quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

As maçãs e o livro

Tenha um bom dia. E se cá veio e não viu nada, as minhas desculpas contentes: desculpas, por não lhe ter deixado nada novo para ler ou ver; contente, por você não ter visto o que muitos outros viram na simples fotografia do livro e das maçãs, que eu publiquei no Tempo.
Aquilo é uma inocência de fotógrafo desastrado. Desastrado e distraído. Aquilo são só maçãs, os frutos da macieira; aquilo são só páginas de livro, tão reais que até lhes diria nome e número. Mas não vai ser necessário, que você crê no que digo, é inocente como eu, e só vê o que lá está.
Não leia os comentários que alguém por lá deixou, incluindo os que eu escrevi. Aquilo pode lá ser?
Para que não restem dúvidas, e porque sou boa pessoa, quase tão como você, eu logo volto aqui, e conto-lhe como é que aquilo foi; como tudo aconteceu.
Não acredite nos outros: aqueles tais dos comentários.
:-)

domingo, 27 de janeiro de 2008

Onde está o seu sol, senhora ministra, que nunca lho vi?*

"Realmente a gente não se pode acanhar perante pessoazecas ou pessoazinhas tão pequeninas, que julgam guindar-se à altura, pisando aqueles que têm dignidade e orgulho de ensinar jovens a crescer.
A gente, realmente, não se pode acanhar, mas sim abrir a voz e soltar o que anda a moer a alma, coisa que essa gente não tem porque a venderam num leilão de coisas de nadas, vestidas de pó de coisa nenhuma.
A gente não se pode acanhar. A gente tem que se organizar e derrubar este arranhacéu de mentira onde querem encarcerar a nossa dignidade.
A gente não se pode acanhar e temos que ser voz e acto e rosto de se ver sem pseudónimos ou máscaras, quando se trata de coisas sérias.
Eu quero ser avaliada; eu quero ir-me embora com a certeza de que sou má com as novas exigências balofas de quem nos quer meter no jogo da mentira; eu quero que essa gente venha ver que me borrifo para a papelada e que na minha pessoa eu ainda mando, enquanto puder usar a voz para dizer aqui e onde me apetecer que eu sou uma professora de mão cheia, mesmo que os fantasmas da inquisição andem aí com medos anunciados.
Senhora Ministra, quando eu falo para os meus alunos, o meu rosto sente o calor do sol que me vem na alma e deixa que ele se espraie num rio de jovens que merecem ver o mar que leva a porto seguro.
Onde anda o seu sol, Senhora ministra, que nunca lho vi?"
...
* NOTAS:
1 - Texto integral de Isabel Fidalgo , autora do blogue frutosdemimemar, merecedor de uma visita, sobre este e outros assuntos; 2 -Este texto foi por ela deixado na forma de comentário em Professorzecos de imbecis putecos, que publiquei no Tempo (sexta-feira, dia 25); 3 - Publico aqui o texto da Isabel Fidalgo, dando-lhe a visibilidade que ele merece neste meu humilde lugar; 4 - Um obrigado à Isabel Fidalgo, esperando que ela não me leve a mal o facto de eu ter publicado aqui o seu texto na página principal.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Gentinha manhosa e má

