terça-feira, 31 de março de 2009

O macaco volta a atacar

Eu nunca falei aqui de cavalos, nem nas "Peles", nem no "Tempo". Mas a verdade é que eu gosto deles, e alguém veio aqui perguntar-me por eles. Não sei como se soube desta fraqueza minha por cavalos, que vem de menino. Foi adivinhação, certamente. Ou então foi sonho. Foi isso. Foi sonho, que quem me perguntou por eles veio aqui perguntar-me era já noite dentro.
Não é novidade gostar-se de cavalos. São tão fáceis de gostar que todos a dizem que gostam. E eu até acredito. Mas o gostar de todos esses outros é bem diferente do meu. O meu, é claro, é um gostar bem melhor que o dos outros todos. Cá por umas coisas minhas, guardadas em histórias pequenas nos escaninhos da minha memória.
Como gosto deles, gosto de fotografá-los, principalmente quando, livres e meio selvagens, andam em manadas espalhados pelas serras da Peneda, Soajo, Gerês, Arga. E ainda pelos montes que as circundam. Mas é difícil fotografá-los bem, que eles são ariscos e põem-se em guarda.
Ora acontece que, há cerca de três anos dei de caras com um solitário nuns campos abandonados, mesmo junto à praia. Esse não tinha a liberdade dos montes, mas tinha os instintos intactos. Passei uma semana a namorá-lo. Todos os dias lhe levava qualquer gulodice. Mas ele, "está quieto!", não vinha até mim; nem me deixava ir até ele, que eu bem percebia quando ele batia com a pata direita no chão dianteiro. Mas lá fomos indo, ora eu teimando, ora ele baixando a guarda, muito lentamente. Ia lá mais que uma vez por dia. Até que, ao fim duma semana, ele veio-me à mão, e nela comeu do pão que eu levei no bolso e lhe ofereci. Muito receoso ele; muito receoso eu. Mas foram só mais uns instantes, e eu posei-lhe devagarinho a outra mão na testa, afaguei-lhe a cabeça, entre as orelhas, depois mais abaixo e dos lados, depois o cachaço e depois o dorso. E, então, ele retribuiu também, pousando manso o pesado focinho no meu ombro esquerdo. E ali ficámos parados, ele elegante e poderoso, e eu frágil e tenso, até que ele me deu uma grossa e húmida lambidela pelo pescoço acima, dobrando-me a orelha.
Tirei-lhe várias fotografias, de várias distâncias e de vários ângulos. Até que ficaram bem. Mas só numa é que o cenário ficou como eu queria e como ele merecia.
Andam por aí escondidas, essas fotografias. Sei que estão num dos computadores, mas não sei bem em qual deles, nem onde. Já as tenho procurado, e nada.
Não é só por aselhice minha e falta de tempo que as não encontro. É que eu tenho um macaco, que é mesmo um macaco. Anda sempre a embirrar comigo e, para não me aturar e me enervar, anda-me sempre fugido, ou, então, escondido no meio dos livros, ou dentro dos computadores, ou sei lá eu mais onde. É um atrevido. De certeza que foi ele que me atacou os cavalos, escondendo-os ou afugentando-os. Faz isso por ciumeira, ou por causa da tal embirração natural que teima em manter comigo.
Ai, mas isto não vai ficar assim, não, que um dia eu apanho-o distraído, levanto-o pelas orelhas, e ele terá de me dar logo ali notícia dos cavalos meus. Ele vai ver!E, já que leram isto, prometo que, quando encontrar essas fotografias, eu ponho uma aqui. A do tal.

14 comentários:

Inês disse...

E aqui ficamos (pelo menos eu fico) à espera dos seus cavalos, que tenho a certeza que são lindos. E fico também à espera de mais textos como o seu primeiro neste blog: "De novo voltarei a ti".
E fico também à espera de um comentário à minha história, se assim o conseguir.

Com saudade,
Inês

Ibel disse...

