segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Apontamentos breves

1 - Os deuses da montanha existem mesmo. Não é que eles me aliviaram da carga granítica que levei comigo de fim de semana? Só deixaram que me lembrasse dele em Galafura, no alto do monte, mas para o mandar calar, que a eternidade dele era outra, mais funda ainda que a do Torga. Ele ficou vaidoso, e deixou-me em paz.

2 - Se os deuses existem, e eu sei que sim - e até falo com eles -, então os milagres também. Eles têm que os fazer. É a sua obrigação. E não é que ao chegar aqui agora, vi que houve mesmo milagre? Fui ver o tal Granito que levei na cabeça comigo, e não é que ele está já todo ali, na forma de comentários, por mãos anónimas escritos, que, a não serem de deuses, só poderão ser de fadas.

3 - As fotografias no Tempo são uma simples referência aos sítios por onde andei, durante o fim de semana.
A segunda que aparece, mas que na verdade é a primeira, pretende apenas mostrar o monte no primeiro plano, e a a forma que tem. Se olharmos com atenção, que foi o que o Torga fez, aquilo é mesmo navio, de casco invertido ou não. E, como lá diz o outro: Vê navio, é navio! E não se discute mais.
Para mais facilmente passarem da montanha ao navio, subam a plataforma onde está o pequeno marco geodésico lá no extremo. Fica a poucos metros e é fácil. Depois debrucem-se, braços pousados no topo plano do marco, e é só olhar em frente, para se sentirem Á proa dum navio de penedos, agarrados ao seu leme.
A primeira fotografia, que na verdade é a segunda, pretende mostrar o cais humano, de socalcos e vinhedos, com todos os cheiros da terra e da vida.
As fotografias pretendem apenas mostrar o navio a quem souber ver; os socalcos e vinhedos a quem os souber olhar; os cheiros a quem os souber sentir ali perto, e adivinhar mais ao longe. A estética foi sacrificada, que a máquina é daquelas de levar no bolso. E para piorar a fama do "artista", ainda tive que diminuir a qualidade das mesmas, para me caberem mais duas ou três.

4 - Que o Torga me perdoe por lhe andar a mudar versos para cima e para baixo, e por ir cortando uns, para os ir ligando a outros. Mas todas as palavras são dele, e todas estão no poema S. Leonardo de Galafura. Perdoem-me também os amantes de Torga. Principalmente aqueles que gostam de peregrinar pelos itinerários dele. Não foi Torga que me levou ao monte, nem sequer o monte a ele; não foi o poema que me levou ao monte, nem o monte ao poema, que o poema é mais que o monte, e o monte mais que o poema.

5 - Agradeço os comentários que aqui foram deixando durante os últimos dias, e aos quais não respondi ainda. A todos responderei. Apareceu um nome novo, e dois já mais dos princípios, que andavam arredios. O que interessa é que voltaram. O que interessa é que outros venham. Este lugar é de todos, e para todos há lugar.

2 comentários:

Ibel disse...

Curioso! Este fim-de-semana fui jantar com o grupo de amigos do costume a um restaurante na Apúlia
que serve um peixe delicioso e a dada altura uma amigo disse: em que estás a pensar? E eu lancei o desafi:
_Vamos no feriado ao Torga? E imediatamente comecei a recitar o S. Leonardo e disse-o todo como quem reza .E lá iremos todos, mas só eu é que vou, porque me sei.

TempoBreve disse...

Eu entendo o que diz quando vai com todos, mas só você vai, porque se sabe. É algo de magnificamente absurdo; ou de absurdamente magnífico. Mas as alturas do magnífico valem bem o peso do absurdo.
Já agora, leia outra vez aquele ponto 3 dos meus "Apontamentos breves" que deixei aqui ontem, e, quanod lá for, tire uma fotografia no exacto ponto donde eu tirei a minha, como lá indico. É só focar a máquina para o infinito e carregar com o dedo. De mansinho. Verá que vai ficar como a minha. Ou ainda melhor.
Brevemente irei ao seu blog a ver se encontro algo de novo.
Ah! Sabe que às vezes os pensares se cruzam? Mas isso é outra história.