Parece que não gostaram muito dos últimos textos aqui deixados. Terão as suas razões. Mas eu quero-lhes dizer que aquilo que aqui disse é mesmo o que eu lhes queira dizer.
A crítica é generalista, e pode até parecer vaga e fácil. Mas não é como parece. Essa gente é mesmo gentinha. Essa gente é mesmo má. E, pior que isso tudo, essa gentinha é assim, por falta de formação: de formação científica, de formação pedagógica, de formação política, de formação democrática, de formação - simplesmente formação, que é a formação mais humana.
Quanto àquela personagem que inventei, a que dei nome de Crates, já estou arrependido. É que aquele "S" final, dá-lhe certa dignidade, Por disso, de agora em diante, eu vou só chamar-lhe Crate, que ele não merece o "S". Não fiquem preocupados, que ele até vai gostar, pois foi ele que começou a tirar nomes do seu nome. Mas eu não sou o pai dele. Por isso pouco me importa. E cada um escolhe o que quer.
Esta mania de se omitir o que se acha que não fica tão bem, e acrescentar sempre mais do que aquilo que se tem, tem muito de infantil, tem muito de imaturidade, tem muito de irresponsabilidade, tem muito de insegurança, tem muito de incompetência. E é próprio das pessoas que têm essa mania disfarçarem tudo isso com tiques autoritários, de arrogância e de teimosia. São pessoas perigosas. Acham que a aparência é tudo. Não têm a formação que deviam. E por isso não toleram quem não se ajoelha ante eles. E tentam calar aqueles que dizem que o rei vai nu. Não porque temerem que mintam. Mas por saberem que vão nus, e quererem que ninguém veja.
Anda por aí uma outra personagem que é quase como o Crate. Também não tem a formação que devia para a exercer a função que tem, embora pense que tem, porque também tem diplomas. Ela não suporta aqueles que tenham uma formação melhor, e que vão sobrevivendo na coutada em que ela manda, e que pensa que é dela. Por isso tenta expulsá-los, por via da humilhação. Quer só ficar com aqueles que, por oportunismo canino, lhe abanam sempre o rabo, e que, alegremente e com ela, vão destruindo o direito e o dever de formarmos os jovens.
Ela e os seus seguidores nivelam tudo por baixo, pois que foram sempre rasos . Arranjaram diplomas, ora aqui e ora ali, ora assim e ora assado, pensando, por isso, que sabem. Mas como há quem saiba mesmo, e lhes aponte o dedo da sua irresponsabilidade, tentam tudo para os calar, tudo para os abafar, tudo para os expulsar, tudo para os enlouquecer, tudo para que desistam. Só querem mesmo é os rafeiros, que lhe abanam o rabo, e que acríticos salivam, sempre à espera de côdea.
Esta outra personagem casa bem com o senhor Crates, se ele fosse de casar. Só que ela é ainda mais tétrica. E, tal como o senhor Crate, também tem um problema que lhe anda apegado ao nome. São coisas tão naturais, estas coisas com os nomes, mas para quem é gentinha, são um problema dos diabos, difíceis de resolver.
Uma outra coisa os une, é que os inventei provincianos. Não por questões de província, - que da província somos todos, mesmo até os de Lisboa, embora estes não o saibam -, mas por questões de mentalidade, de horizontes muito curtos. É que o provincianismo hoje nada tem a ver com a terra donde se é, mas com a mentalidade que se tem.
Não sei bem explicar por quê, mas ao falar agora do Crate e desta outra personagem tétrica, lembrei-me, assim de repente, daquela fotografia do galo ou da galinha e do coelho ou da coelha. Vocês não se lembram dela? Será que são mesmo eles? Não! Não pode ser! Os animais não são gentinha! Muito menos gentinha rasca.
Mas por que razão fui lembrar-me daquela fotografia, que um dia eu pus aqui, já não me lembro bem quando, já não me lembro bem onde?
Será que você se lembra?

