segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O amor é assim, e bendito seja

É assim o amor. Sem reservas nem concessões, ele bate á porta; sem se saber quando; sem se saber onde. E nem põe a hipótese de que a porta não se possa abrir. Malandro, ele, que, no momento em que bate, já sabe que entrou. E assim deve ser.
Traz tudo consigo: todos os sentires que nos atropelam tontos ; todos os sonhares que do corpo voam procurando alma. Deixa-nos assim, como que sem jeito.
Não é culpa nossa, antes desejo mágico, que ele entre assim pela porta aberta. E é aberta que ela deve estar. Mesmo sabendo que ele, traquinas, pode bem partir. E ficarão saudades das cores com que nos pintou, dos perfumes com que nos banhou, dos afagos com que nos tocou, dos sabores com que nos enebriou, das músicas com que nos cativou.
Será grande a tristeza? Será. Mas bendita. Que ao nos afogarmos nela sabemos que sabemos o que já tivemos no lugar que é dela. E isso é um grande bem. E um altar onde, devotos, podemos pedir milagres, pois sabemos que eles existem. E que os sonhos não morrem.
E, depois desta tontice, não me posso assinar como"Anónimo"; seja, então, "António".

Notas: 1- Texto tal como foi publicado no blog da sonhadora, altardasaudade, nos comentários referentes ao poema Efemeridades, de 12 de junho; 2 - Acrescentei apenas o título; 3 - Deixo-o aqui, pois acho que ele mantém alguma especificidade, não obstante a pretensão que eu tive de substituí-lo em absoluto pela versão que deixei no Tempo, e a que dei o título de Bendito seja o amor; 4 - Se os compararem, dirão da sua justiça; 5 - Mencionei a sonhadora, com o assentimento dela ; 5 - E agradeço-lhe, pois este texto aqui, tal como está, nasceu dum improviso, que não emendei, e que me assaltou depois de ter lido o poema já referido.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quem fala assim de amor, andou com ele nas palmas das mãos, sentou-o ao colo,despiu-o com beijos, deitou-o no berço,cantou-lhe cantigas com a respiração suspensa.Uma delas,ondulação de mel,começava assim:um luar de gaivotas...
Continue a escrever que os seus textos revelam uma personalidade de um "clandestino" breve como o tempo.Será que o nome do blog anuncia um premeditado encerrar de uma janela deslumbrante , de cuja paisagem se vê um mundo que começa numa vinha de palavras que vêm da vila mais bonita do mundo.Ou é do coração?

S. disse...

Caro TempoBreve, se o amor é tão intemporal quanto o tempo, e nao breve como nos prentende fazer crer, deixo-lhe hoje estas minhas palavras, quando, por ventura, já nao as lerá, mas também confesso que nao sei muito bem como estas coisas dos blogs funcionam.
O amor, algo que nunca me interessou muito, se tal é possível afirmar, parece teimar em querer bater-me à porta, indiscreto, nunca lhe dei a minha morada...e de repente saber o que quero? quero escutar músicas que falam de amor, términos, traição, achando que cada palavra na letra descreve a nossa incrível e intensa ''história de amor'' que só existe na minha imaginaçao...
não resisti a deixar-lhe aqui um pedacinho do que me vai na alma ao pensar no tema....