segunda-feira, 31 de março de 2008

Prós e Contras. Hoje. Não perca

Hoje, o Paulo Guinote, d' A Educação do meu Umbigo" vai estar no "Prós e Contras".
A não perder.
Pode assistir ao programa na televisão, ao mesmo tempo que pode sequir os comentários em directo em "A Educação do meu Umbigo" - "educar.worpress.com"
Força, Paulo.
Há um exército de esperança atrás de ti.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Não esquecer o essencial: a violência do governo tem sido a violência maior

1. Comunicação social volátil à procura de audiência

E, de repente, as questões mais visíveis do conflito que opõe professores e Ministério da Educação existente professores foram postas de lado pela comunicação social: ou não falam já nesses assuntos (a aberrante e arbitrária invenção dos “titulares”, o irracional modelo de avaliação, o tal novo projecto de gestão escolar para “gerar lideranças fortes”), ou dão-lhe um relevo diminuto. Agora, os principais órgãos de comunicação social assestaram todas as suas baterias no tema da “violência” nas escolas. Aquele vídeo da Carolina Michaelis, de tão chocante que é, foi uma bênção para eles, pelas horas e horas a fio de comentários e de repetição das mesmas imagens. Toda a gente tem opinião. Mas nem toda a opinião é inocente. E esta derivação pode ser boa também para a ministra, se não estivermos atentos, pois desvia a atenção do essencial.

2. A "Quadratura do Círculo"

Ontem, na "Quadratura do Círculo", falou-se inevitavelmente do vídeo e da violência. Mas falou-se de uma forma muito genérica. Tão genérica que até pareceu banal. Teve o mérito ao menos de aflorar algumas ideias em que em que o Jorge Coelho e o Pacheco Pereira estão ambos de acordo:

- Os professores não participam casos de violência porque não acreditam no sistema, acreditando, isso sim, que isto, na situação actual, lhes poderia ainda acrescer os problemas;
- Há uma tendência para silenciar os factos, um silêncio cúmplice, também para não criar problemas à escola, à própria polícia, à progressão na carreira;
- A participação dos pais nas escolas é muito reduzida e duvida-se do grau da sua representatividade;
- É necessário mudar o sistema de gestão democrático das escolas, mas não se referiram ao novo sistema que a ministra propõe. Será que concordam com ele?

O Jorge Coelho atirou, como costuma, com os casos da sua vida. Evocou, como sempre faz, os muitos amigos que tem. Esforçou-se por vincar a ideia de que a culpa não deveria ser assacada a este ou àquele, fazendo uma afirmação “inovadora” que a culpa era de todos: pais, professores, polícia, escola, autarquia. Generalizou de tal maneira, que a culpa é de todos, e, sendo de todos, acaba por não ser de ninguém. Só se esqueceu de referir o “incentivo” importante que a “política educativa” da sua ministra tem dado à desautorização dos professores e da escola, potenciando estes casos de desrespeito e violência. Mas não se esqueceu de louvar a actuação “não demagógica” do governo nesta matéria. Certamente não ouviu aquele “diálogo” surreal entre jornalista e ministra, em que a senhora sociólogo comparava o Estatuto do Aluno ao Código da Estrada.

O Pacheco Pereira acusou a comunicação social de banalizar a situação de tanto repetir as imagens do vídeo. É uma questão em que bate sempre, umas vezes com razão, mas outras vezes sem ela. Isto quanto ao que eu penso. E eu penso que estas imagens, mesmo muito repetidas, têm sido muito úteis, não estão banalizadas, e, diluído o choque emocional das primeiras vezes que se vêem, ajudam a racionalizar mais o problema que traduzem. Eu acho que têm sido muito úteis. Pelo menos até agora.
Ao contrário do Jorge Coelho, disse que a ministra lidou mal com as imagens e o problema da violência, mas limitou-se apenas a dizer que a sua reacção "foi frouxa". Criticou o “psicologismo” como norma universal reinante mo Ministério da educação, que leva o professor a ter que cativar os alunos, ater que motivar os alunos, a seduzir os alunos, partindo sempre da máxima do aluno como “bom selvagem” que tem levado aos resultados que se vêem. E nesta questão do “eduquês”, culpou também os sindicatos.
Terminou por afirmar que “reconhecer o problema” da violência deveria ser o primeiro passo que o ME devia dar. E que devia também passar a ideia de que não se devem “punir” os professores por participarem factos de indisciplina e desrespeito. Não sei se ele sabia que ao dizer estas coisas estava a criticar o Estatudo do Aluno ( um monstro, como diz Daniel Sampaio, finalmente “convertido”), e que estava também a criticar o modelo de avaliação dos professores, nos moldes em que ele está feito. E foi bom ele dizer isto. Mas disse-o de forma tão genérica, e quase displicente, que até parecia que estava a fazer um favor.

3 - Conclusão

A “Quadratura” foi frouxa. Não aprofundaram nada. O Jorge Coelho fez o que sempre faz, e como o sabe fazer. Mas até que lá foi concordando com o Pacheco Pereira. Ao Pacheco Pereira exigia-se mais. Ele não pode ficar por afirmações tão genéricas, mesmo que sejam de respeitar, e até de concordar. Ele, principalmente ele, não pode ir para ali dizer "umas coisas" sobre a Educação, assim a modos de "despachar" o assunto.
Hoje tem sido um desfilar de debates, de entrevistas e de registos de opiniões várias. E novamente se nota a ausência dos professores, a falarem com a voz de professores. Alguns comentadores são sinceros. Outros, não. Mas os professores deveriam estar lá, através das estruturas que os representam, ou individualmente.
Na maior parte dos casos, os intervenientes falam de forma muito genérica; falam como podem, mas nota-se que não estão bem conscientes da realidade que se vive nas escolas, e esquecem sistematicamente o conflito que existe entre ministra e professores. Não referem a paralização que está a invadir as escolas, com coordenadores a pedirem demissão, com Conselhos Pedagógicos a pedirem demissão, com Conselhos Executivos a pedirem demissão.
Não podemos consentir que a discussão agora se limite à violência em geral, e daquele vídeo em particular.
Não podemos esquecer o essencial: o modelo de avaliação, o concurso para titulares, o novo projecto da gestão escolar.

O esquecimento, ou o “arrefecimento” poderia ser fatal. E não esquecer também o desrespeito e a violência que este governo tem sistemáticamente atirado sobre nós. O resto são pormenores dessa violência maior, que tem sido a do governo.
……….
Nota: Posso deixar-lhes um abraço?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Testemunho*

Colegas!