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Crates, atleta e salvador

O Tempo pôs-se para ali a barafustar, e vocês não gostam disso, que os governantes que temos, são os que merecemos, e são os que escolhemos, com uma inteligência rara, quase digna de deuses. Poderíamos dizer até, que o povo é quem manda, que o povo é quem ordena, que o povo é quem sabe, que o povo não se engana, nem pode nunca enganar-se.
Mas o Tempo é um hereje, é às vezes esquece esta coisa trivial que é a de que o povo, quando lhe dão um papelinho, para meter numa rachinha, no centro duma caixinha, fica transfigurado, torna-se consciente, torna-se sapiente, e escolhe sempre bem, e aguenta depois tudo, já que lhe ensinaram que é bom a imitar os sofrimentos calados daquele Job coitado, só para salvar o país.
E, c0mo vocês, uns optimistas que são, não gostam de ouvir o rezingão do Tempo, dizer mal injustamente dos governantes diligentes, que nos tratam da saúde a nós, e das contas bancárias dos seus, nós, as Peles - e até para arreliarmos o Tempo -, hoje só vamos dizer-lhes coisas simpáticas de ouvir, e até coisas optimistas e devotas, que é isso de que o povo gosta.
Limitamo-nos, aliás, a ser fiéis seguidores do nosso guru talentoso, que é o senhor Crates, atleta certificado. Na verdade, ele, que também é um vidente - embora não seja possível mostrar o certificado, porque a loja que lho deu, entretanto foi fechada -, já vai garantindo ao povo que o barco que dirige, já não se está a afundar , e até já está a emergir , e até a navegar, velas desfraldadas ao vento. O povo é que é estúpido, e não vê barco nenhum, porque o que sente e que sabe é que o barco está preso no pântano, e que se está a afundar. Mas o Crates é que sabe. E se ele diz que já estamos quase bem, é porque o bem está a chegar. Ele é um ilusionista. Quer ganhar as eleições. Tem que semear já ilusões, para nele o povo votar. E depois de votar que vá às urtigas.
Mas como lhes disse acima, só vou falar de coisas simpáticas, que há que ser irresponsável, e optimista palerma. Por isso vou crer na ilusão mentida do nosso guru atleta - que está a ser anunciada, e até muito comentada, por todos os comensais cráticos. Vou vestir-me de simpatias e de optimismos tolos. E nem sequer vou fazer referência irónica às feiras, apresar de hoje ser a terça. Mas farei isso mais logo.
Não levem muito a mal aquele fraqueza do Tempo em dizer mal dos valentes salvadores da pátria que nos estão a esfolar. Ele até já está todo muito arrependido!
Até logo e um abraço.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Um chocolate, sim?

Um bom dia. Passarei por cá mais logo para ver como estão. Vou de tarde a um sítio, e passo numa pastelaria, que é dum amigo meu. Pode ser que traga do chocolate que ele faz, e me oferece. E, se o trouxer, vou dar-lhe algum a si. Pouquinho, claro, que eu gosto muito, e a maior parte tem que ser para mim.
De que estava à espera? Que fosse simpático e lho désse todo?
Homessa!
:-)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A honra de sermos homens

A Cova da Moura é uma personagem cujo nome me intriga. Vem de vez em quando aqui, deixando alguns comentários que eu leio sempre simpáticos. Foi o que aconteceu no texto Ainda não sei quem sou, o último que eu deixei pendurado aqui nas Peles.
Escreve ela que ao ler esse texto se lembrou de Miguel Torga, especificando essa lembrança na forma de citação: …Puras miragens, puros impossíveis, / Um a um / Foram morrendo sem deixar ao menos / Traços visíveis / Da ilusão fugaz…/.
Afirma, logo a seguir, que eu aprecio o Torga. Ela adivinha, mas como o faz eu não sei. Tal como o Torga, eu observo a natureza e o humano, ambos num só irmanados, e natureza me sei, que é a única maneira que tenho de saber que sou humano. Mas isto é outra história.
Não obstante tudo isto, e ao contrário da citação, eu acho que somos feitos de miragens e de impossíveis que, mesmo um a um morrendo, vão esculpindo em nós os traços dessas ilusões fugazes. São traços, são cicatrizes, que temos porque sonhamos. E só sonha quem é homem.
Claro que o sonhador vai cair, claro que vai sofrer, claro que vai chorar, claro que não vai chegar aos píncaros daquele monte que tem os sonhos mais altos. Mas sabe que o destino do homem é subir, seguindo as centelhas divinas, que habitam dentro de si, e lhe apontam o caminho do bem, do belo e do amor, mesmo sabendo que nunca.
São traços, são cicatrizes, que temos porque sonhamos; e são símbolos dessa honra, que é a honra de sermos homens.
O Torga sabia disso, e sabia que as centelhas divinas estavam apenas na terra, na terra que era sagrada, e em que ele se fundia, estando nele também. Mas aquilo que ele buscava, não eram as simples centelhas que o faziam poeta, mas sim o fogo eterno, aquele fogo divino, aquele fogo sagrado que ele nunca encontrava em toda a plenitude. Por isso, às vezes dizia que vida não conduzia a nada, e nem sequer deixava traços dos sonhos que perseguia.
O Torga estava enganado. E sabia-o muito bem. Que o único fogo sagrado está escondido na terra, e em tudo que ela tem, incluindo a humanidade. Por isso ele a amava tanto, a escavava e a revolvia, até lhe sangrar a alma, buscando nela o fogo que sagrava a humanidade.
Ficaram-lhe cicatrizes. Porque foi homem e sonhou. E algum fogo deixou, alentando a humanidade.
Que estamos a fazer desse fogo? Por onde anda a humanidade?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Ainda não sei quem sou

