domingo, 16 de setembro de 2007

Amizade em forma de pedra

Não sei se sabem, mas deviam saber, que eu muitas vezes não ando com telemóvel. E, quando ando, ou está desligado, ou está em silêncio. É quase sempre assim. Depois eu vejo quem telefonou e decido se ligo de volta ou não. Leio as mensagens escritas, e respondo ou não, mas as de voz, essas não as ouço. Com esta simpatia toda tão social, até já tem havido quem se tenha queixado. Mas sem razão, não acham?
Ora aconteceu ontem, eram 22:09, estava eu na festa, e vou ver as horas, que é uma grande utilidade que o telemóvel tem. Estava a piscar. Estavam-me a ligar. Vi logo quem era. Era um meu amigo que tinha ido de férias para longe. Sorri porque já sabia qual era o convite que me ia fazer, e preparei-me para dizer-lhe que não, que não podia, que me ia deitar tarde. Atendi:
- Então?! Como está o meu amigo? Correu tudo bem?
- Correu, sim. Olhe, deixe-se de coisas. Amanhã lá estamos. Vou buscá-lo a casa às 14:00. Às 15:30 estamos no buraco um. Acabamos pelas 18:30, que é uma hora muito boa para acabar. Você vai no banco de trás para não olhar para o conta quilómetros.
- Lamento, mas amanhã não posso. Vou-me deitar-me tarde.
- E eu nem me vou deitar. Vá! Deixe-se de tretas. Amanhã às 14:00.
- Mas eu nem estou em casa. Nem estou na cidade.
- Eu também não. Às 14:00. Está combinado.
- Onde raio é que você está?
- Estou no aeroporto do Dubai. Às 14:00. Está combinado.
Dei uma gargalhada, e disse que sim. Se ele estava no Dubai e vinha, eu também podia bem vir do sítio onde estava. E às 15:30 demos a primeira pancada. Fomos o terror do campo nesta tarde de hoje. No fim, esse meu amigo tirou um saco do carro e entregou-mo dizendo:
- Isto é para si.
- Para mim? O que é?
- Uma pedra e uma garrafa de areia. São do deserto. Apanhei-as eu.

4 comentários:

damularussa disse...

Bonita a pedra, que simbolizará uma amizade duradoira. A areia os devaneios de dois amigos..sim, porque dois amigos que jogam golfe só podem ter devaneios..rs
Viu? Inventei tudo.

Há lá prendas melhores que essas, só as que me dão a mim. Sal do deserto, ah pois, deram-lhe? Claro que não, só eu o mereço. (gargalhando)

Volto para o ler, já sabe.

TempoBreve disse...

Costumam oferecer-me prendas assim tão especiais. São de facto as melhores. E não é qualquer pessoa que as oferece ou aceita tais. É sempre preciso um certo golpe de asa.
Quanto às suas invenções, deixo-as consigo, para a não iludir nem desiludir, muito embora isto do nem carne nem peixe não se dê bem comigo.
Vou fazer-lhe o favor de mentir dizendo que sim, que as suas prendas, não as suas suas, ms as suas que lhe dão, são as melhores. Você merece bem esta minha mentira, que é uma prenda rara que eu às vezes dou.
:-)

Anónimo disse...

Gostei deste texto com uma narrativa viril e sólida, como essa pedra rara que você tem a sorte de ter.Estime-a bem e continue a escrever,que cá voltarei.
laura

TempoBreve disse...

Laura,

Agradeço a surpresa da sua visita, e peço desculpa por só hoje responder ao seu comentário. Costumo fazê-lo no próprio dia, mas,como o texto de que fala já tem umas semanas, descuidei-me e não reparei que nele havia um comentário novo - o seu.
Agrada-me muito que tenho gostado do texto, e muito obrigado,tanto pela sua adjectivação simpática,como pelo incentivo para que escreva.
Volte sempre que possa, que eu estarei aqui sempre à espera de si.
:-)