quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

As velhinhas, o responso e o macaco

Não sei bem se foi para falar das velhinhas que falei no responso, ou se foi para falar no responso que falei nas velhinhas. Esta minha dúvida, porém, não é relevante, pois os meus leitores, amáveis e justos, não vão hesitar, e vão gostar muito mais das velhinhas.
A bem da verdade, eu tive que meter na história o responso e as velhinhas, muito simplesmente porque o que se conta foi como foi. Foi tudo verdade, excepto aqueles pequenos reparos em que falo de mim, dizendo-me teimoso, quase impaciente, e até casmurro - mas isso você também já percebeu que sou eu a mentir, inventando-me alguns defeitos, para parecer quase humano.
Seguindo em frente, devo dizer-lhe que, mal reli a história, depois de a publicar aqui, logo o responso se me impôs com um relevo tal, que eu estava longe de imaginar. Sabem muito bem que o responso é uma oração, neste caso feita a Santo António, para que apareçam coisas perdidas ou para afastar males de que se tem medo. Ora, vai daí, eu pensei logo no meu amigo que andava perdido. Sim, o macaco.
Apesar do que ele me fez, eu não podia ficar de braços cruzados. Já tinha recorrido a tudo. Mas nada. E foi então que, quase em desespero, e apesar da minha tendência herética, me agarrei ao responso, naquela atitude pouco ortodoxa, quase oportunista, de que se não fizer bem também não fará mal.
Ensaiei-o três vezes, para não me enganar - que isso deitaria tudo por água abaixo; depois outras três, para que a convicção soasse sincera - que, se não, não valia; e depois rezei-o três vezes - como tem que ser -, muito concentrado, ajoelhado, de olhos fechados e de mãos postas, erguidas aos céus.
Quando acabei, não ouvi resposta. Mas deixei-me estar mais uns momentos de olhos fechados a meditar. Até que ouvi como que um roçagar de seda a passar e abri os olhos. Era um papel leve que apanhei e li: O teu macaco foi rapatado por uma pessoa que mora na "acaciaemflor" e que se assina como GraçaGrega.
E logo mais abaixo, em letra mais pequena: - Não sejas estúpido. Não enganas ninguém, muito menos os céus. O teu responso foi ridículo e burlesco. Nem merecias resposta. Mas as velhinhas de que tu falaste, cegas que estão pelo amor que te dão, acham que mereces. E é só por elas que te transmitimos esta informação confidencial. E fica sabendo que o macaco não é macaco; e tu também não; tu és mais que macaco: és um macacão.
Ponham-se no meu lugar e digam lá se o que li não é motivo para um ataque fatal: primeiro a resposta; depois a notícia do rapto; depois as velhinhas; depois o atrevido a chamar-me macaco.
Mas não tive tempo para perder em considerações merecidas. Saltei, pois, correndo à procura dessa malfadada acácia que, mesmo sendo graça, me queria desgraçar o macaco. Depressa descobri a morada. Era um blogue. Fui duro com ela. Exigiu-me resgate. Abdiquei logo de todos os princípios, e aceitei o suborno do resgate exigido. Que teria de ficar com o macaco até depois do Natal. Aceitei. Mas, ai dela se mo enfeitiça e não mo trata bem. Dou-lhe uma coça a ela, e outra ao macaco.
Só lhes contei isto para que saibam que há sempre alguém como as velhinhas a querer-nos bem; que os responsos são coisa bem séria; que neste mundo há muita gente má; mas que também há gente muito boa a fazer frente à que é má.
:-)

10 comentários:

Anónimo disse...

Tem graça mesmo o seu responso e na verdade cada um vê o que quer ver naquilo que lê. Eu pensei que o responso era para o libertar de outros males que andam por "aqui".A Ibel que lhe conte.Se o macaco está com a Graça que diz grega só pode estar em boas mãos, porque-da Grécia ou bom vento ou bom casamento.Como você é das bandas do tempo,bom vento virá e com ele o seu estimado macaco que deve estar a rir de fininho.Não deixe que ele se apodera dela, anda que ela seja a que ri melhor.
Mas vai ter que explicar melhor esta baralhada toda...

Anónimo disse...

Olhe que não são só as velhinhas a querer-lhe bem.Eu também lhe quero bem, acredite!
Este querer vem deuma fraternidade de palavras, de uma comunhão de ideias e de alegorias que me empurram para aqui.
Por falar em aqui,este aqui não é o do Miguel, embora dasemboquemos todos nesta janela com que o tempo nos delicia, com brisas e ventos...e também muito SOL de malícia e mel.
O Miguel está a querer que eu dê à língua.Um engenheiro informático não tem mais nada que fazer do que andar a espreitar as sais?
Olha que eu não contei ainda nada, mas não provoques...
Beijos para os dois.

Anónimo disse...

O responso deu resultado...
Tempo Breve,perdi um amigo lá para as bandas de Azeitão.É forçoso encontrá-lo.Gosto muito dele.O malandro fugiu-me e não o quero perder.Perdê-lo,jamais!Faz isso pra mim?
Olhe que o seu macaco!...Que G(g)raça tem?Não se está a portar bem,pois não?
Venha depressa,Tempo!

GraçaGrega disse...