Emídio Rangel foi dos mais insurrectos e malcriados alunos que passaram pelo liceu Diogo Cão onde estudei, em Sá da Bandeira.
É pena não ser possível (será que é?!...) divulgar a ficha escolar desse traste, pois lá deverão constar as faltas disciplinares e até suspensões devidas a graves actos de indisciplina e falta de educação. Desde arrancar fios eléctricos, rasgar o livro de ponto e até partir o quadro da aula, esse energúmeno fez de tudo!
Não deixa de ser irónico que um tipo com este curriculum tenha a ousadia de opinar sobre educação e docência.

Maria Leonor Gundersen
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*Enviado por mail.

terça-feira, 25 de março de 2008

Assumir responsabilidades (II); as demissões sucedem-se

Sernancelhe: Professores demitiram-se de Assembleia do agrupamento de escolas
19 de Março de 2008, 17:59

Viseu, 19 Mar (Lusa) - Os seis professores que integravam a Assembleia do Agrupamento de Escolas de Sernancelhe demitiram-se por considerarem que o seu projecto tinha "uma morte mais ou menos anunciada" com o novo diploma sobre gestão escolar.
José Amaral, professor que ocupava o cargo de primeiro secretário da Assembleia, disse hoje à Agência Lusa que as demissões foram apresentadas numa reunião terça-feira à noite.
"Foi uma decisão pensada, tomada e a Assembleia deixou de ter quorum suficiente para funcionar", explicou, acrescentando que três dos seis professores ocupavam os cargos de presidente, primeiro e segundo secretários da Assembleia.
O projecto de decreto de lei sobre autonomia, gestão e administração escolar prevê a criação de um Conselho Geral que, na opinião dos professores, porá em causa o projecto que iniciaram.
"O projecto em que nos revíamos tem uma morte mais ou menos anunciada, uma vez que vai ser constituído um novo órgão que é o Conselho Geral", lamentou.
Segundo José Amaral, além das competências habituais das Assembleias, a de Sernancelhe pretendia dar "uma maior visibilidade ao agrupamento, fomentando novas actividades".
"Neste momento, sabemos que não temos condições para fazer isso, porque, por mais projectos que façamos, logo que o Presidente da República promulgue o decreto de lei seremos destituídos", justificou.
O professor sublinhou que, assim sendo, "o projecto neste momento não tinha razão de ser", sendo a demissão "uma forma despegada de mostrar que os professores gostariam de lhe dar continuidade, mas colocam o lugar à disposição".
Contactada pela Lusa, a presidente do agrupamento remeteu esclarecimentos para os membros da Assembleia.
AMF.
Lusa/fim
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Nota: sublinhado da minha responsabilidade.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Bons conselhos duma mãe agradecida*

Logo depois de ter lido aqueles documentos sobre a avaliação dos professores, pensei como lhe deveria agradecer, Srª Ministra.
Afinal, aquelas horas passadas diariamente junto do meu filho a verificar se os cadernos e as fichas estavam bem organizados, a preparar a mochila e as matérias a estudar para o dia seguinte, a folhear a caderneta escolar, a analisar e a assinar os trabalhos e os testes realizados nas muitas disciplinas, a curar a inflamação de uma garganta dorida pela voz de comando "Vai estudar!" ou pela frase insistentemente repetida, de 2ª a 6ª feira:"DESPACHA-TE! AINDA CHEGAS ATRASADO!" ou o incómodo e o tempo perdido para o levar diariamente à Escola, percorrendo, mais cedo do que seria necessário, um caminho contrário àquele que me conduziria ao meu emprego, tinham finalmente, os seus dias contados. Doravante, essa responsabilidade passaria para a Escola e, individualmente, para cada um dos seus professores.
Finalmente, poderei ir ao cinema, dar dois dedos de conversa no Café do Sr. Artur, trocar umas receitinhas com a minha vizinha (está entrevadinha, coitadinha!) ou acomodar-me deliciosamente no sofá da sala a ver a minha telenovela brasileira preferida. O rapaz ainda me alertou para os efeitos das faltas o conduzirem à realização de uma prova de recuperação. Fiz contas e encolhi os ombros - poupo gasóleo e muitos minutos de caminho, de tráfego e de ajuntamentos. Afinal, ele até é esperto e, se calhar, na internet, encontra alguns trabalhos ou testes já feitos… Sempre pode fazer "copy – paste"… Efectivamente, as provas de recuperação parecem-me a melhor solução para acabar com a minha asfixia matinal e vespertina.
Ontem, a minha vizinha da frente, que tem dois ganapos na escola do meu, disse-me que, se ele continuar a faltar, o vêm buscar a casa, e que, no próximo ano lectivo, os professores vão tomar conta deles depois das aulas. Oiro sobre azul.
Obrigada, Srª Ministra. A Senhora é que percebe desta coisa de ser mãe! A Senhora desculpe a minha ousadia, mas será que também não seria possível fazer uma lei para os miúdos poderem ficar a dormir na escola? Bastava mandar retirar as mesas e cadeiras das salas de aula e substituí-las por beliches, à noite. De manhã, era só desmontar e voltar a arrumar. Têm bar, cantina e até duche. Com jeito, eles ainda aprendiam alguma coisinha sobre tarefas domésticas, porque, em casa, não os podemos obrigar a fazer nada ou somos acusados de exploradores do trabalho infantil com a ameaça dos putos ainda poderem apresentar queixa junto das autoridades policiais.
Ao Sábado, Srª Ministra, podiam ocupá-los com actividades desportivas ou de grupo, teatro, catequese, escuteiros, defesa pessoal…O ideal mesmo era que os pudéssemos ir buscar ao Domingo, só para não se esquecerem dos rostos familiares.
O meu medo, Srª Ministra, é aquela ideia que a minha vizinha Sandrinha, aquela dos três ganapos, comentava hoje comigo. Dizia-me que a Senhora Ministra quer criar o ensino doméstico. Eu acho que ela deve ter ouvido mal ou então confundiu o jornal da SIC com aquele programa da troca de casais do canal 24. Eu acho que isso não vinga em Portugal, porque não temos a extensão de uma América do Norte ou de uma Austrália e, por outro lado, tinha que comprar e equipar os VEI (veículos de educação itinerante), o que iria agravar mais o deficit das contas públicas e o insucesso dos nossos miúdos. Foi isso eu disse à Sandrinha. Acho que ela deve estar enganada. Logo agora, que podemos respirar de alívio porque não temos que nos preocupar com a escola dos garotos, essa ideia vinha destruir tudo, porque os obrigava a ficar em casa para receberem os VEI e aos pais ainda iria ser exigido algum acompanhamento.
A Senhora faça é aquilo que decidiu e não oiça o que os inimigos dos pais e das mães lhe tentam dizer (já agora, lembre-se da minha sugestãozita!). Assim, os professores, com medo da sua própria avaliação, passam a dar boas notas e a passar todos os miúdos e, desta forma, o nosso país varre o lixo para debaixo do tapete, porque é muito feio e incomodativo mostrarmos, lá fora, que somos menos capacitados que os nossos "hermanos" europeus.
Uma mãe e encarregada de educação agradecida,

