segunda-feira, 23 de março de 2009

O peso que a escrita tem

Detesto aquela história medíocre que fala do horror da folha à frente e em branco que faz finca- pé da sua brancura ante o infeliz escriba que teima em querer escrever sem saber o quê, sem saber como, sem saber para quê. Afinal é tão fácil preencher a folha. Por isso, esse tal horror do escriba, é um horror petulante, palerma ou fingido. Quer ele dizer que é muito difícil escrever coisa que valha; e é. E que, em preenchendo ele a folha, o valor da escrita está assegurado; não está. Mas também não é preciso.
Deixe-se o escriba de anunciar horrores, e escreva ele o que acha que tem a escrever. Depois, se o que escreve vale ou não vale, isso é já uma outra história. Mas que não me irrite com o seu desconsolo perante a virgindade teimosa da folha escarninha. Que escreva. Ou que deite fora a folha. Mas não deite culpas à folha do peso que escrita tem.

10 comentários:

Inês disse...

Foi muito bom reencontrá-lo, professor.
Uma lufada de ar fresco :)

TempoBreve disse...

Olá, Inês!

O "muito bom" foi todo o meu. Mas fiquei atarantado com a "perseguição" feita a correr na via pública, ali mesmo no coração da cidade? Gostei muito de vos ver. E eu tenho uma dívida a pagar-vos. Não sei se poderei alguma vez pagá-la.
:-)

Ibel disse...

Há escribas que, quando deitam as mãos à folha, conseguem emprenhá-la sem lhe retirarem a sedução da virgindade.E fazem poesia como quem faz um filho.

Inês disse...

Dívida? Dívida temos nós para consigo, por nos ter ensinado tanto e nos ter aturado também.

Para a próxima "perseguimo-lo" com menos correria :)

p.s. - Lembra-se daquela minha história, pegando em palavras suas, romântica? Aquela dos dois olhos que queriam um encontro? Acabei-a :)

Mar de Bem disse...

...eu queria escrever, aqui, qualquer coisinha, só para dizer-vos que este espaço branco não ficará assim tão branco!
Mesmo que fique apenas sujo de algumas intenções... que já não sei quais...e porque a escrita algum peso tem. Terá?

TempoBreve disse...

Ibel!
Quando tal acontece, a folha branca agradece, ao pincel e à tinta, e às mãos do artista que a sarapinta e pinta, pois sabe bem que a pintura, sempre desejada, engrandece a sedução perene da brancura sua. Mas eu sei que é o pintor, se artista for, que ficará sempre agradecido à folha.

TempoBreve disse...

Olá, Inês!
Não. Para a próxima vez tendes que me "perseguir" com mais correria, com mais gritaria, com bandeiras até. E eu vou "fugir" para o espectáculo durar, e para todos verem, e para todos ouvirem, e para todos saberem.
Claro que me lembro daquela tua história dos dois olhitos que a cara juntou, o nariz separou e a paixão uniu. Manda-ma por "mail", sim?
:-)

TempoBreve disse...

Mar de Bem!
Que bem que ficaram as suas letras pintadas no espaço em branco. E não se preocupe com as intenções esquecidas que elas ficam sempre nas tintas escondidas. É só olhar bem, que elas aparecem a quem procurar. Você, que é pintora, sabe disso bem.
É claro que a escrita pesa. Como a pintura. Mas é um peso que muitas vezes se ri de todas as leis da física que temos: é um peso que esmaga quando não se tem quê, ou não se sabe como; mas é também um peso que se transforma em asas de voo quando o "quê" e o "como" se casam numa escrita leve.~
Acontece às vezes. Acomtece a muitos. Mas a mim, não. Ou, mais condescendente: mas a mim nem sempre.
Como vão as suas pinturas? E os seus Açores?
Apareça sempre.

Anónimo disse...

Que o Coelhinho da Pascoa te traga muitas amendoas e amor.

Mar de Bem disse...

...e aqui estou, na noite solitária do Faial...
...e a lua brilha lá fora...

Ando preguiçosa. Tenho que pintar 2 "Mater Dolorosa" e não me apetece, porque eu tenho de ficar triste para poder pintar a tristeza...e não sei quando isso vai acontecer. Ainda por cima o tempo está bom!!! Se chovesse, a neura aparecia de certeza e... daí à tristeza é só um pulinho!

...e a apoquentação não me larga...

Dizem que se deve dizer BOA PÁSCOA!!!