segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Espiral *

Onde está o nada, e no nada o tudo?
Onde está o tudo, e no tudo o deus?
Onde está o deus, e no deus o tempo?

Onde está o tempo, e no tempo o espaço?
Onde está o espaço, e no espaço o fogo?
Onde e está o fogo, e no fogo o ar

Onde está o ar, e no ar a luz?
Onde está a luz, e na luz o brilho?
Onde está o brilho, e no brilho o mar?

Onde está o mar, e no mar o barco?
Onde está o barco, e no barco o homem?
Onde está o homem, e no homem quê?

E no quê o homem
E no homem barco
E no barco o mar?

E no mar o brilho
E no brilho a luz
E na luz o ar?

E no ar o fogo
E no fogo o espaço
E no espaço o tempo?

E no tempo o deus
E no deus o nada
E no nada o tudo?

...
* Com uma arma de afectividade apontada à cabeça, fui mesmo obrigado a fazer a vontade ao macaco. Telefonou-me de parte incerta. Discutimos muito.

-Publica já os dois coisos juntos!; - Coisos? - Sim, os poemas! Queres irritar-me?; -Não! Calma aí!; - Põe um a seguir ao outro, tal como estão. - Mas assim ficas um autor pesado!; - O quê? Estás a chamar-me gordo?; - Não! Que ideia! Vou só aligeirar a segunda parte, dando-lhe um ritmo leve, mais de baloiçar!; - Baloiçar? Tu disseste baloiçar? Estás a insinuar que eu sou macaco a baloiçar em árvores?; - Não! Que coisa! Mas como é que te foste lembrar?; - Não me lembrei nada. Dá-lhe lá então esse tal ritmo leve, mas, pelo sim pelo não, tira o baloiçar!; - E que queres que ponha?; - Inventa lá qualquer coisa, mas baloiçar, isso não, que podem pensar, tu sabes o quê!; - Em vez de baloiçar vou pôr embalar, está bem?; - Embalar está bem! E deixa-te de tretas, que o embalar comove-me!; - Queres voltar para a Casa das Letras?; - Sim! Mas não te vou dizer que quero!

E desligou. Mas eu bem lhe ouvi uma lágrima a cair para mim. E publiquei o texto, que juro que é dele.

10 comentários:

Anónimo disse...

parabens pelo o texto.
escreve muito bem.
tem muita imaginaçao.
xD

continue assim

Anónimo disse...

E no nada o pó
E no pó a terra
E na terra o homem?

E no homem a terra
E na terra o pó
E no pó o nada?


E no nada o tempo
E no tempo o breve
E no breve o tudo?

TempoBreve disse...

Olá, Grande!

Grande mesmo é a bondade das palavras que me manda.
Umas vezes mais assim , outras vezes mais assado, eu irei continuando. Pelo menos enquanto houver uma ou duas pessoas que me venham aqui ler.
Deixo-lhe um muito obrigado, na forma de um abraço.

TempoBreve disse...

Olá, Beija-Flor:

Mas você disse tudo de uma forma mais elegante e pequenina! Foi só pôr os dedos nas teclas, e logo saltou um ritmo apurado.
Sei que não fala de mim. Por isso lhe posso dizer que - mesmo que esteja a brincar -, nos pequenos breves é que está o tudo. Sem esses breves, o tudo é nada. Viva os breves.
:-)

Anónimo disse...

E no tudo o breve
E no breve o tempo
E no tempo o nada?

E no nada o pó
E no pó a terra
E na terra o homem?

E no homem a terra
E na terra o pó
E no pó o "artista"?

GraçaGrega disse...