*Teresa Pimenta
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Notas: 1 - Avisa-se a senhora socióloga que esta carta está cheia de ironia; o aviso serve também para os seus "cães de fila", obedientes e acríticos, à espera do "osso"; ela e eles podem perguntar a qualquer professor o que significa ironia; 2 - Já há tempos que este texto circula entre blogues; foi-me enviada por mão amiga, pedindo a sua publicação; aqui a deixo, principalmente para quem ainda a não leu; e também não faz mal relê-la, já que o seu conteúdo permanece actual.

domingo, 23 de março de 2008

"Vicente", um corvo que canta ousadia e liberdade*

Torga escreveu:

"Mesmo desprovido de acção imediata,um protesto é sempre um protesto. Uma vez feito, desliga espiritualmente o seu autor da canga rotineira a que vai jungido, compromete-o publicamente com a subversão, solidariza-o com os demais revoltados, e movimenta a passividade, irmã gémea da conivência. Repõe o indivíduo marginal no clima do seu tempo histórico, e dá-lhe a possibilidade de semear ao menos o penisco da esperança no chão actual.Os filhos ou os netos que usufruam depois as vantagens do pinhal crescido".

Como são proféticas e actuais estas palavras escritas há exactamente 50 anos. Temos de ser como o Vicente, o corvo de Os Bichos, e preferirmos enfrentar o dilúvio a entrarmos à força na arca que estes Noés de meia tigela nos querem impingir.

José Coimbra
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*Nota: Texto enviado por José Coimbra, a quem agradeço. E, já agora, leiam e releiam Os Bichos, do Torga. Eu faço-o muitas vezes. Tão humanos, aqueles bichos.

ALELUÍA!

Não tenho aqui nenhum boneco à mão, para lhes desejar BOA PÁSCOA. Tenho um galo e uma coelha, mas desses já se falou bastante, e não os quero misturar com os bichos verdadeiros, que esses têm dignidade.
Boas Festas para todos. Eu passarei o dia em Vila Real. Talvez vá de novo a Galafura, por causa dumas fotografias, e para respirar silêncio puro.
A verdadeira Páscoa, para mim, é só na segunda-feira. Aposto que irei de casa em casa, pelas casas lá da aldeia, a cantar ALELUÍA. Assim mesmo. Que na minha terra a palavra tem mesmo as quatro sílabas. Não ficasse ela no Minho.
Até breve.
Um abraço.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Já se ouvem os sinos tocando a rebate

