quinta-feira, 26 de julho de 2007

Nem bosque nem melro

O Tempo, um presumido, afirmou, assim sem mais, que todos gostaram de piscos e cucos. E até apelou à falaciosa mentira para dizerem que sim, que se não gostassem deles é porque não gostavam de si. Um descarado. E , não satisfeito com insolência tamanha, lá foi deixando a dúbia promessa de lhes vir a deixar outra ave - o melro.
Só que o melro foi ele ao insinuar tal desvario. Foi para ganhar tempo, e para irritar quem não tivesse gostado das aves primeiras, isto é, toda a gente. Mas fez-se justiça, que ninguém lhe ligou.
O mal é que agora ele vai mesmo cumprir a promessa. Para se vingar da afronta. Ainda não o fez por preguiça, embora insinue que é falta de tempo.
Aquele velho melro tão especial, que há muito vagueia por entre as folhas dum bosque que é livro, vinha-lhe mesmo a calhar. Ao prazer de cumprir a promessa, juntaria o regalo de uma história galharda. Tudo sem grande trabalho. E poderia até aproveitar-se e dizer-se autor. Um descarado.
Tudo muito bem. Ele sabia o autor e o título do livro e do texto. E procurou. E procurou. Afanosamente. Estante a estante. Esvaziou prateleiras. Pôs montes de livros no chão. Barafustou. Rogou pragas. Proferiu palavrões. Fez responsos vários. Nada.
Foi muito bem feito. Quis irritar, e irritou-se primeiro. Quis facilidades, e encontrou trabalhos dobrados. Para que aprenda.
Agora vai ter que sujeitar-se a um textozeco mal amanhado que vai ter que escrever, e a uma fotografiazeca que vai ter de arranjar. Só por teimosia. Só para incomodar.

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