Era um daqueles dias em que me perco de tudo e ando quilómetros sozinho na praia, a ver se encontro as notas do som do mar. Tento até o cantochão. Mas por mais que eu encontre, mais me falta encontrar. Tento então a minha voz, invento novas palavras, mas por mais que eu invente, mais me falta inventar. Porém eu nunca desisto, e volta e meia insisto nestas minhas tentativas.
Era um daqueles dias. Quando cheguei à penedia, que é onde sempre chego, estava a maré muito baixa, em dia de marés vivas. Por isso andei mar adentro, de penedo em penedo, mais longe do que é costume. Esqueci-me, então, da música, e virei-me para a escultura, começando a buscar formas, no todo ou em pormenores. E tirei fotografias, que ficaram esquecidas durante semanas a fio.
Tudo estava muito bem, até que me lembrei delas, e lá as fui procurar para deixar uma aqui. Entre as primeiras que vi, estavam as Silhuetas, que logo aqui vos deixei, como certamente já viram.
Só depois de as publicar é que comecei a duvidar das formas que lá estão. E eu que não sou D. Quixote, embora gostasse de ser, não posso dizer que o que vejo é aquilo que lá está. Por isso eu já não sei bem se aquilo são penedos, se gigantes de perfil, ou se homens disfarçados, de pescoço distendido e olhar embevecido para o espaço que há entre eles. Por isso eu já não sei bem se o espaço que os separa é simplesmente céu, mar e pedra, ou se é escultura grega, no vazio desenhada; ou se sereia ladina, com cores de modernidade, a encantar pobres mortais; ou será mesmo mulher, desnudando vestes de água, até ao ponto exacto onde a tentação cai mais?
Cá para mim é mulher, mas não posso dizer tal, quando não ainda dizem que tenho algum distúrbio mental. Mas se disserem que digam, que um distúrbio mental, se causado por mulher, parece-me natural.
Era um daqueles dias. A música levou-me à escultura, a escultura à fotografia, a fotografia à mulher. Um percurso bem normal.
:-)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Não se vê logo que só podia ser mulher...?
Que falta de visão!
Deixo-te um beijo a correr, que não me posso demorar :P
Se você vê que é mulher, então é porque é mulher. A mim também me pareceu, e foi por me parecer que tirei a fotografia. Uma trabalheira para apanhar aquelea forma. Mas se diz que é mulher, como qyando a foquei me pareceu, então valeu bem a pena.
Não podia ser sereia. Sópodia ser mulher, tal o céu que a desenha,tal a água que a cerca, tais as vestes que ela despe.
Com essas silhuetas só pode ser mulher, sim porque os homens não são assim tão perfeitos de corpo..rs
Falta-lhes a sensualidade..:-)))
( ainda levo com o vaso em cima )
Abraço.:-))
A mim parecem-me dois rostos ,de perfil,que se fitam numa promessa de entrega, num beijo molhado de azul e mar,inebriados pela fragrância de um espaço lúcido e inteiro.Só eles sabem os sons do mar...
GraçaGrega:
Claro que só pode ser mulher. Mas não desprimore os homens, falando em imperfeições.
Para mim a mulher é sempre muito mais linda, e muito mais ainda. Digo-o por verdade. E porque me convém.
Parece que vou ter de contar aqui mesmo essa história de vasos. Um dia o farei.
:-)
Sr. Anónimo:
Como está você?
Agradeço a sua visita. Só o ter vindo, seria bastante para lhe agradecer. Mas devo agradecer-lhe bem mais pelas palavras que aqui deixou.
Sim. São também dois corpos, cujos contornos desenham um outro. E então acontece o tal "beijo molhado de azul e de mar".
De novo obrigado, pela visita e pelas palavras.
E volte sempre, está bem?
:-)
Enviar um comentário