1.
Quando o sino tocava a rebate, a aldeia levantava-se em peso e corria. Acorria. Todos. A maior parte nem sabia a quê. Mas acorria correndo. Homens, mulheres, jovens, crianças. Era uma solidariedade tão intensa e tão humana que apagava diferenças, que apagava inimizades.
Normalmente era um fogo. Agora chamam-lhe mais um incêndio. Entre “fogo” e “incêndio” ia e vai um abismo de distância semântica. O “fogo” continha mais a inocência trágica do fortuito ou do louco; o “incêndio” continha mais a culpabilidade dramática do ódio ou do dinheiro.
Eram raros, um e outro. Agora são mais frequentes, principalmente o “incêndio”. Tornou-se praga nacional, com direito a época própria. E a ele se associa, sempre e cada vez mais, a culpabilidade dramática, não do ódio, mas do cinismo que tenta justificar a incúria irresponsável e o jogo de interesses, de que muitos se aproveitam. Justificam-se com a “seca”. O que tem alguma verdade. Como convém. Para desviar a atenção da incúria irresponsável e do jogo de interesses, os verdadeiros incendiáros.
2.
Se o cinismo oportunista - tentando ocultar a incúria irresponsável, o jogo de interesses e o seu “aproveitamento”, oportunista ou ladrão -, se cingisse só aos incêndios - que cobrem tudo dum negro que se nos espeta na vista, descendo ao coração chorando -, isso seria um mal menor ainda, de solução bem possível, assim houvesse vontade.
Mas o pior de tudo, e esse é o mal maior, é que esse cinismo oportunista se tornou táctica política, contaminando largos sectores sociais, principalmente aqueles que mais resistem à desumanização tecnocrática crescente, ou que estão mais fragilizados. E essa táctica política tornou-se agora incendiária, perseguindo uma política estúpida de terra queimada e anárquica.
Há exemplos concretos disso na área da Justiça, na área da Saúde e, muito principalmente, na área da Educação.
3.
O Primeiro-Ministro quis sempre dar de si uma imagem de determinação. Construíram-lhe essa imagem com recursos que nós pagamos. Disseram-lhe que decidir era importante – como, porquê, para quê e com que consequências, isso pouco importava, pelo que ele não tinha que justificar nada. Enredou-se em decisões sem fundamentos sinceros, que tivessem validade, num voluntarismo tonto de mostrar que decidia contra tudo e contra todos, que isso é que era ser
determinado, decidido, corajoso. Que isso é que dava a entender que ele sabia o que queria, que ele sabia para onde ia.
Foi obrigado a recuar. Foi obrigado a dar o dito por não dito. Não de uma forma digna e justificável, mas de uma forma arrogante e autoritária, demonstrando insegurança, desnorte, casuismo e oportunismo. E logo as suas luminárias patetóides, acharam que isso não podia ser. E deram-lhe o sábio conselho de reforçar, de forma irracional, a trincheira do ataque descabelado ao sector da Educação, só para salvaguardar a imagem de barro do homem decidido, que não é, e que sabe para onde vai, embora quanto mais avança, mais se veja que não sabe.
E foi assim que ele ensaiou frases e meias frases para dizer na televisão, mas tão desastradas foram que logo todo o mundo viu que ele não sabia daquilo que debitava numa repetição confrangedora: aulas de substituição, Inglês, mais tempo nas escolas, mais tempo nas escolas, Inglês, aulas de substituição, aulas de substituição, aulas de substituição, avaliação, avaliação, avaliação. E mais nunca disse.
Foi então que recebeu pronto o apoio descarado e poderoso das agências mediáticas que controla, ou por cujos interesses vela, e que lhe fizeram o favor, não só para o defender, mas também para intoxicar a opinião pública contra os docentes.
Foi programa atrás de programa, entrevista atrás de entrevista, comentador interesseiro, oficial ou oficioso, atrás de comentador. Uns distorceram as causas da indignação dos professores; outros, insidiosos, lá iam deixando escapar frases subliminares, dando sempre a entender que os professores eram preguiçosos, que o insucesso era só culpa deles, que estavam mal preparados, que temiam a avaliação.
Todos eles, em uníssono, tentavam desmobilizar a manifestação de 8 de Março. Saiu-lhes pela culatra o tiro. A sua desfaçatez mercenária incendiou ainda mais os ânimos dos professores indignados. E estiveram em Lisboa 100 mil.
4.
Havia que fazer esquecer as imagens dessa imponente manifestação que irá fazer história. E então lá vem o comício nacional do PS. Poderia até já estar programado. Mas, objectivamente, e como foi reconhecido, esse comício foi feito, para se conseguirem umas imagens apertadinhas, num espaço pequenino, que ocupassem o espaço mediático, tentando “tapar” as imagens da manifestação dos professores.
Não faltou nesse comício aquela senhora, em forma de múmia, que foi ministra da Educação, que recebeu umas palminhas de desagravo, mas não abriu a boquinha, pequenina, coitadinha, como diria o Garrett.
E na encenação daquele ajuntamento socialista não faltou aquele truque, tão velho que já tem barbas, de escolher sala pequena para que as pessoas não coubessem, ficando algumas na rua, para a comunicação social amiga dizer que eram tantas, tantas, tantas que nem cabiam no lugar tão vasto.
Mas o melhor de tudo, foi, terminada a “missa”, ver o Sócrates sair para a rua, de peito feito e destemido, descendo a rua em direcção ao local onde tinham estado de luto alguns professores muito dignos, a ver se recebia a esmola de receber um insulto. Um estalo na cara, então, é que vinha mesmo a calhar, para se fazer de vítima. Ele pensa que os professores são como ele. Não teve a sorte que queria.
5.
Depois daquela manifestação, que foi todo país em Lisboa, e Lisboa em todo o país, começaram a falar mais alto os comentários politicamente correctos dizendo que agora o Sócrates é que não podia recuar, e tinha que manter a ministra. É um critério tido por sério. Mas que no meu entender é mesquinho.
Para manter a ministra, embora ela seja um peso morto, continua a valer tudo. Até mesmo a mentira. Mesmo as provocações. Rápidos, fizeram cedências para enganar o país. Chamaram-lhe “flexibilidade”, chamaram-lhe “simplificação”. Eles até cediam a tudo, desde que os professores se calassem e deixassem que eles dissessem que não tinha havido recuo. Mas os professores não são hipócritas. E, ao contrário deles, levam a educação a sério. Não caíram nem vão cair numa armadilha tão sonsa.
Eles dizem que vão continuar com esta pseudo-reforma. Na verdade não é reforma: é um ataque cerrado a dignidade dos professores, é uma tentativa de continuar a humilhá-los. Na sua teimosia egoísta e estúpida, querem destruir a Educação, incendiando tudo à passagem, num atentado à democracia, num atentado à inteligência.
E o que eles querem também é usar os professores como carne para canhão, pensando que isso lhes dará votos numas próximas eleições.
Por isso, em vez de paz, eles querem guerra. É isso que os leva a diabolizar os professores, denegrindo-os o mais possível.
Mas nós não vamos desistir. Ninguém abdica da sua dignidade. Muito menos os professores. É que, se o fizessem, estavam a abdicar também da dignidade e da qualidade do Ensino Público, da dignidade do país.
E isso, os professores não vão deixar.
Já se ouvem os sinos tocando a rebate. O povo acorrerá para apagar o incêndio, ateado pela irresponsabilidade, pela irracionalidade, pela incúria, pelo jogo de interesses, pelo jogo eleitoral, para queimar a educação.
E mesmo que o povo não acorra, os professores vão acorrer sempre.
Eles já andam de luto.
Mas esse luto encerra em si a esperança da ressurreição.

domingo, 16 de março de 2008

A justiça também causa dor*

Ora viva, Senhor Tempo!
Confesso que já tinha alguma saudade de textos como O pisco e o cuco. (No TempoBreve)
É que só a palavra "luta" já me assusta. Não que a vossa não seja justa, mas a justiça, às vezes, também causa dor. E é precisamente isso que me atormenta.
Bem sei que agora dor só tem quem quer, porque há remédios para isso. Mas também há "maleitas" que nenhuma droga cura. Bem, não quero divagar - por isso é que ainda não sou mãe - mas cá da minha cova vou observando o que se passa.
Sabe uma coisa? Como tenho muito tempo para pensar e o silêncio a isso me ajuda, receio estar a ver-vos, daqui a algum tempo, com uma frustração enorme, do tamanho da vossa esperança. É que há muitos que agora estão convosco, mas não tarda nada vão mudar de barricada: basta que lhes mostrem uma cenoura! E há tantos "artistas" já a mostrar "cenouras". Não viu o que se passou no Porto? O que hoje é verdade incontornável, amanhã vai parecer apenas uma metáfora, e, depois.
Bem, pareço quase uma velha, o que não é metáfora, felizmente. Mas cá da minha cova tenho visto já tanta coisa... Por isso lhes desejo muita sorte, mas tenham cuidado com os que andam por aí disfarçados de cordeiros. Como estamos no período pascal (...),aproveitem-nos para o sacrifício...
Tenha um MUITO BOM DIA.

Cova da Moura
16 de Março de 2008
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Nota: Comentário enviado pela Cova da Moura, a quem quero agradecer aqui. Deixei-lhe um comentário meu no TempoBreve, pois foi lá que ela deixou este texto simpático.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Os alunos já perceberam

Continuaremos a lutar mesmo que muitas vezes as desilusões se abatam sobre nós. Esta batalha não está perdida, mas, mesmo que eles ganhem a luta, nós ganharemos a guerra. Mas eles não nos conseguirão vencer, nunca em tempo algum, porque o coração dos que estão a lutar por um sistema Educativo decente bate em uníssono. Nunca professores e alunos estiveram tão unidos numa luta ( pelo menos eu sinto isso ), e assim continuaremos.
Se possível, quando estiver a ser organizada alguma espécie de reivindicação, informe-me. Terei muito gosto em participar.
Um abraço.