Ando à procura de mim. Ainda não me encontrei. Ainda não sei quem sou.
Sei que já fui menino, sonhando o que ia ser. Sei que já fui D. Quixote, de lança em punho buscando mundos de sonhos a haver. Sei que já fui professor, lavrando campos agrestes, ameigando-lhes terra nova, e lançando-lhes às manadas, em momentos de raros lampejos, sementes de esperança e sonho, para delas nascerem homens. Sei que já fui tudo isso. Que fui e que ainda sou. Mas quem sou ainda não sei.
Inventei-me em histórias, de que eu fazia parte. Inventei histórias outras que a mim mesmo contava. Até inventei anedotas, sendo eu a anedota ou não, e que a mim próprio contei. Apareciam-me de repente, em qualquer hora e lugar, desde que eu estivesse só, namorando fantasias. Depois de me aparecerem, era só deixá-las correr, que elas sabiam o caminho.
Algumas eram tão ternas, e outras era tão amargas, que eu, fingindo arrogância, alçava os olhos ao longe, para que a água corresse dos olhos, sem qualquer impedimento, por baixo das lentes dos óculos, e fosse esconder-se nas barbas, aquecendo-me a pele da cara. Mas também me apareciam daquelas tão cheias de ironia e sarcasmo, ou de absurdo tamanho, que também me faziam chorar, mas de rir à gargalhada. Nunca as contei a ninguém. Mas também como podia?
Fui menino e professor, professor e D. Quixote, e fui também as histórias que a mim mesmo contei. Tudo isso ainda sou. Mas quem sou ainda não sei.
Talvez eu seja as palavras que alimentaram os enredos do menino D. Quixote, professor dum mundo novo, e das histórias que me contei. Mas se eu sou essas palavras, teria que ser todas as outras: todas as que eles não pensaram nem sentiram; todas as que eles não conheceram; todas as que não inventaram; todas as que eu não não senti nem pensei; todas as que eu não usei; todas as que eu não sei; todas as que eu não inventei.
Por isso, eu posso muito bem ser essas palavras todas. Mas quem sou ainda não sei, que não as conheço todas. E nem sequer sei combinar, com as poucas que eu conheço, a infinidade de sentidos que eu seu que elas têm.
Eu posso ser o menino, posso ser o D. Quixote, posso ser o professor, posso ser minhas histórias, posso ser todas as palavras, e sei que sou tudo isso, mas quem sou ainda não sei.
Ando à procura de mim. Ainda não me encontrei. Ainda não sei quem sou.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Recomendações e ameaças

1 - O texto "Se não vier é passarinha" sofreu algumas alterações desde a sua primeira publicação. Não são de grande monta, mas ficou mais claro, sendo o conteúdo muito idêntico. Pode voltar a lê-lo, que eu não lhe cobro a segunda leitura. Devem lê-lo principalmente as pessoas que deixaram comentário, uma vez que as alterações foram feitas depois dos primeiros terem sido escritos.

