domingo, 14 de outubro de 2007

Entre terra e céu


Das raízes na terra que a seguram e a alimentam; do caule que se ergue, dando-lhe alento; dos ramos que se abrem, abraçando a vida; das folhas que crescem, bebendo ar e luz; dos frutos que tão doces cria, e depois nos dá; das cores tão de encanto de que se veste a dizer adeus; da esperança serena num homem que a ame terno, que a ampare e a ajude a passar o inverno. Assim nossa vida, uma vida inteira, nesta maravilha que é uma videira.

8 comentários:

José Hermínio da Costa Machado disse...

Pois sejam então as videiras a servir de linha de horizonte, tu já as conheces de raiz, trata-las e colhes delas esse fulgor dionisíaco que anda latente na escrita, eu nunca as tive em terra-mãe,que a minha terra é de fraguedos e de ventos, mas delas tenho provado este Minho incontido, umas vezes branco, outras vezes tinto, sempre em boas companhias e em lugares que a memória tem consumado em sons, em festas, em amizades. Gostei de te ver aqui neste lugar de escrita virtual. És mais do que eu já sabia. Obrigado e um abraço do José Machado.

Ibel disse...

Quem fala asim desta vinha
Que bem se ouve e bem se sente?
Político não é de certeza
Pois não tem esta leveza
Nem olha na natureza
È tavez o tempo breve
Que de asas se anuncia
Qual ave de arribação
È duro na aparência
Poeta na sua essência
E vinha no coração.

TempoBreve disse...

Meu caro Zé,

O fulgor dionisíaco, que dizes latente na minha escrita, é a bondade tua e amiga, que cega os teus olhos para o verem lá.
Sei dos fraguedos da tua terra. E sei das marcas que deixam em nós. Na minha também eles se encontram, mas não tão agrestes, que a verdura dos vales e as brisas que sopram do mar mais ao longe, por eles adentro, os amaciam um pouco.
"És mais do que eu já sabia". Oh, Zé, tu pôes-me de rastos! Isso faz-se a um amigo, assim de supetão, sem aviso prévio? Olha que a aparência é dura, mas o coração é mole. É que eu já me honrava tanto daquilo que tu, embora exagerando, já de mim sabias.
Uma coisa eu soube sempre: é o que tu és. E, ao contráriode mim, és muito mais do que mostras, e muito mais do que pensas. Mas isso são contas de outro rosário, não é?
Se aqui há alguém obrigado,esse obrigado sou eu.
Um abraço daqueles.

TempoBreve disse...

Ibel,

Até parece que você conspirou com o meu amigo Zé, que está ali em cima, para me fazer vida negra?
Estou a brincar.
É um lindo poema,o seu, duma suavidade e leveza que o torna de harmonias mais lindo.
Sei que não sou eu aquele de quem o poema fala. Seria uma heresia. Esse aquele é um outro ser, sem existência real,perdido num horizonte, tecido de imaginação.
Mesmo assim lho agradeço. E contento-me já muito, se foi algum texto meu, que lhe afeiçoou a mão, e a levou a escrever um texto assim tão bem.
E para a justiça ser feita,deixe-me que lhe diga, que o poema que escreveu, ficava muito melhor nos "Frutos de Mim e Mar, que é oblog que é seu.
Mas como o deixou aqui, renovo o agradecimento.

Anónimo disse...

O sal está a crescer. Valeu a pena o menino ter-se aventurado por caminhos outros que não seguros e ,por isso mesmo, mais apetecíveis.Do sal da terra nasceu a vinha. Da vinha multiplicaram-se os braços e os abraços que chegaram a um blogue em acordes outonais e gemidos de parras que Baco estimula bem como outros deuses de nome desescondido, orgulhosos da identidade baptismal.
Outros escondem-se em mar, frutos, blindas e graças gregas.È justo. E justa é a forma e excelente.
Àguamar

TempoBreve disse...

ÁguaMar,

Só agora é que me encontrou. Se não, saberia que isto de me meter todo inteiro, mas sem que ninguém veja, dentro dum blog, foi uma ousadia. Mas, depois, meter-me em dois, isso foi já uma temeridade a rondar a loucura.
Eu gosto muito dos deuses de que fala, de nome desconhecido. E dos que se ocultam em capas de nomes, quais os que cita - e incluindo o seu -,eu gosto deles também. Porque me visitam, porque me incitam, e me dão alento, nas palavras de música, que me vão servindo, e me fazem bailar no ar.
Você dança comigo?
:-)

Anónimo disse...

Por cima da vinha
Já estou a dançar
Já me sabe a vinho
doce o pardalinho
Na parra a cantar.

TempoBreve disse...

Olá, ÁguaMar:

Há muito que a não via por cá. E se o seu regresso já me agrada, mais me agrada ainda vê-la a dançar por cima da vinha.
Devo confessar-lhe, contudo, que eu me encanto a olhar para os pormenores das formas escondidas que as vinhas têm: sejam elas braços, sejam elas parras, sejam elas frutos, sejam até pardalitos. Vejo-lhes a harmonia, e adivinho-lhes segredos.
E, quando acontece o milagre de ver um pardalito poisado em junção de ramos, abrigado por baixo duma parra leve, de formas e cores variadas, então nem respiro; fico do milagre suspenso, à espera que um vento zéfiro alevante a parra para o ver melhor. Contemplo-o terno, para o não assustar. Depois, se achar que ele já confia em fim, toco-lhe ao de leve com dedos de seda. E, as mais das vezes, fico-me por aí para ampliar o encanto de, na próxima vez, o pardalito, mais confiante, me saltar para o colo, me saltar para as mãos, se rir para mim, me dar do seu canto.
Isto é sonho; isto é milagre. E como é sonho, e como é milagre, quando o procuro de novo, ele já não está lá.
No entanto, tenha cuidado, pois - se continua a dançar por cima da vinha, e se é pardlito -, pode acontecer que eu vá até lá; e, se for até lá, pode acontecer que me apeteça espreitar.
:-)

Nota: Obrigado por me dar a oportunidade inocente de escrever isto aqui.
:-)