Carpe Diem
........................
Nota: Mais um apoio. Quase de certeza de um aluno. Temos de cuidar deles. Temos que os resguardar. Não nos podemos "aproveitar" deles. Nem queremos. Mas sente-se nas escolas que eles começam a informar-se e a interrogar-se acerca da nossa luta. E já a apreciam. E gostam de saber que o "seu" professor se interessa, se importa, dá a cara e luta, e que essa luta é também por eles. Eles já perceberam, porque andam na escola. Perceberam primeiro que os pais deles, porque conhecem os professores. E temos que cuidar deles, neste ano conturbado. Temos que lhes dar confiança. Esperança. Segurança. A nossa luta é por nós. Mas é por nós porque é por eles.

Professores: estamos convosco!

Viva, Sr. Tempo!

Finalmente veio até nós! Já estávamos a roer-lhe na(s) pele(s) por estar a lutar, a lutar pela dignidade (que vo-la querem tirar a vós, professores, e pessoas que são), o que nos fez reunir extraordinariamente nas suas vinhas nestes dias que esperam Primavera, sem demora.
Estamos atentos e também queremos ajudar. Vamos cantar e oferecer perfume(s) a todos os que se mostrarem cansados pelo caminho: caminho que se faz também com (o) sonho e a fantasia.
E esses não morrem. Esses é que nos fazem mover.Esses é que nos fazem lutar.
Força, amigo(s)!
Olhem que estamos convosco!


Violeta*
.............
*Este texto foi-me enviado pela Violeta, na forma de um comentário; não conheço a Violeta, e esse nome deve ser pseudónimo, o que, no caso, não tira nem põe; compreende-se o primeiro parágrafo se lhes disser que a Violeta e muitas outras pessoas estavam habituadas a encontrar aqui outro tipo de textos; não as abandonei; mas tive que me dedicar a outros combates; e continuo; os apoios vindos de quem não é professor são muito importantes; obrigado, Violeta.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Eu vou estar ao vosso lado

Fizeram-me chegar o testemunho que uma jovem escreveu no seu blogue. Chama-se Marta Castanheira, mas não me mandaram o nome do seu blogue. Sei que é de Braga, filha de colegas meus. E desde já lhe agradeço o texto que escreveu. Ei-lo!

"Sou filha de professores, afilhada de professores, amiga de professores, aluna de professores. Professores BONS!
Como a minha, muitas vozes ficam por ouvir. Não tenho qualquer base científica para me pôr para aqui a falar de “as avaliações isto”, “as avaliações aquilo". Mas, não tendo base científica, tenho o testemunho de uma vida!
Não vou tentar remar contra aqueles que desconhecem a realidade da vida de um professor. Eu conheço-a e bem. E cheia de bons exemplos. Deixo apenas a minha indignação.
E aos MEUS professores quero dizer que parem um segundo. Olhem à vossa volta!Para além do mundo escola, há muito mais: há filhos crescidos, com um futuro promissor; há netinhos que vos enchem o coração; há viagens e almoços de Domingo; há música. E, acima de tudo, há um sem número de alunos que com a maturidade certa vos reconhecem. E lembrem-se disto sempre na luta que travam. Lembrem-se disto, que isto ajuda.
Nós ajudamos, como podemos. Ajudamos a defender-vos porque sabemos o que vocês valem. E vocês devem ter sempre presente o valor que sabem que têm. E devem orgulhar-se dos vossos anos de carreira, de que nós, filhos, muito nos orgulhamos também.
Sei que é difícil, com tantas convicções abaladas. Mas tentem. Tentem por vocês. Tentem por nós. Embora mesmo crescidos, vamos precisar SEMPRE do vosso exemplo. É o que estais a fazer agora. Vamos precisar sempre de vós.
Mamã, Papá, Madrinha, Padrinho, Ana “da Martinha” e minha também, meus professores: não duvidem. Lutem. Como sempre lutaram pelo que é justo. E é JUSTO que sintam o que sentem. Mas sei que mesmo abalados, vocês não se vão deixar abater. E eu vou estar ao vosso lado."

Publicada no blogue de origem na Sexta-feira, Março 07, 2008

CONCENTRAÇÃO NO PORTO, DIA 15 (?)

Recebi o mail, que abaixo se transcreve - convocando uma concentração de professores - e que me foi enviado enviado por diversas pessoas. Recebi outros de teor idêntico, embora com outros articulados. Recebi ainda outros, simplesmente a dizerem que era preciso e urgente fazer qualquer coisa, para que não se alimentem sentimentos de desesperança e de isolamento. Recebi telefonemas e fui abordado directamente por colegas no mesmo sentido. Ontem, uma colega entregou-me, revoltada e a chorar uma fotocópia toda amarrotada com aquele escrito do Emídio Rangel.
O meu blogue é muito humilde e pequenino. A proposta que o mail contém tem tanto de óptima como de riscos. Por isso, eu não quis avançar com ela sem ter a certeza que a notícia estava ter ampla divulgação. Consultei várias pessoas. Consultei vários blogues. Agora vejo que essa proposta foi publicada por Paulo Guinote, no seu "A Educação do Meu Umbigo" - "educar.worpress.com", e a quem manifesto o meu reconhecimento.
Agora, esta proposta ganhou definitivamente uma outra dimensão. Não é fácil de concretizar, e exige muito cuidado da nossa parte. Mas quem é que disse que foi fácil fazer as manifestações que fizemos, cidade a cidade, e depois aquela manifestação majestosa em Lisboa? Quem é que acreditava naquela capacidade de luta e de unidade aqui há um mês atrás?
Cá para mim, esta proposta deve ser tomada muito a sério. E deve ser divulgada por tudo quanto é mail, por tudo quanto é blogue, boca a boca, telefone e SMS. É preciso estar a postos para, se ela avançar, estarmos todos preparados. O tempo de decisão não é muito. Cá por mim, deveríamos avançar. Com TODA a dignidade.
Aqui fica a tal proposta, que transcrevo, com a devida vénia de "A Educação do Meu Umbigo". Também transcrevo, logo a seguir, as observações que o Paulo Guinote faz, e que também devem ser lidas com muita calma e muito a sério. Dêem as vossas opiniões. Mas, caso concordem, o mais importante é cuidar da sua divulgação. Aqui vai, pois.