Ai como eu gosto do teu macaco que te prega partidas e que é tão malandro como o dono! Palavra que gosto dele.E de ti, não fosses tu a alma gêmea dele ou a dele gêmea da tua.E como eu gosto de te ver ressuscitar da letargia e da hibernação com a graça(grega!!!)que fez as delícias do meu Inverno passado, onde não faltaram violetas(ela não tem aparecido!!!), nem uma beija-flor e uma gaivoar e...
E depois trazes uma aguarela de cavalo, maravilhosa, onde um poeta menino de cabelo branco repete a história do principezinho e da raposa.
Agora só espero que o teu macaco te ajude a encontrar as fotos, mas se não for possível, eu já vi tudo, pintor de palavras e de ternuras.

TempoBreve disse...

Inês!
Pelos vistos tenho mesmo de "inventar" os meus cavalos para os mostrar aqui. Não sei se eles vão gostar; sei é que o macaco vai dar uma luta danada para impedir que eu os mostre. Mas isso é já uma outra história.
Com que então tu tiveste a ousadia de vasculhar tudo até descobrires o primeiro texto deste blogue? Ah, sua marota. Aqulele texto foi escrito directamente no blogue, sem qualquer rascunho prévio, e a título de experiência, só para ver se eu aprendia a publicar textos nesta "coisa". Consegui, mas não soube bem como. Depois ficou para ali adormecido. Eu bem sabia que ele existia, e queria até apagá-lo, ou, pelo menos, corrigi-lo, pois pressentia que aquela ideia não tinha sido grande coisa. Mas, como não anotei, e depois me esqueci de todas as referências para chegar até ele, ele lá foi ficando, ali esquecido. E assim é que ele estava bem.
Passados uns tempos, penso que uns dois anos,abri o "TempoBreve", já que me esquecera do acesso às "SetePelesSeteSaias". E, ao configurar aquelas "cenas" todas, aparece-me, assim de repente, no computador uma mensagem em que se me perguntava se eu queria associar as "SetePelesSeteSaias" ao "TempoBreve". É claro que o "Tempo", ao ver "Peles" e "Saias", disse logo que sim. E é essa a razão por que ainda hoje, se quero chegar às "Peles", tenho que usar as chaves e as portas do "Tempo".
Então e o primeiro texto delas, o "De novo voltarei a ti?". Olha: li-o, e até gostei, e até achei que não fui eu que o escrevi, e, por isso, deixei-o ficar, tal como estava, e fiz muito bem, pois já várias pessoas me falaram nele.
Quanto à tua história, estou ansioso por lê-la. E vou comentar, pois está bem claro que sim.

TempoBreve disse...

Ibel!

Lindo! Muito lindo mesmo! Põe-te para aí a dizer que gostas daquele macacão, e depois eu que o ature! E mais:dizes que somos almas gémeas, eu e ele. Bonito! Então eu agora virei alma de macaco, é? Mas, se eu protesto, ele não. Atira-me à cara que nós dois somos um, mas que ele é a parte boa, e eu a parte má. Até ameaça dizer mal de mim e, em casos mais graves, fingir que não me conhece. E, depois, ri-se. Eu já nem lhe ligo. Chega a dizer-se bonito, ele, o macaco; e que eu sou feio, mesmo para um macaco. Chega a dizer-se inteligente, aquele tolo; e que eu sou um nabo.
Por isso, menina, não lhe dês calores. Ele é atrevido. Mas eu vou metê-lo nos eixos. Ai, isso é que vou.
Quanto às hibernações, elas fazem parte da minha natureza. Às vezes hiberno. Mas acordo sempre pela primavera. Para a ver melhor.
Um abraço.

Inês disse...

Ainda bem que o não apagou, porque eu gostei muito dele, e é claro que só podia ter sido escrito por si. Ainda bem que, como numa canção que anda por aí, Lhe passou a Pele(s) por entre as mãos de novo. E além de ter a ousadia de vasculhar, tive também a ousadia, e espero que não se importe, de pôr esse mesmo texto no meu portefólio de português, nas secção de textos de 'outrem' :)
E fico à espera então... :)

TempoBreve disse...

Inês!
Já recebi o teu texto. Li e gostei. Depois,(em breve) digo-te alguma coisa.
É perigoso pores textos meus no teu portefólio: primeiro, e principalmente, porque eles são tímidos e talvez não se sintam bem à beira de textos bem melhores que eles; depois, porque se a professora sabe, pode não gostar, se me conhecer e não gostar de mim; finalmente, porque se a ministra sabe, ainda te excomunga, e ainda faz um despacho qualquer a mandar que te reprovem. E olha que a escola obedece. Tem cuidado, sim?
Que diabo de canção é essa de que falaste?
:-)

Inês disse...

