segunda-feira, 16 de julho de 2007

Como nós humanos

Eu bem disse ao Tempo que tornar-se blogue era um disparate. Agora virou-se para as aves. Podia deixá-las no romantismo chão com que o povo as veste, mas não. Já fez duas vítimas: o pisco e o cuco. Devassou-lhes a vida.
As aves com asas, que cantam e voam, gostam, vaidosas, que se apregoem seus virtuosismos cuidados, mas seus descuidos não. E as aves sem asas - porque as esqueceram, porque as venderam, porque lhas ataram, porque lhas cortaram, não cantam nem voam- gostam que as chorem, mas tremem de medo só de pensar que um dia se possa falar dos sonhos que já sonharam, mas agora já não.
Também o pisco e o cuco gostaram que o Tempo lhes falasse dos dotes, mas dos defeitos, não.
Gostaram das fotografias, embora se achem mais bem bonitos; envaideceram-se das cores com que os brindou; ufanaram-se da beleza que ele viu nos seus cantos; agradaram-se de ele os dizer cantos de amor e de vida; riram-se com graça e malícia dos ardores que lhes adivinhou.
Gostaram de tudo. Só houve um senão. Aquela coisa do ninho, de que o Tempo cruel falou insensível. Viram naquilo, cada um a seu modo, e sabe-se lá a razão, insinuação crítica de descuido e defeito. E, sincronizados, apressaram-se logo ali a branquejar qualquer sombra de dúvida.
Acusaram-se de inocentes. Que não tinham culpa. Que era mesmo assim. Era a natureza. Era a tradição. Era o destino. E era condição sua cumprirem estóicos o destino que é seu.
As virtudes sim. Os defeitos não. E a culpa nunca.
São tão humanos, o pisco e o cuco, não são?
E tão piscos e cucos que os humanos são, ou não?

2 comentários:

Nanny disse...

Acho que tentei hoje comentar pela 1ª vez o Tempo, mas como enquanto gata não faça parte da equipa... fui empurrada para fora do ninho!

Como não sou pisca, nem gosto de levar desaforo para casa, vim refilar deste lado!

Não gosto de cucos nem de piscos... a crueldade dos cucos irrita-me e a mansidão dos piscos revolta-me - já é tempo de abrirem os olhos e evoluirem!

TempoBreve disse...

Voc� detesta o Tempo, � o que �. Por isso n�o comenta. E faz muito bem. Mas olhe que ele at� gosta que voc� se abeire. N�o vai � deixar-lhe os ninhos � merc� das garras, que ele gosta dos p�ssaros.
N�o gosta de piscos nem de cucos? Mas olhe que devia. S�o t�o como n�s!
Tem toda a raz�o quanto � crueldade e quanto � mansid�o. Por isso mesmo � que falei deles, dos ditos. � tempo de aprenderem, �. Mas isto do aprender � muito complicado , pois s� aprende quem quer apreder. E isso d� que fazer, n�o d�?
Apare�a sempre que queira ou possa. N�o precisa comentar, at� porque os textos nem sempre se prestam a isso,e nem sempre h� tempo. Basta que venha.
Eu farei o mesmo. Posso?