CONCENTRAÇÃO NO PORTO, SÁBADO, DIA 15


“O comício nacional do PS marcado para o dia 15 de Março no Porto, que levará José Sócrates ao reencontro com as bases, foi transferido da Praça de D. João I para o Pavilhão do Académico, uma mudança que “protegerá” o líder socialista de qualquer imprevisto vindo da rua.” (Público, 06.03.08)

Convocam-se todos os professores para estarem presentes à porta do Pavilhão, não para “atacar” sua excelência, que os professores não são arruaceiros!

Vamos dar-lhes mostras da nossa DIGNIDADE mas IRREDUTIBILIDADE… todos de NEGRO e em SILÊNCIO!!!!.. os cartazes dirão o que se tiver a dizer!…. e os meios de comunicação serão a nossa voz!!!!

Acima de tudo, tem de se mostrar que os vilões são eles!!!!!!!!!!!!
REENVIA PARA TODOS OS TEUS CONTACTOS!!!!!

OS PAIS E ALUNOS TAMBÉM SÃO BEM-VINDOS!!!!!!!!!

Observações de Paulo Guinote:

Em off, este mail tem sido objecto de discussão entre vários colegas, assim como a iniciativa proposta, que os proponentes pedem para divulgar.

Confesso que a coisa me provoca sentimentos mistos.

. Por um lado, seria uma forma de manter a manifestação do desagrado bem presente, em especial para a opinião pública, pois Sócrates, o PS e o ME sabem bem que foram da manifestação de sábado ficaram muitos outros professores que não puderam ou não quiseram ir, embora estivessem solidários com os presentes.

. Por outro, acho que se for mal conduzida, esta forma de manifestação do desagrado, pode dar a Sócrates uma hipótese para se vitimizar e apontar a outrém perturbações que só ele causou. Além disso, a manifestação de dia 8 correu com toda a normalidade e civismo, sem contra-manifestações de qualquer tipo.

Por isso mesmo, e caso a iniciativa avance, que seja estritamente nos moldes apresentados, sem arruaça, sem palavras de ordem, sem ruído que justifique qualquer tipo e sem declarações à comunicação social que fujam ao tom certo. E que não justifiquem que o PM apresente aquele cenho franzido e encrespado que ele toma por manifestação de «determinação reformista» e «coragem política».

De qualquer modo, a verdade é que a iniciativa do PS no Porto já caiu no anedotário político e quem a concebeu deveria ser sumariamente despedido do cargo por manifesta inépcia política.

Por isso, também não seria de desprezar a hipótese de mostrar até que ponto Sócrates está reduzido a comícios de desagravo em pavilhão com capacidade bem limitada.

terça-feira, 11 de março de 2008

Os sindicatos não podem vergar

Quando o Norte entrou na praça, rouco de tanto cantar e gritar, o Mário Nogueira estava a acabar seu discurso. Pelos vistos era já o segundo. Ouvi-o ainda a afirmar que com esta equipa ministerial já não era possível negociar. Que as negociações teriam de ser já com outros.
Hoje já reuniu com o recém “flexível” secretário de Estado, Jorge Pedreira. Pelos vistos ficou contente. Ficaram ambos contentes.
Não quero dizer mais nada. Espero que Mário Nogueira nos dê as boas notícias do seu contentamente. Só que já vi muitas coisas. Por isso, o meu esperar será um esperar ansioso. Um esperar preocupado.
Precisamos dos sindicatos. Mas os sindicatos devem saber por que é que fomos todos com eles.Não vou aceitar uns “troquinhos” ridículos a fingir democracia, a fingir flexibilidade, a fingir “vitoriazinhas”, ora dum lado ora doutro.
Um outro modelo de avaliação poderá ser testado. Este, não. A não ser que o mudem tanto, que ele não pareça ele.E também estou preocupado porque não ouço ninguém a falar do concurso para titulares. E não haverá reforma que possa cavalgar por cima de tal monstruosidade.
Isto não são divergências na luta. Isto são preocupações.
Há que manter a pressão sobre o governo. Há que estar atento a tudo o que se passar.
Os sindicatos não podem aceitar um qualquer experimentalismo com este modelo. Isso seria consumar o facto. E nós não vamos aceitar isso. Os sindicatos não podem vergar. Os sindicatos não se podem abaixar, e vocês sabem bem por quê.
Nós estamos todos com eles, em estando eles connosco. Em estando eles connosco. Em estando eles connosco.
Lembram-se das palavras de ordem? Eu lembro.
Está nas nossas mãos.
Está nas vossas mãos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Notícia da Agência Lusa: a luta continua.

NOTA INTRODUTÓRIA:

Hoje, ao longo do dia, fui contactado por vários colegas de várias escolas de todas as zonas do país. Como não me conhecem, telefonavam para a minha escola - D. Maria II -, perguntando por mim. No essencial, todos queriam congratular a minha escola e, nomeadamente, o Departamento de Línguas e Literaturas, pela posição assumida em reunião recente, posição essa que, para meu espanto, tem sido sistematicamente distribuída por todo o país, via e-mail, e por reprodução nos mais variados blogues sobre Educação. Um professor duma escola de Viseu fez questão de me informar que na sua escola o documento foi fotocopiado e distribuído a todos os docentes.
Fui também contactado por uma jornalista da Agência Lusa para recolher mais informações sobre o documento. O texto que se segue foi-me enviado pela Regina. Não sei se a Regina é a própria jornalista que me contactou via telefone, ou se é alguma colega que teve acesso a esta notícia e teve a amabilidade de ma enviar.
É uma notícia deveras interessante. Reproduzo-a, na íntegra. Leiam-na e divulguem-na.
Não podemos parar. A luta continua.
Não se enervem com os Tavares nem com outros avatares rangedores. Não nos metem medo. Falam do que não sabem. Mas nós sabemos. Não lhes temos medo.

regina disse...

Notícia interessante

Lisboa, 10 Mar (Lusa) - A maioria dos estabelecimentos de ensino pediu o adiamento do processo de avaliação dos professores, alegando "grandes dificuldades" na sua aplicação este ano lectivo, revelou à Lusa o presidente do Conselho das Escolas (CE)."
A maior parte das escolas afirma não estar em condições de avançar e, por isso, solicita que a aplicação do processo arranque apenas em 2008/09", afirmou Álvaro Almeida dos Santos. Segundo o responsável deste órgão consultivo do Ministério da Educação (ME), as "grandes dificuldades" sentidas pelas escolas e invocadas para justificar o pedido de adiamento prendem-se com "a falta de maturação dos instrumentos, a ausência de recomendações específicas do
Conselho Científico [para a Avaliação de Professores] e a complexidade de todo o processo". Os problemas reportados levaram o CE a requerer à tutela uma reunião extraordinária, a realizar quarta-feira, na qual vai salientar "a necessidade de serem dadas condições para o desenvolvimento mais eficaz da avaliação".