Por textos tão bons, vale a pena o perigo ;)
E não têm nada de ser tímidos, porque são bem melhores do que alguns de escritores conceituados neste país.
A música chama-se "Pele" dos Pólo Norte, e ouço-a quase sempre só para ouvir essa frase, ficou-me no ouvido. :)

Anónimo disse...

Um autor que gosta de animais!Muito louvavel.Nao por gostar de animais, mas pela nobreza dos seus afectos que nos pretende revelar.Nao sei se serao genuinos mas,a serem, revelam um" deficit" nas relacoes interpessoais.Complicado?A bem dizer,quando alguem nos relata um "namoro" com um cavalo,cao,gato,formiga,etc...o que na realidade quer que acreditemos e que tem boa relacao com consigo mesmo e com os outros.Isso nao e verdade.Os individuos neuroticos sao disso o mais vivo exemplo.Ha uma clivagem em toda a estrutura interior destes sujeitos.Basta ouvirmos os seus discursos ou lermos as suas palavras.Sao pessoas com vocabulario" menos proprio",maldizentes de tudo e todos,exibindo comportamentos persecutorios e labilidade nao consentanea com o acto e o momento.Seria de todo aconselhavel buscarem nas relacoes com o outro uma harmonia mais condizente com o que e socialmente agradavel,correcto e construtivo,podendo,claro esta,fazerem-se acompanhar do seu animal de estimacao,se assim o entenderem.

GraçaGrega disse...

Olá Tempo Breve...
Por acaso até podia ter sido sonho, mas esses prefiro que sejam bem acordada e de pés bem assentes no chão.
Ora como não sou bruxa, muito menos
adivinha, é claro que só poderia ter sido vc a dar-me conhecimento dessa sua grande paixão pelos cavalos.
Mas até se compreende, os anos vão passando, a idade não perdoa e a falta de memória aparece....:-))
Coisas de mau feitio mesmo, nada a fazer!
E vou já embora depressinha antes que sobre para mim...
Um bom fds sim?
Cumprimentos ao macaco, gosto dele e das judiarias que lhe prega a si.
Tem sentido de humor, é muito divertido ( a tal parte boa que teima em se esconder )...rs
Um abraço..:-))

Anónimo disse...

Uma Santa Pascoa para ti, Antonio.
Es um bom camarada!

Anónimo disse...

Que a vida seja como a Primavera para si, e que todos os dias sejam dias de alegria.Se nao a encontrar ao seu redor e' porque esta' dentro de si.Agora,como dizia o meu estimado Raul Solnado:"Faça o favor de ser feliz".Boa Pascoa para o meu estimado colega.

Mar de Bem disse...

NÃO GOSTO DISTO:
"Um autor que gosta de animais!Muito louvavel.Nao por gostar de animais, mas pela nobreza dos seus afectos que nos pretende revelar.Nao sei se serao genuinos mas,a serem, revelam um" deficit" nas relacoes interpessoais."

..."os afectos que nos pretende revelar"? "não sei se serão genuínos"? "revelam um" deficit"?
Que raça de criatura tem a lata de escrever isto aqui?

Eu não sei como se chama, TEMPoBREVE, mas eu não preciso das fotos e daquela foto do cavalo, porque a sua descrição do "namoro" foi tão intensa e real que me chamuscou a alma. Sabe? É por isso mesmo que aqui confesso que cada vez mais me entendo melhor com crianças e animais, porque simplesmente não têm segundas intenções!!!...

Mar de Bem disse...

Sou mesmo tonta! Ali está o nome escarrapachado: António Mota - TEMPoBREVE!!!
...e para escrever o que acima escrevi, para que queria o nome?

BOA PÁSCOA, BOA PÁSCOA, BOA PÁSCOA!

Rocio disse...

Acho que é bastante corrigir o que diz aqui, só agora eu estou lendo a partir da célula e não pode ver muito bem, especialmente porque eu pus meus óculos vogue