2 - Os desejos amáveis que deixei no Tempo valem por mais alguns dias. Por isso, cuidado, não vá você encher-se de bichezas. Deve levá-los em muita atenção, a não ser que queira passar uns tempos a coçar-se até ficar sem pêlo e sem pele.

3 - Esses mesmos desejos amáveis passam a aplicar-se também a quem vier para aqui fazer perguntas curiosas e comentários difíceis. Vocês sabem muito bem do que estou a falar. Não o digo explicitamente para não levantar a lebre. Fala uma pessoa numa coisa, quase sem querer, e nem pensando nela, e logo aparecem pessoas obsecadas por ela, querendo saber tudo, como se ela fosse o fruto que foi proibido, sabe-se lá por quê. E até nem é fruto. Pelo menos para quem não sabe.

4 - Hoje é terça-feira - um nome pouco inteligente! -, e é dia de Lua Nova. Alegre-se, pois, que o luar vai começar a crescer. E é boa altura para crescer coisas. Desde que boas. Também é dia propício a ventos e trovoadas. Cuide-se do vento, pois, principalmente se for mulher e andar de saia. Mas os homens também. Mas, caso aconteça alguma coisa, assobiem para o ar para que pensem que foi o vizinho do lado.

5 - Logo ainda venho aqui a ver como isto está.

:-)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Se não vier é passarinha

No último texto que escreveu, o Tempo pensa que não, mas confessou. Pôs-se a jogar com as palavras, mas não lhe adiantou nada. Ainda tentou o truque de dizer que foi o macaco, mas isso foi chão que deu uvas. No fim, diz mesmo que foi ele que o escreveu, mas que não foi ele, que foi um macaco. Um absurdo. Enfim, aquele velho truque de baralhar palavras, para confundir inocentes, não dizendo nada. Ora vejam só a indecência insultuosa daquele título: "Transparente como água turva". Ele pensa que são todos parvos, mas não são. Então a nós, às Peles, é que que ele não engana.
Nesse mesmo texto, também se vê bem o que menino Tempo anda a tentar pôr as Saias, umas doidivanas, contra nós, as Peles, baluartes que somos de seriedade e valor. É a velha táctica de dividir para reinar, como se porventura ele, o Tempo - que é de sangue deslavado e de cor vulgar - pudesse aspirar ao prestígio nobre que o nosso sangue tem.
Mas parece que ele, o Tempo, tem aliados para criar confusão entre nós, as Peles - mui dignas e nobres -, e as Saias, umas regateiras, sem brazão algum. Parece mesmo que ele tem aliança cúmplice com um ser ínfimo que se chama beija-flor - uma avezinha tão pequenininha, que nem nem se vê bem se é passarinho ou se é passarinha. Mas nós, Peles, nada coscuvilheiras, ainda havemos de tirar isso a limpo. E não nos admiraremos muito se for passarinha!
Então não é que essa coisinha, ave pequenina embrulhada em penas, escreveu um comentário, pretensamente simpático, dizendo que nos perdoava a todos: a nós, nobres e senhoras D. Peles; ao Tempo, um casmurro, com um pretenso título de nobreza baixa e rasca, comprado em leilão, de feira e de velharias; às Saias, enfim, umas descaradas, sempre a prometer o que só nós podemos, e que elas não têm? Ao juntar-nos a todos, seres tão distintos, num mesmo saco de rasteira igualdade, essa avezinha, irrequieta e esperta, ofendeu gravemente a nossa nobreza de Peles.
Como castigo por ofensa tão grave, nós, as Peles, com o poder divino que nos foi conferido, ordenamos a essa ave, esquiva e minúscula, que venha já, aqui e agora, mostrar-nos se é passarinho ou se é passarinha; e mostrar-nos bem qual a proporção que ostenta entre pele e penas; e mostrar-nos claramente como se lhe alongam as patas, da ponta dos pés à junção no corpo; e como se lhe agita a cauda, lhe ondula o peito, e saboreia o néctar, quando numa flor vai roçagando o bico.
Se ela não vier mostrar, a ave beija-flor, ficamos a saber que ela é passarinha, vestida de saia, com que o tempo brinca.
:-)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Um embusteiro