Pois é!!!
Anda a Graça Grega numa azáfama desenfreada nos últimos preparativos
para a quadra que se aproxima, e é confrontada com uma tão grande acusação...
Raptora do macaco, onde já se viu tal coisa!
Mas que acusação tão grave essa, logo eu que estou na completa inocência...rs
Isto de ter Tempos Breves para ler outras moradas, só podia resultar em tamanho equívoco...
Sim é verdade que me cruzei com o macaco que por acaso é bastante simpático, mas o dito seguiu a sua viagem.
Ainda se encontra naquele espaço mágico, das luzes brilhantes, e dos embrulhos coloridos...
Mas eu juro que a minha árvore de Natal não ía aguentar com um ser de tamanho porte.
Tenho sim um macaquinho de peluche com um sorriso bem castiço...
Por isso tempobreve, retire todas as acusações contra a minha Graça senão, vou exigir que fique proíbido de saborear todas as guloseimas que vão ornamentar a mesa da sua ceia de Natal...
Principalmente as de cobertura de chocolate..:-))
Mas se estiver interessado, sempre lhe posso oferecer um peluche como prenda de Natal...
Assim não irá sentir tanto a falta do seu bichinho de estimação...rs
Fique bem...-))

Anónimo disse...

De passagem (curiosidade de saias, ou peles, ainda por cima sete...)quedei-me um pouco para apreciar tudo. Mas é que foi mesmo tudo. Claro, tive que recuar no tempo-que não foi assim tão breve-para perceber as histórias que por aqui passam. Mas o que me surpreendeu mais, confesso, foi a simpatia (ou não?) dos comentários. De facto, só uma certa camada de curiosos tem tempo, que não é breve, para estas coisas. Há, depois, uma espécie de cumplicidade que se lê (pelo menos eu leio...) nos comentários que é uma ternura! Por tudo isto, parece-me que, ainda que o Pai Natal se esqueça, ou não possa parar na sua morada (é complicado encontrar a casa das letras...)vai ter um BOM NATAL. Pelo menos é o que lhe desejo.

TempoBreve disse...

J. Miguel!

Que males serão esses tais de que fala? E como pode o macaco estar bem, se ele anda enfeitiçado e fora de casa? Como pode ela, a Graça, ter boas mãos, se me raptou o macaco? Quanto à Grécia, tudo bem. Temo-me pelo macaco, mas acho que ele está mesmo a rir de fininho. Mas também já deve estar por aí a bater-me à porta, cheio de saudades.
Um abraço.
Um bom ano.

TempoBreve disse...

Ibel!

Com que então, você sabe tudo e não conta nada? É o que diz o J. Miguel. Mas deve ser a provocá-la, deve. Sim, as velhinhas querem-me bem. Vi-as na passagem de ano. Estavam sorrindo para mim. São umas heroínas, que eu sou fraco traste.
Já deve ter reparado que estou a "despachar" comentários.
Um bom ano.
Outra vez.

TempoBreve disse...

Violeta!

O responso, se for eu a fazê-lo, dá sempre resultado.
Esse seu amigo, perdido lá para as bandas de Azeitão, há-de aparecer, se eu o responsar. Só por si o faço, que por ele não, já que lhe fugiu, e isso não se faz.
Veja lá bem se ele merece que você goste dele. Se teimar que sim, que gosta a sério, mande-me na volta, pétalas suas, rodeadas de folhas dispostas em forma de um arco-íris; mande-me também uma amostra fiel de cabelos seus; e, em gaiola de prata, mande-me um gambozino, que terá de apanhar à meia noite duma noite de lua cheia, numa mina da Arrábida.
Logo que me manda a encomenda, eu faço o responso, e o malandro logo aparece para que você lhe dê uma coça.
Fique bem. As minhas violetas sorriem para si.
:-)

TempoBreve disse...

Cara GraçaGrega:

Não se arme em vítima, sim? O mundo inteiro sabe, e é testemunha, que foi você que me raptou o macaco. Até disse que só mo devolvia depois do Natal.
Não há equívoco algum. Você não me engana nessa sua inocência tecida de manhas. Você era lá pessoa para ver o meu macaco, reconhecê-lo meu, gostar tanto dele, e deixá-lo ir embora? Aliás, até confessou que o ajudaria na fuga. Mas ajudou mesmo, que o seu "ajudaria" é hipótese em forma de disfarce do crime.
Mande-me o macaco, mande-me o peluche que me prometeu, mande-me o chocolate que me ofereceu. E mande-se a você própria aqui até mim para que eu lhe possa puxar as orelhas.
Aliás, isso será uma maneira de remediar a má-criação de ter recebido um azevinho e um presépio que lhe mandei a si, sem que os tivesse visto ou agradecido.
Mas depois falamos, sim?
:-)*

TempoBreve disse...

Caro anónimo!

Não sei se voltará aqui, já que a minha demora foi longa, e, como diz, não costuma andar por cá. Contudo, tenho que deixar-lhe aqui estas minhas palavras poucas.
Com que então admite a hipótese de terem sido as Peles e as Saias a provocar-lhe curiosidade! Isso é bem saudável. Mas elas são muito matreiras, e, certamente, não satisfizeram a curiosidade que trazia. Por isso peço desculpa.
Obrigado pela paciência de se ter demorado um pouco para encontrar o fio à meada. Espero que o tenha encontrado. Uma coisa pelo menos acho que você encontrou: foram os comentários. De facto eles são simpáticos quando dizem bem de mim, pois, a não ser a simpatia, nada justifica tal dizer.
Tem toda a razão quando diz que nem sempre se tem tempo para visitar estas coisas. Mas arranja-se sempre algum.
Se nos comentários viu ternura, é porque ela lá mora, na forma de ser sincera, ou na forma de ser crítica. Nem sempre é o que parece. Mas a ternura está lá, ora um pouquinho aqui, ora outro pouquinho acolá.
Também foi ternura sua ter-se demorado e lido, e ter deixado comentário.
Agradeço os seus votos e, embora com muito atraso, desejo-lhe um Bom Ano, para si e para os seus.
Obrigado por ter vindo.
UM abraço para si.