Olá tempobreve...
Eu uso GPS é mais prático, e gosto de novas tecnologias...
E por acaso encontrei o seu macaco pelo caminho.
Sabe o que ele me confidênciou?
Estava cansado de ser o centro das atenções, por isso refugiou-se algures numa árvore de Natal.
Confessou-me que estava muito bem instalado, muito quentinho, e muito bem acompanhado de embrulhos coloridos, luzes brilhantes, e até sentia o cheiro dos bombons que ornamentavam a árvore...
Prometeu que não se iria tomar de gulas desnecessárias.
Como vê, eu estou inocente, não ajudei o seu estimado macaco a fugir...
Mas se o dito tivesse pedido a minha ajuda, eu era moça para o ajudar na fuga, não deve ser fácil aturá-lo por muito tempo...( agora referia-me a si, é claro )..:-)))
Quanto a mim, estou bem obrigada sempre com o meu sentido de humor bem apurado...e ando entretida sim, gosto de curiosidades.
São preciosidades que procuro por aí, faça ou não trovoada o que não era o caso, comentei apenas para satisfazer a sua curiosidade...rs
Fique bem...:-)))

José Hermínio da Costa Machado disse...

Boas Festas na forma de poema:
Outra Infância

Quer seja na abundância descarada,
Quer seja na carência atribulada,
O Natal expõe-se,
Tem sempre um rosto,
Uma expressão, um som.

Quer passe intensa a febre construtiva,
Quer fique a pele em causa restritiva,
O Natal impõe-se,
Tem sempre um ventre,
Um coração, um dom.

Sobrem lixos ou luxos dos ofícios,
Variem os prazeres ou os sacrifícios,
O Natal provoca,
Implica a história,
O caso, a circunstância.

Por entre guerras loucas de razão,
Por sobre reis e réus de opinião,
O Natal convoca
A nossa humanidade
A Outra Infância.

Com os votos de Boas Festas
e Próspero Ano Novo.
José Machado e Albertina Fernandes
Braga, 2007

TempoBreve disse...

Beija-Flor:

Há um movimento contínuo, quer de forma quer de tema, no poema desta página, que se vai repercutindo nas variações musicais que você lhe acrescenta.
Primeiro chamei-lhe "Círculo" - o que já não estava mal; mas depois mudei de ideias, e achei mais apropriado chamar-lhe antes "Espiral".
:-)

TempoBreve disse...

GraçaGrega:

Muito me surpreende que tenha chegado aqui com esse brinquedo novo a que chama GPS. Ponha-se a olhar para ele, e depois não venha queixar-se, que bateu com nariz em árvore.
Agradeço-lhe as notícias que me trouxe do macaco. Afinal, ele está bem. Mas não completamente, que ele não se dá sem mim, embora diga que sim.
Tenha cuidado com ele, e dê-lhe qualquer coisinha, mas não mo estrague com mimos. E não se deixe enganar, porque ele é bem manhoso.
Estou a desconfiar que foi mesmo você que o iludiu, induzindo-lhe apetites para se tornar fugitivo. É que você diz-se inocente, mas logo a seguir acrescenta que, se ele lhe tivesse pedido, o ajudaria na fuga. Ora, essa sua intenção é já prova do seu crime.
Para a situação piorar, ainda lhe diz ao ouvido que eu sou pessoa ruim, nada fácil de aturar. Ele, que é um mentiroso, gosta muito de ouvir isso. Mas isso é difamação; ainda a vou processar. E, para a condenação ser maior, vou anexar ao processo as suas curiosidades.
Que língua azeda é essa que só diz mal de mim? Será que come trovisco?
Obrigado por ter vindo. E deite fora o GPS.
:-)

TempoBreve disse...

Caro Zé:

Um abraço.
O teu Natal em verso é uma prenda que dás, tendo nós o privilégio de a esperar todos os anos.
É uma forma bonita de desejares as boas festas. Mas é bem mais do que isso.
No poema vemos-te a ti: vemos a tua amizade; a tua sensibilidade; a tua arte e engenho, vestindo de roupas leves o teu pensamento profundo; a tua força de seguir em frente, abrindo aos outros caminho.

"O Natal expôe-se
O Natal impôe-se
O Natal provoca
O Natal convoca",

E a tua voz dá-lhe força para que ele seja assim.

Outro abraço. Para ti e para a Albertina.