Nós, as Peles, somos bem-educadas. As Saias também, embora não tanto. Por isso, vimos nós, as Peles, em nome nosso, e das Saias também - já que alguém, levianamente, nos associou a elas -, pedir-lhe desculpa pela nossa ausência, e pela ausência delas, nestes últimos tempos. Sabemos nós, as Peles, que não lhe fizemos falta nenhuma a si. As Saias, essas, acham que fizeram – umas tontas. Mesmo assim, pedimos desculpa, como nos ensinaram. Por nós e por elas.
Desculpas pedidas, queremos dizer-lhe que estamos espantadas com a ousadia do Tempo; as Saias também estão, embora estas se espantem com pouco – até com o vento. Mas adiante, que nós, as Peles, não queremos discutir com elas, as Saias, que são regateiras, todas agitadas de anca a abanar. Voltemos ao Tempo.
Vocês viram aquele truque velho e relho a que deitou mão no último texto que escreveu lá naquela coisa dele? Perdeu-se nas festas e não foi visitar quem o visitava lá naquele tal sítio onde ele mora e que nós não dizemos. Em vez de pedir desculpa, como nós pedimos, não senhor, que não bebeu do mesmo leite que nós, e nos educou , e a ele não, pois está bem de ver. Vai então daí, e só para disfarçar, inventa aquela treta daquela personagem lamecha, fingindo, assim, que alguém lhe pede que volte, insinuando coisas de piedades. Toda a gente sabe que foi ele que escreveu aquilo, um embusteiro. Mas, para evitar pedir as devidas, finge que é outro alguém que está a escrever. E, como se tal trafulhice não bastasse, finge que esse outro alguém lhe sente a falta, está preocupado com - ou qualquer outra coisa igualmente piegas -, e lhe pede que venha, e até que escreva. Francamente! Quem é que se interessa pela sua escrita arranhada, ou que ele venha ou deixe de vir? Cá para nós, as Peles, melhor ele não escrevesse, melhor não viesse, que só nos atrapalha, e nos rouba tudo, o ladrão!
Nós, as Peles, não somos invejosas, nem maledicentes, nem de queixinhas, embora as Saias, porque são Saias, o sejam bem para além do que é aceitável. Mas tivemos que vir aqui por três imperiosas razões: para descobrir a careca àquele intrujão - não fosse alguém pensar inocente que fomos nós que escrevemos aquele lamentável texto pedinte, que ele próprio escreveu, fingindo que não; para o acusar a ele, bruto, por não nos ter deixado responder, ainda, aos comentários que apareceram simpáticos nos nossos textos distintos; para lamentarmos, com inteira razão, a grande injustiça sua, uma vez que você não ligou nada àquela pérola de texto que é “A porta dos deuses, e que nós escrevemos.
Você não imagina o que temos aturado e sofrido, principalmente por ninguém ter lido nem comentado “A porta dos deuses”. Ele, o senhor Tempo, um insensível, sempre que passa por nós, dá uma risada brava e escarninha, só para chamar assistência, e grita: - “A porta dos deuses” ! Ahahahah! Zero comentários! Ze-ro! Zee-ro! Zeee-ro!”A porta dos deusses” vale zero! Vós valeis zero!
Grita e repete esta maldade. E, enquanto a repete gritando, une o polegar ao indicador, desenhando um zero, batendo com a mão, nesta posição afrontosa, o ritmo do grito.
Ora veja lá se não é humilhante, se não é deprimente.
E a culpa é sua, sabia?
E as injustiças reparam-se, sabia?
Ai, q'ela!