Em declarações à Lusa, também Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), garantiu que "a grande maioria das escolas não está a avançar com o processo". "Umas nunca chegaram a iniciá-lo, outras decidiram suspendê-lo. É totalmente residual o número de escolas que aprovou os procedimentos de avaliação e que está a avançar. Se forem 20 a nível nacional, já será um número por cima", assegurou.

Num documento aprovado por unanimidade na semana passada e dirigido à ministra da Educação, o agrupamento de escolas da Pontinha, por exemplo, manifesta "a sua apreensão relativamente ao cumprimento dos procedimentos estabelecidos no decreto" que regulamenta a avaliação de desempenho, considerando que este processo "não é compatível com tempos escassos e orientações genéricas"."Concentrando-se todo o processo de avaliação no 3º período, ele gerará uma turbulência e desorientação na vida das escolas que em nada beneficiará a melhoria dos resultados escolares e a qualidade das aprendizagens dos alunos", refere o documento, assinado pelos conselhos executivo e pedagógico deste estabelecimento e já enviado ao ME.Neste sentido, o agrupamento de escolas da Pontinha propõe "que seja adiado o processo de avaliação de desempenho do pessoal docente, entretanto iniciado, para momento posterior ao da publicação de todos os documentos, regras e normas legais", pedindo ainda que seja concedido um "período de tempo mínimo" para a adequação e actualização dos instrumentos de regulação internos.

Idêntico pedido deverá ser aprovado esta semana pela escola secundária da Gafanha da Nazaré, depois de o conselho executivo ter admitido "muitas dificuldades" em implementar o processo."Hoje de manhã, numa reunião informal, houve uma manifestação pública por parte dos docentes relativamente à necessidade de suspender a avaliação este ano lectivo, já que neste momento é totalmente inviável prosseguir o processo. Deverá ser aprovada uma deliberação nesse sentido, na próxima reunião do conselho pedagógico", disse à Lusa Vítor Januário, professor de Português naquela escola.

Já na básica do 2º e 3º ciclos da mesma cidade, a presidente do conselho executivo admite que tudo está a andar "muito devagar", não tendo sido ainda aprovados os instrumentos de registo e indicadores de medida."Não estamos a fazer muito para que o processo avance. Tenho esperança que venham outras directrizes ou uma tomada de posição do primeiro-ministro. Alguma coisa deve estar para mudar depois da manifestação", afirmou Ana Seabra.

Os problemas relacionados com esta matéria estão igualmente a ser sentidos na secundária D. Maria II, em Braga. Numa reunião realizada na passada quarta-feira, os professores do departamento de Línguas pedem a suspensão "imediata de toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação". No documento, já subscrito por 55 docentes da escola, cerca de 60 por cento do total, os professores alegam, nomeadamente, que o modelo de avaliação é "tecnicamente medíocre", contém "critérios subjectivos" e permite que os avaliadores sejam menos qualificados do que os avaliados, na sequência das "injustiças" verificadas no concurso para titular.

A Lusa tentou contactar o ME, o que não foi possível até ao momento.

JPB/MLS.Lusa/Fim
10 de Março de 2008 19:51

domingo, 9 de março de 2008

Mandaretes de proveta, a nós não nos metem medo

Tentarei publicar logo que possível algumas fotografias da manisfestação de ontem. Talvez o consiga ainda hoje.
Quero agradecer às colegas e aos colegas que me adoptaram, já que o pessoal da minha escola andou todo o tempo tresmalhado. Foi um prazer rever uns, e conhecer outros.
.....
Riam-se de algumas imagens e de alguns comentários que às vezes passam na televião. Mas riam-se mesmo. É mesmo para rir. E, neste momento, rir um pouco faz muito bem.
.....
Ontem fizemos história na maior manifestação de sempre. Mas temos que continuar unidos. Cada vez mais. A manifestação foi um espectáculo de emoção transbordante. De emoção e de razão. Mas a luta continua. Não vamos vergar agora.
Mas nós somos lá gente de vergar?
.....
Atenção a todas as novas formas que vão sendo sugeridas para manifestarmos unidade, solidariedade e descontentamento.
Façamos tudo, mas mesmo tudo, pela nossa dignidade. Lutemos pela qualidade de um Ensino Público a sério, que tenha um sucesso a sério, e não um sucesso estatístico, humilhante para os alunos, para os pais desses alunos, para a escola e professores, e para todo o país.
Não nos deixemos humilhar. Não permitamos que "mandaretes" de proveta ousem sequer pensar que nos poderão calcar. Eles andam por aí. Mas nós não lhes temos medo.
.....
Atenção a todas as novas formas que vão sendo sugeridas para manifestarmos unidade, solidariedade e descontentamento. Às vezes as formas mais simples e mais simbólicas são mesmo as mais eficazes.
Se amanhã passarem por mim, e eu estiver de preto, e isso é apenas para eu me lembrar, e a todos os que me virem, que a Educação no meu país está em coma e está de luto.
.....
Um abraço e até sempre.

sexta-feira, 7 de março de 2008

De pé e em frente, que o homem que sonha, não verga a cerviz

Porque os outros se mascaram mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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“Há homens que obrigam todos os outros a reverem-se por dentro”
“Todos somos chamados na vida a desempenhar um grande papel”.

Luís de Sttau Monteiro

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É tradição
Os homens lutarem
É tradição
O Homem crescer
Na raiz do sangue dos homens que lutam
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

Por isso façamos
Recolhas urgentes
De vozes cansadas

E terminais
E computadores
Miríades deles
Para com eles cobrirmos a terra
Em acordes que cantam canções verticais

É tradição
Os homens lutarem
É tradição
Os homens sonharem
E haver sempre alguém
Que não verga a cerviz

E renegado seja
Sete vezes seja
Quem quebrar um til
Da tradição que diz:

- O homem que sonha
Não verga a cerviz

quarta-feira, 5 de março de 2008

Assumir responsabilidades

Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor. Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra, e em itálico.

. Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas: professores titulares e não titulares;
. Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;
.Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;
. Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;
. Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;
. Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;
. Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;
. Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo;
. Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;
. Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;
. Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;
. Mais consideram que:
. Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;
. Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.

Notas:

1 – Dos 22 professores presentes, 21 votaram favoravelmente e 1 votou contra:
2 – Para além de darem conhecimento imediato deste documento aos órgãos, ainda democráticos, da escola, os professores decidiram dá-lo a conhecer a todos os colegas da escola;
3 – Decidiram também dar ao documento a maior divulgação pública possível, e enviá-lo directamente para outras escolas e colegas de outras escolas;
4 – Pede-se a todos os professores que nos ajudem na divulgação deste documento, e que o tomem como incentivo e apoio para outras tomadas de posição;
5 – Este documento ficou, obviamente, registado em acta, para que a senhora ministra não continue a dizer que nas escolas está tudo calmo, e que só se protesta na rua;
6 – A introdução e as notas são da minha exclusiva responsabilidade;
7 – Tomo a liberdade de agradecer com prazer aos professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga, e principalmente às mulheres, as mais aguerridas, pelas posições firmes que têm assumido, e por rejeitarem qualquer outro lugar que não seja a linha da frente da luta pela dignidade docente. É um orgulho estar entre vós.

Responsabilizar os órgãos democráticos das escolas

Acabo de sair duma reunião de Departamento onde foi aprovado um documento que publicarei aqui depois de jantar. Diz respeito ao modelo de avaliação, exigindo a sua suspensão por parte dos Conselhos Executivos, por se considerar que eles não têm legitimidade democrática para o fazerem.
Espero que voltem para lê-lo.
E peço, principalmente aos que forem professores, que o divulguem.
Até já.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Acorramos a Lisboa, amigos, que matam os "mestres" sem por quê!!

1.
Têm-me chegado várias informações de que o texto "Braga saiu à rua e sorriu" - e que podem ver no TempoBreve -, está a correr o país via e-mail. Sei também que foi fotocopiado e está exposto em várias escola. Algum mérito ele terá.
Agradeço a todos os colegas a atenção que lhe têm dispensado, e os comentários que têm feito, quer no temporeve.blgspot.com, quer no educar.wordpress.com.
2.
Mais importante que isto, porém, é mantermo-nos atentos e mobilizados. Não devemos responder a provocações. E devemos responder à aos comentadores oficiais e oficiosos. Temos gente para isso. De sobra. Não vamos permitir que nos dividam por questões menores. Pelo menos neste momento. Há que continuar com modéstia, discrição e educação. Mas firmes.
3.
Lisboa é o nosso caminho. Temos que vencer essa batalha. A manifestação, aconteça o que acontecer daqui até lá para nos desmobilizar - e vai acontecer -, terá de ser só a maior de sempre. Ela vai ser decisiva para a nossa luta mais funda. O país terá os olhos postos nela par ver que tamanho tem, e para ver como corre. E os comentadores oficiais e oficiosos vão estar de lupa em riste a ver se encontram alguns argumentos manhosos. Não lhos podemos dar. Nem a eles, nem ao governo. Responder-lhes-emos taco a taco. Só queremos é oportunidade para isso. Nos debates. Mas, se não no-la derem, nós saberemos fazer-nos ouvir. Como até agora.
4.
A ministra já não o é. Mas vai lá ficar mais uns tempos. Por teimosia banal. Por táctica medíocre. Por causa daquela coisa de ter de se mostrar que não se demite ninguém sob a pressão da rua. Uma palermice. O que interessa é saber de que lado está a razão. E, evidentemente, ela está do nosso lado. Pode lá ficar, mas já não é ministra de nada. A luta vai continuar.
5.
Esses senhores ainda não pensaram que, no meio da confusão que criaram, os nossos alunos já estão a ser prejudicados. Este ano lectivo é um ano para esquecer. Mas a isto voltaremos.
Tentemos um último esforço para salvaguar a escola, a que é de vida - com alunos dignos e com professores dignos; oponhamo-nos tenazmente àquele simulacro de escola medíocre que nos querem impor, a que é da ministra e dos seus seguidores acríticos, fanáticos ou acéfalos - com alunos tratados como se fossem incapazes crónicos, e com professores amputados da dignidade da sua função.
6.
Foi uma satisfação ver bom ver a senhora ministra com os seus apoiantes: Valentim Loureiro e aquele senhor que fala em nome dos pais. Será que os pais vêem aquele senhor, ouvem aquilo que diz e não diz, e não coram de vergonha? Em nome de que pais é que ele fala? Não no-lo quererá ele mostrar, a nós, à ministra e ao país? Os pais, os que sabem o que se está a passar, já estão a pôr-se do nosso lado. Temos que chamar os outros, num esforço de explicação sempre redobrado.
Claro que o Valentim Loureiro é cínico e oportunista, e sabe que os louvores à ministra não o prejudicam a ele. A ministra, essa é que, coitada, não percebe nada. E, seja quem for que se apresse a apoiá-la, ela, acriticamente e sem pudor algum, tenta um sorriso em forma de esgar, e fica contente. Só falta mesmo à senhora ministra receber o apoio explícito e público, com fanfarra a preceito, da Excelentíssima Senhora D. Catarina Salgado, emérita representante do Turismo Cultural Nocturno.
7.
Organizem-se e inscrevam-se para a ida a Lisboa. Façam listas na escola. É mais cómodo e mais fácil. E continuem atentos a todos os contactos: blogues, SMS, E-mails.
Como disse acima, a manifestação do dia 8 de Março tem que ser a maior de sempre. Está em jogo muita coisa. Essa manifestação tem que ser uma amostra da nossa unidade e força. Só se o for é que nos dará a força necessária para continuar a luta em defesa de um Ensino Público de qualidade, e pela afirmação merecida e necessária do prestígio, qualidade e nobreza da função docente.
Acorramos aLisboa, amigos, que querem matar os "mestres" sem por quê!
Vemo-nos em Lisboa.
Até lá, um abraço.

domingo, 2 de março de 2008

Braga saiu à rua e sorriu / outros comentários

O texto Braga saiu à rua e sorriu, que deixei no TempoBreve, foi publicado na íntegra em educar.wordpress.com (A Educação do Meu Umbigo), ontem, dia 1 de Março.
Faço esta referência por causa dos comentários que lá lhe foram feitos, e que você pode ler, procurando - na margem direita do referido educar.wordpress.com -, em "Entradas mais populares" o título "Resistências colectivas - Um Emocionado Testemunho de Braga.