acrescentei que eu o ia curar. Mas nunca imaginei que a doença era assim forte. Tão, que eu já duvido se aquilo é doença de paixão, ou se de feitiçaria. Mas seja qual for a origem da loucura que se apossou dele, eu sei que o vou recuperar. Mas da coça não se livra, pois aquilo que ele me chamou, no texto já referido, não se pode perdoar. E eu não sou pai banana, não sou professor banana, nem sou amigo banana.
Eu vou fazer constar por aí que chegou aqui para ele uma carta apaixonada, recheada de palavras e de promessas bonitas, e com uma fotografia que também é muito linda; e também vou fazer constar que a fotografia vem vestida, com umas pecinhas de seda, mas que a maior parte das vestes é constituída por pele. Ele vai voltar a mim, que ele vai desejar vê-las: a ela, à sedas e à pele.
Só tenho que arranjar a carta e a fotografia, tais como eu disse que eram. A carta, isso é fácil, que essa sei eu escrever. Ora agora a apaixonada, toda vestida de pele, exceptuando apenas as pequenas peças de seda, isso vai ser mais difícil. Mas algo se há-de arranjar.
Ele acha-se muito esperto, mas vai cair neste truque, que nem pato em braseiro.
Vocês não lhe digam nada, que eu só o quero enganar, para lhe dar a tal coça, e para depois o curar. Que eu gosto muito dele, e só lhe posso querer bem.

8 comentários:

Anónimo disse...

O que será que o levou a estes devaneios?
Eu sinto que alguma coisa o anda a transtornar! o que será?

TempoBreve disse...

Caro algoritmo:

O que será que! É verdade. O que será que! Mas, lá que levou, isso levou!
Ele anda completamente transtornado. Foi aquela coisa que lhe fizeram, assim sem ele contar.
Quando eu o encontrar, eu vou metê-lo nos eixos. Mas há que dar tempo ao tempo. E não o levo ao psicólogo.
Bom dia e um abraço.

Anónimo disse...

Ai as pequens peças de seda!Eu sei como isso é.Se sei!Mas com um macaco...Como é que o animal há-de despir as sedas para ver o que a pele promete?

TempoBreve disse...

Olá, Língua:

Parabéns pelo seu saber. Mas quem sabe sabe bem que não é preciso despir sedas para ver o que as peles prometem: se se despem já se vê; se se despem já não prometem.

As promessas que imaginamos e desejamos e queremos - sendo nós dignos da dádiva de as podermos cumprir com afecto -, são um daqueles momentos, em que paramos no tempo, absortos e suspensos, tal é o encantamento. E quando este milagre acontece, entre o imaginar e o cumprir, entre o desejar e o despir, não se pode distinguir qualquer sequência de tempo, porque o tempo é só um.

Quando não é assim - e não o é muitas vezes -, então já não são promessas; são antes a satisfação de um instinto que sabe bem, mas que até os animais têm. E mais apurado que o nosso.
:-)

Anónimo disse...

Não há dúvida que você é um poço de filosofia .E quanta erudição e esperteza !
Com tais palavras de encantamento, ainda desencanta alguma moira escondida num canto qualquer...

TempoBreve disse...

Caro anónimo:

Poço de filosofiaé você que, com erudição e esperteza, sabe brincar com a minha.
Eu tento que as minhas palavras tenham asas de encantamento, mesmo que muito pequeno. Mas o encantamento está mais nos olhos de quem as lê.
Eu sei onde mouras moram. Mas não vou desencantá-las, só para que não se perca o encanto que elas têm.
E você sabe mui bem, que isso é quase verdade.
Obrigado por ter vindo. Um abraço e até.
Um abraço e até.

Anónimo disse...

Você está sempre a surpreender. Então "uma coça"? Não consigo imaginar isso, nem mesmo em sentido figurado. É que gosta tanto dele -até sedas lhe arranjou- que não estou a vê-lo a exercer qualquer tipo de violência sobre o pobre bicho. Nem mesmo verbal. Gostaria de estar por perto para poder deliciar-me com o vosso reencontro. Sim, porque não acredito que nos vá contar tudo! Até lá, tenha um muito BOM DIA

TempoBreve disse...

Cova da Moura:

Você roubou-me um nome muito querido. Só lhe perdoo, porque o que me roubou não foi o verdadeiro, mas apenas uma variante dele. Não lhe digo o verdadeiro, que você pode muito bem querer ficar com os dois. E nessa não caio eu.

Quanto ao macaco, não se livra da coça. E você não se ponha para aí a querer amaciar-me dizendo que eu gosto dele. Pois é claro que gosto. Eu bem quis disfarçar o "gosto", mas já todo o mundo viu. E é exactamente por isso que ele vai apanhar das boas.
Você viu o que ele me exigiu? Você viu o que ele me roubou? Você viu a partida que ele me pregou? Você viu os nomes que ele me chamou? E isso faz-se a uma pessoa inocente, qual a pessoa que eu sou?
Vai ser um reencontro bravo. Ai, vai, vai! Isto é o que lhe digo. Mas, tal como você diz, eu não lhe vou contar tudo.

Obrigado por tentar reconciliar-me com aquele malandro. Mas não posso perdoar-lhe!
E, daí, quem sabe!